sexta-feira

O Segredo da Casa Real Inglesa em Cascais

por João Aníbal Henriques

Existem sempre ‘ses’ quando analisamos a História. Se tudo se tivesse passado de outra forma; se as decisões tivessem sido diferentes; se os acontecimentos se tivessem concretizado de outra maneira… tudo teria sido diferente.

Mas em Cascais, desde sempre palco privilegiado para a criação dos cenários que dão forma à História e ao Mundo, concentram-se grandes episódios que marcaram de forma decisiva os destinos da Europa e da própria humanidade.

Um dos mais desconhecidos, até pela susceptibilidade que lhe estava associada na época estranha em que aconteceu, aconteceu na Casa da família Espírito Santo, onde o cenário idílico em plena Enseada de Santa Marta enquadrou vários episódios rocambolescos que se tivessem ocorrido de outra forma teriam condicionado de sobremaneira a História do Mundo.



Durante a II Guerra Mundial, contrastando de forma aparente com a neutralidade assumida pelo Estado Português, Cascais e os Estoris foram palco de grandes movimentações nas áreas da espionagem e da contra-espionagem que alteraram de forma radical o rumo da guerra e, por consequência, o Mundo em que actualmente vivemos.

Em 1939, logo no início da guerra, chega ao Estoril o chefe SS Walter Schellenberg a quem a Gestapo havia incumbido com a muito difícil missão de dirigir os serviços secretos alemães no estrangeiro. No Estoril, para evitar percalços de maior com a presença do antigo Rei Inglês Eduardo VIII, que esteve alojado com a sua mulher na casa do banqueiro Ricardo Espírito Santo (que o MI16 registou como sendo agente alemão) junto à Boca do Inferno, em Cascais, o plano era de raptar os Duques de Windsor e de os remeter para um outro país onde a presença dos serviços ingleses fosse menos relevante e no qual as forças germanófilas pudessem ter um controle efectivo sobre as suas actividades, na perspectiva de uma eventual invasão alemã ao Reino Unido e a colocação no trono do antigo monarca cuja simpatia pela causa nazi era pública e reconhecida.



Para cumprir esta missão que os serviços secretos alemãoes designaram como “Operação Willi”, Schellenberg recebeu ordens directas e precisas do próprio Joachim von Ribbentrop, Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, para acompanhar o monarca deposto num dia de caçada em território português e para garantir que durante a actividade os Duques seriam raptados pelos espiões alemães e levados em segredo para outro lugar.

No entanto, devido ao conhecimento que havia acumulado nas muitas missões de espionagem perpectradas no Estoril, Walter Schellenberg opta por alterar os planos, permitindo que Eduardo VIII e Wallis Simpson tivessem partido sob orientação de Winston Churchill para as Bahamas alterando assim em definitivo o papel desempenhado pelos ingleses no decurso da guerra e determinando muito provavelmente o desfecho da mesma a favor dos aliados.

O palco onde tudo isto se passou, montado sobre cenários inesperados, contraditórios e tantas vezes inebriantes, foi o triângulo estorilense que compreendia o Hotel Miramar, o Hotel Palácio e o Casino Estoril, provavelmente o único lugar no Mundo onde em pleno fulgor da guerra seria possível manter-se tão profícua e apaixonante actividade por parte de ambos os partidos envolvidos na guerra.



Se tudo tivesse acontecido de outra maneira, Eduardo VIII teria regressado ao trono britânico sob a tutela do III Reich e, muito provavelmente, o desfecho da II Guerra Mundial teria sido muito diferente.

O segredo que este recanto encantado teima em guardar, é assim motivo maior para percebermos a importância que Cascais teve e tem na definição dos rumos que o Mundo vai tomando. Ali, onde as velhas lendas locais se cruzam com os factos mais inusitados da História de Portugal, se definiu o rumo que determinou a existência do Mundo em que hoje vivemos.

Veja AQUI este segredo de Cascais:

segunda-feira

O Caminho do Silêncio na Ermida de São Saturnino da Peninha


por João Aníbal Henriques

Na busca incessante dos trilhos mais significantes de Alcabideche, urge desvendar aquela que é uma das mais impactantes lendas da freguesia. Saída directamente da encruzilhada que junto à Biscaia liga o Caminho das Almas à encosta de São Saturnino, a Poente da Ermida de Nossa Senhora da Peninha, a lenda que corporiza este espaço traduz na sua essência a amplitude milenar das convicções e das crenças de sempre dos Cascalenses. 

