Cumprem-se por estes dias 50 anos
desde o falecimento, em Cascais, do Engenheiro Augusto Jayme Telles de Abreu
Nunes. Nascido no Funchal em 30 de Outubro de 1891, o Engenheiro Abreu Nunes é
hoje, por infelicidade dos tempos em que vivemos, figura quase desconhecida dos
Cascalenses. Mas do seu empenho na defesa de Cascais e da sua vida dedicada a
esta Nossa Terra, depende quase tudo o que o município é hoje.
A intervenção cívica de Abreu
Nunes começa logo depois da sua chegada a Cascais. Em 1934, quando Cascais se
preparava para enfrentar os desafios enormes que foram o resultado das
alterações provocadas no Mundo e na Europa pelas guerras mundiais, foi ele quem
esteve à frente do processo de criação da Comissão Administrativa da futura
Comissão de Propaganda de Cascais, organismo embrionário da futura Região de
Turismo do Estoril.
Na senda do trabalho realizado
por Fausto Cardoso de Figueiredo, mentor e principal impulsionador do primeiro
projecto turístico de Portugal – o Estoril -, Abreu Nunes cria em Cascais as
bases que hão-de servir para promover a região a nível internacional. Com uma
visão fora do seu tempo, aliando a capacidade de concretizar à noção exacta da importância
deste recanto no contexto da animosidade crescente que grassava no velho
continente, foi ele quem imaginou o Estoril como espaço privilegiado para
receber em imensos exílios dourados grande parte das principais figuras da
aristocracia mundial, reservando para o município Cascalense a honra de se ter
tornado num dos destinos turísticos de referência no contexto europeu.
À frente da Comissão de
Propaganda de Cascais, foi durante muitos anos responsável pelo programa de
festas na velha vila piscatória, elaborando um vasto conjunto de iniciativas que
desenvolviam a região fomentando a actividade económica e promovendo-a a nível
internacional. E, mais importante do que tudo o resto, organizou estes eventos
sempre com um cariz de intervenção social. De facto, dos bailes de Carnaval aos
concursos de montras e de flores, tudo o que acontecia na região tinha como objectivo
a angariação de fundos que serviam para apoiar as grandes obras de que Cascais
necessitava para apoiar os mais pobres. As escolas, os lares de idosos, o velho
hospital e a Praça de Touros, são somente alguns exemplos de equipamentos de
que Cascais foi dotado com verbas oriundas da animação organizada por Abreu
Nunes na comissão.
Foi também ele quem, em 1934,
esteve à frente da inédita organização do primeiro concurso hípico de Cascais,
no espaço onde mais tarde se haveria de construir o Hipódromo Municipal Manuel
Possolo, recriando assim uma das mais arreigadas tradições desta terra.
Mais tarde, em Janeiro de 1939, o
Engenheiro Abreu Nunes extingue a velha comissão e dá origem à nova Sociedade
Propaganda de Cascais, da qual será o primeiro presidente, entidade que promoverá
a construção da Maternidade de Cascais, do Clube Naval de Cascais, do novo
Hospital da Misericórdia, etc.
Reconhecendo a sua dedicação e a
capacidade de concretização demonstrada através das várias iniciativas que
desenvolveu, o Governo de Portugal convida-o para instituir e presidir à Junta
de Turismo da Costa do Sol. Nesse novo cargo, Abreu Nunes foi um dos pilares da
estratégia de promoção internacional da marca turística ‘Estoril’ que durante
100 anos será uma das mais pujantes e bem conseguidas operações turísticas de
Portugal.
A dinâmica da Junta de Turismo,
que utilizava as mais modernas técnicas de marketing daquela época, é um dos
traços da posição vanguardista de Abreu Nunes no Portugal de então. Os cartazes
de promoção do Estoril, impulsionadores de muito daquilo que virá a ser a
propaganda oficial de Portugal, traduzem bem o projecto que ele defendia para transformar
esta terra numa espécie de Côte d’Azur Portuguesa.
No dia 12 de Outubro de 1966, a
poucos dias de celebrar o seu 75º aniversário, o Engenheiro Abreu Nunes faleceu
na sua casa de Cascais, deixando um legado que mudou literalmente a face da sua
terra.
Cinquenta anos depois, vale a
pena relembrar este Cascalense, na certeza de que a aura de excelência que hoje
acompanha Cascais muito deve à sua capacidade de visão e ao mérito da sua
aposta na promoção fundamentada do seu (nosso) Estoril.