quarta-feira

História da Vila e do Concelho de Cascais





por João Aníbal Henriques

Com uma vasta história repleta de pequenos incidentes, Cascais é uma vila com um ambiente que nos envolve desde o momento em que nela entramos.

De uma maneira geral, tanto para os que dela são naturais como para os que nela somente residem, Cascais apresenta-se com um enorme potencial atractivo, e embora o presente seja uma constante no quotidiano de cada um, também o passado nos espreita por cana “vinte passos” que nela damos.

Temos vindo a utilizar com relativa frequência o nome de Cascais, embora este nome seja efectivamente recente. O seu topónimo originário, segundo algumas teses, remonta provavelmente à época romana, tendo por base termos latinos como Cascales ou Cascanes. Desde as mais elaboradas até àquelas que se rodeiam de uma espessa auréola de melancolia, espelhando de sobremaneira a tradição popular, muitas tem sido apresentadas ao longo dos últimos séculos da nossa História.



A título de exemplo, e porque é de facto aquela que até há poucos anos traduzia a forma de pensar dos pescadores desta pequena vila, vamos transcrever a do Dr. Pedro Lourenço de Seixas Barruncho, que na sua obra “Villa e Concelho de Cascaes”, publicada no ano de 1873 nos explica a origem deste topónimo da seguinte maneira: “Da origem do seu nome lemos em Bluteau, que a villa de Cascaes principiara haveria duzentos anos; que os primeiros que a habitaram foram pescadores de redes, os quais para as lançarem ao mar primeiro as mascaravam com folhas de aroeira, que se punham em molhos em tinas ou talhas grandes onde metiam as redes. Que se fora povoando a villa cada vez mais, e assim também as tinas e talhas, a que os pescadores chamavam casqueiros, parecendo que d’ahi vinha, por corrupção de vocábulo, o nome de Cascaes, originado no costume de perguntar uns aos outros – encascaste já?”

No entanto, mais verosímil, concreta e digna de consenso entre a generalidade dos historiadores que se dedicam ao estudo deste nosso concelho, parece ser a tese segundo a qual o topónimo de Cascais resultaria da evolução concreta de uma expressão amplamente Portuguesa: Cascal, ou seja, um local coberto de cascas ou conchas de marisco. Assim, o mprimeiro nome desta bonita vila terá sido o de “Aldeia dos Cascais”, o qual, por simplificação, se transformou em Cascais.

Encontra-se actualmente comprovada a estada em Cascais de um aglomerado humano desde o aparecimento do Homem, no Paleolítico. Existem disso vestígios estudados no Guincho e no Alto do Estoril, onde apareceram calhau rolados e utensílios datados desta época. No entanto, mais interessantes são as necrópoles do Poço Velho, Alapraia e São Pedro do Estoril, de onde se retirou um importante espólio ao nível da cerâmica campaniforme.

Desde o Século II a.C. que Cascais se encontra ocupado pelos romanos, e existem actualmente muitos vestígios dessa ocupação espalhados por todo o território municipal de Cascais.



Ao contrário do que até aqui se pensava, também a ocupação Árabe teve a sua importância no devir Histórico do Concelho. Para além dos topónimos que traduzem essa permanência, como Alcabideche, Alvide ou Alcoitão, de entre outros, existem também, e actualmente ainda em estudo, um cemitério e alguns silos de armazenagem de grão em Alcabideche.

Durante a Época Medieval, já seria Cascais uma aldeia com alguns recursos humanos, coadjuvados, como não podia deixar de ser, por uma vasta rede de potencialidades económicas baseadas na prática da pesca e da caça especializada, principalmente do Açor.



O Século XVII vai ser também um dos períodos mais prósperos para a vida deste pequeno município, assistindo à publicação por Frei Nicolau de Oliveira de um elogio político com vista a trazer para Portugal a corte dos Filipes, no “Livro das Grandezas de Lisboa” de 1620.



A estada de vários dos nossos ilustres monarcas em Cascais encontra-se comprovada desde D. Afonso Henriques, que segundo reza a lenda, descansou e tomou o seu repasto matinal à sombra de uma centenária palmeira que ainda em meados do Século XX existia na travessa com o mesmo nome.

D. Dinis e D. José dirigiram-se também aos meandros deste pequeno povoado, com o intuito, segundo dizem as lendas, de se banharem nas águas medicinais que são características da Praia da Poça, em São João do Estoril, e as de Santo António, na quinta com o mesmo nome a que Fausto Cardoso de Figueiredo, no início do Século passado, transformou numa das mais ilustres estâncias balneares da Europa, só comparada em qualidade com a “Cote d’Azur” Francesa.

Daí em diante, resta-nos salientar o proeminente papel que cascais vai desempenhar, quando foi escolhida para albergar a Corte durante os meses do final do Verão e do Outono, assistindo-se nessa época à inauguração da iluminação pública a gás, do telefone, do telégrafo e do comboio.



Acontecimento importante foi também a inauguração da luz eléctrica, levada a cabo como presente de aniversário do Príncipe Real, e que marcou um ponto fulcral na História recente de Portugal.

Passados estes anos dourados da sua História, Cascais é hoje a vila pacata que conhecemos, e que de uma maneira ou de outra, fazendo jus à sua essência cosmopolita, continua a atrair a atenção da generalidade da população Portuguesa e de milhares de estrangeiros que, sempre que podem, a utilizam como destino privilegiado de férias ou residência fixa.