A subida desta encosta, atravessando o caminho de pé posto que começa nas Almoínhas Velhas e se estende até ao que resta do velho palacete ali construído por António Carvalho Monteiro, o conhecido “Monteiro dos Milhões” que viveu na Quinta da Regaleira e que, do alto da sua iniciação, traduzia na matéria os valores espirituais mais relevantes da Portugalidade, faz-se por entre o exotismo de uma flora artificialmente disposta como se de um cenário se tratasse, propiciadora, por seu turno, de uma fauna pujante que não deixa indiferente quem tem a sorte de por ali poder passear. 




Reza a lenda que, algures durante o reinado de Dom João III, uma pastorinha muda e esfomeada nascida na localidade das Almoínhas Velhas (Malveira-da-Serra, Cascais), terá subido à Serra de Sintra com o seu rebanho onde encontrou Nossa Senhora. A figura com a qual falou, respondendo ao seu anseio de alimentos para si e para a sua família, disse-lhe para regressar a casa e abrir uma determinada arca onde encontraria o pão de que necessitava. Correndo de regresso para casa, a pastorinha recuperou a voz e indicou à sua mãe onde encontrar o tão almejado alimento. A velha imagem tosca de Nossa Senhora da Penha, colocada na arca, terá sido então exposta para veneração na velha Capela de São Saturnino, situada a poucos metros do local da aparição. Mas, teimosa, saia subrepticiamente do altar onde a colocavam e reaparecia no cimo dos rochedos situados atrás do templo. Tantas vezes se repetiu a travessura que se construiu em sua honra a capela actual no topo do monte da peninha. 

Não se sabendo exactamente quando tudo isto aconteceu, e havendo várias notícias da existência de edifícios que precederam aquele que actualmente ali se encontra, sabe-se, no entanto, que a Capela de Nossa Senhora da Peninha terá sido construída por um tal Pedro da Conceição, que tinha na altura somente 28 anos, e que se encontra sepultado junto ao monumento. Nas inscrições lapidares de Sintra, vem descrita a indicação que se encontra na sepultura do fundador, dizendo que ali jaz o Ermitão Pedro da Conceição, falecido em 18 de Setembro de 1726, e que pede a todos os que por ali passem um Padre Nosso e uma Avé Maria pela Alma dos seus benfeitores. Numa das paredes do templo, existe uma segunda lápide confirmando a identidade do construtor original e afirmando que a obra foi efectuada em 1690. Sendo muitos e rocambolescos os episódios pelos quais passou o singelo templo Sintriano, o certo é que foi alvo de muitas obras de construção e reconstrução que lhe conferiram o aspecto que hoje conhecemos. Sabe-se ainda que no final do Século XIX, em 1892, a Peninha é comprada pelo Conde da Almedina que em 1918 a revende a António Augusto Carvalho Monteiro. 




O empreendedor e filósofo espiritualista, como ficou conhecido o construtor da Quinta da Regaleira, situada junto à Vila de Sintra, era na altura um dos mais conhecidos e ricos empresários lisboetas, com investimentos variados na banca de então que, do alto da sua prosperidade, adquire uma visão ecléctica do Mundo e das suas gentes. Profundamente místico e grande conhecedor de tudo aquilo que dizia respeito ao destino de Portugal, Carvalho Monteiro pauta a sua vida por um conjunto de valores e de princípios que, apesar da distância que o separa do antigo Ermitão Pedro da Conceição, lhe são muito próximos e semelhantes. Adossado às penhas que sustentam a capela, o proprietário prepara a construção de um palácio onde pretendia passar temporadas em meditação e em recolhimento. 

Projectado por Júlio da Fonseca em 1920, o palácio fica por acabar mercê da morte de Carvalho Monteiro, tendo posteriormente sido adquirido pelo advogado José Rangel de Sampaio que concluiu as obras e legou o palácio em testamento à Universidade de Coimbra Em 1991, pela importância de 90.000 contos, o imóvel é adquirido pelo Estado Português, através dos Serviços de Parques e Conservação da Natureza, que efectuou algumas obras de restauro e conservação. 

A Poente da Capela de Nossa Senhora da Peninha, subsiste em forma de ruína avançada, o que resta da velhinha Ermida de São Saturnino, originária do Século XII, e cuja importância em termos patrimoniais contrasta de forma evidente com a incúria em que tem sido deixada. O conjunto patrimonial da Peninha, composto pela Capela, pelo palácio de Carvalho Monteiro e pela velha Ermida de São Saturnino, está inserido numa das mais impactantes paisagens da Região de Lisboa, abraçando em termos visuais desde a Ponte Sobre o Tejo, em Lisboa, até ao Cabo da Roca. A singeleza da lenda, apelando aos sentidos de pureza primordial e fazendo a apologia da pobreza extrema e abnegada, enquadra-se no conjunto ritualístico próprio da Serra de Sintra, numa lógica cruzada de paganismo cristianizado e de apelo constante ao Quinto Império Português. 




