terça-feira

Carlos Antero Ferreira (1932-2017) - A Genialidade dos Afectos na Portugalidade



Com 84 anos e idade, faleceu esta semana uma figura ímpar da Portugalidade. Carlos Antero Ferreira, Arquitecto, Professor e Poeta, era Académico Honorário da Academia de Letras e Artes e desempenhava ilustremente funções como Presidente da Assembleia Geral desta instituição.

Na sua dimensão material, o Ser Humano vive constrangido pelo binómio espácio-temporal que determina a sua existência. O nascimento, a vida e a morte, num desígnio inexorável que traga todos da mesma maneira, caracterizam a existência do comum cidadão, cuja vida se esgota num determinado lugar e num determinado tempo.

Mas existem alguns que, pela genialidade da sua existência, conseguem transcender o espaço e o tempo, alcançado uma imortalidade que os perpetua na sociedade de forma transversal e que estende a sua influência ao longo das eras.

Foi o caso do Professor Arquitecto Carlos Antero Ferreira.

Num exercício permanente de genialidade, carregava consigo uma erudição sem limites. Mas, ao contrário do que acontece com outros, cuja soberba naturalmente se impõe pela grandiosidade do seu pensamento, impunha a sua existência num plano humanista que o colocava naturalmente ao nível da comunidade onde sempre foi tão importante. Sendo o primeiro pela dimensão e excelência do seu trabalho, partilhava naturalmente com os seus amigos e colegas a sublimidade de um artista que só a imensa maturidade do seu génio pode explicar, augurando uma sensibilidade única que transpirava no contacto pessoal, nos livros que escreveu, nas conferências que proferiu e nos imensos desafios profissionais que dele fizeram uma das grandes personalidades da cultura nacional.

Carlos Antero Ferreira, que foi Presidente do Centro Cultural de Belém, Presidente do Instituto Português do Património Cultural, Presidente da Academia Nacional das Belas Artes, Professor Catedrático e fundador da Faculdade de Arquitectura de Lisboa, Director da Sociedade de Geografia de Lisboa, Fundador da National Geographic Society e Senador da Universidade Técnica de Lisboa, de entre muitos outros cargos e funções de um currículo riquíssimo que demonstra o seu pragmatismo e capacidade de fazer, foi sobretudo um dos principais obreiros da Portugalidade, deixando um imenso vazio que dificilmente poderá voltar a encher-se.

Ávido de saber e de novos conhecimentos até ao final da sua vida, num exercício pleno do seu carácter de sábio maior que tão bem desempenhou, Antero Ferreira alcançou a sublimidade do seu génio através da poesia e das artes, nas quais se elevou a patamares de excelência inigualáveis, só possíveis pela humildade natural da sua sabedoria e pela permanente vontade de aprender com tudo e com todos.

Eterno na grandeza da sua obra e do seu génio, o Professor Antero Ferreira deixa atrás de si uma saudade que ilustra bem o pesar que a sua morte física representa para Portugal e para os Portugueses.