A devoção pela Senhora que concebe, a Senhora da Conceição que tão linearmente devolve à pastorinha das Almoínhas Velhas (ou Almas velhas), a sua voz e lhe mata a fome, é concretizada pelo Ermitão, ou seja, pelo que assume a pobreza como fio condutor da sua vida, Pedro da Conceição, em ligação permanente ao culto ritual antigo. Na Ermida Medieval, onde o culto é de São Saturnino, a linha orientadora é a mesma, apelando ao eterno retorno e ao culto obscurecido dos Mundos Internos, numa lógica que corre em linha com o útero materno, a Deusa-Mãe primordial, por aqui venerada desde tempos imemoriais. Enfim… Nossa Senhora da Conceição. Os trilhos da Conceição, muito comuns através de todo o território municipal de Cascais, ganham uma importância acrescida e redobrada na área actualmente incluída na Freguesia de Alcabideche. 

Os mananciais de água que descem da serra em direcção ao mar, franqueando de forma livre as vastas charnecas que envolvem aquele lugar, deixam atrás de si um rasto de fertilidade que promove a vida, a saúde e o bem-estar daqueles que deles usufruem. A dependência directa destes mananciais, aqui como em qualquer outra parte do Mundo, ajuda a definir a estreita ligação que consistentemente se estabelece entre o quotidiano de cada comunidade e o seu profundo saber. A sabedoria popular, tão importante para a generalidade das tarefas do dia-a-dia, assume-se em Alcabideche como sustentáculo essencial para a formação da identidade local. E espraia-se, desde sempre, através de campos diversos que influem directamente nas escolhas que todos os dias, nos seus momentos de trabalho e de lazer, que os habitantes vão fazendo na sua vida. 

terça-feira

Apresentado o Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques

Apresentação do Livro "Viva Estoril" da autoria de João Aníbal Henriques e com Prefácio de Miguel Pinto Luz. Esta é a história extraordinária de António Simões de Almeida, António Pinto Coelho de Aguiar, António Teixeira Murta, Fernando Fernandes e Maurício Morais Barra que dá forma àquilo que é hoje a região de turismo de Cascais. 



(Imagens da Câmara Municipal de Cascais)


Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques



Numa iniciativa conjunta da ALA – Academia de Letras e Artes e da Associação de Turismo de Cascais, foi apresentado publicamente o livro “Viva Estoril” da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Miguel Pinto Luz. Abordando a história recente do turismo na Costa do Estoril, o livro recupera a história de um grupo de hoteleiros que tomou em mãos a recuperação do sector durante os anos conturbados que se seguiram à revolução de 25 de Abril de 1974 e do PREC. António Simões de Almeida, António Pinto Coelho de Aguiar, Maurício Morais Barra, Fernando Fernandes e António Teixeira Murta, a que mais tarde se juntaram Pedro Garcia, Luís Athayde, António Soares e muitos outros, foram os protagonistas de uma história que mudou radicalmente os destinos da região do Estoril e de Cascais até à actualidade.










Fotografias da autoria do Departamento de Comunicação da Câmara Municipal de Cascais e de Josefina Gonçalves


quarta-feira

Convite para a Apresentação do Livro "Viva Estoril - Histórias da História do Turismo no Estoril (1974-1995)" - 28 de Abril - 18h30




No próximo dia 28 de Abril, às 18h15, no Posto de Turismo de Cascais (ao lado da câmara no antigo edifício dos bombeiros), vou apresentar o meu próximo livro intitulado “Viva Estoril”, com prefácio de Miguel Pinto Luz e chancela da ALA – Academia de Letras e Artes, numa cerimónia para a qual gostaria de vos convidar.

A história que partilho através das páginas deste livro é, porventura, a mais inesperada, surpreendente e extraordinária de todas as que já contei. Sobretudo para mim, que ando há muitas décadas literalmente mergulhado nas memórias vividas deste Cascais que tanto amo.

Foi protagonizada por um grupo de hoteleiros muito marcantes nesta região. António Aguiar, António Simões d’Almeida, Fernando Fernandes, Maurício Barra e António Teixeira Murta, aos quais mais tarde se juntaram Pedro Garcia, Luís Athayde, António Manuel Soares entre outros, literalmente reconverteram o Cascais de então, dando-lhe o carisma que hoje temos!

E a história que dá forma a esta História é de tal forma inesperada, surpreendente e inverosímil que nesta apresentação vamos igualmente entregar formalmente ao Arquivo Histórico Municipal de Cascais toda a documentação completamente inédita que suporta e comprova a total veracidade cada uma das afirmações, descrições, detalhes e relatos que ali faço.

De facto, numa década de 70 fustigada por sucessivas crises internacionais e pela revolução de Abril que praticamente implicou o fim do turismo a nível nacional, Cascais ia soçobrando perante as águas inquinadas das suas praias, pelo desinvestimento nos seus equipamentos e, sobretudo, pela diminuição radical e brusca dos seus fluxos turísticos.

Mas quando tudo parecia perdido, este grupo de jovens hoteleiros não baixou os braços e, perante um desafio imenso, enfrentou tudo e todos, provando que com vontade, determinação, foco e muita coragem, é possível inverter os cenários mais negros, reconstruindo toda a região e construindo o Cascais pujante e pleno de futuro onde hoje temos a sorte de poder viver.

Parece quase incrível que as maiores infraestruturas turísticas que hoje dão forma à nossa região tenham nascido da tenacidade empreendedora destes jovens. Mas foi exactamente assim que aconteceu. A marina, a ciclovia, o centro de congressos, a escola de hotelaria, o clube de ténis, as piscinas oceânicas, a autoestrada, o parque natural, o saneamento, etc. são apenas alguns dos feitos que nasceram dos feitos deles. Para não falar do windsurf no Guincho, do Grande Prémio do Estoril em F1, da criação da Fundação Cascais, do projecto de recuperação da cidadela e de muitos outros sonhos que eles tiveram o ensejo de concretizar e que hoje todos nós vivemos.

Fizeram-no afrontando os maiores poderes de então e conseguindo que a Concessão de Jogo do Casino Estoril voltasse a ser a mais relevante de todas as peças que dão forma à promoção da região.

Esta é uma História que me surpreendeu. Basicamente porque é surpreendente! E, também por isso, é para mim uma enorme honra esta oportunidade que tive de poder contribuir para a eternizar junto da memória dos Cascalenses. Porque é justo que assim seja. Porque é uma lição que fica perante os desafios também imensos que surgem agora no horizonte das vidas dos meus filhos e das gerações que se seguirão à deles.

Conto convosco no próximo dia 28 de Abril. Porque Cascais é mesmo o recanto mais extraordinário de Portugal!

João Aníbal Henriques

Versão em PDF do Livro "Viva Estoril": AQUI





segunda-feira

Edifício Cruzeiro Renasce no Monte Estoril por Iniciativa da Câmara Municipal de Cascais


por João Aníbal Henriques

O Edifício Cruzeiro, no Monte Estoril, foi construído em 1947 com projecto da autoria de Manuel António da Cruz e de João da Cruz. O cruzamento de duas linhas de água no local onde foi implantado, bem com o facto de marcar o preciso local onde o Monte Estoril se cruza com o Estoril, ditou o seu mítico nome, numa apoteose de memória que se prolongou até à actualidade.

Com uma História problemática e polémica, até porque Fausto Figueiredo, o mítico fundador do moderno Estoril foi assumidamente contra tal construção, foi-se envolvendo em episódios sucessivos de um grande insucesso comercial que paulatinamente o foram transformando num imenso espaço de degradação e ruína num dos pontos nevrálgicos da localidade.

Ao longo dos anos, no entanto, o seu impactante posicionamento na paisagem e as múltiplas histórias que envolveram sucessivas gerações de estorilenses, acabaram por consagrá-lo como parte activa e inabalável da Identidade do Monte Estoril e de Cascais.

Setenta e cinco anos depois do início da sua construção, por iniciativa da Câmara Municipal de Cascais, foi completamente remodelado interiormente e no passado Sábado, dia 28 de Janeiro, foi reinaugurado como “Academia de Artes de Cascais”.

Altivo e pujante, assoberbado na dignidade pétrea que lhe dá forma, o novo Edifício Cruzeiro vai ser pólo de promoção cultural, recriando os laços de memória com o seu passado e projectando-se no futuro como farol que ilumina a cultura de Cascais.

Bem-haja a Câmara Municipal de Cascais por esta extraordinária iniciativa!


(Fotografias da Câmara Municipal de Cascais)






Apresentado Livro sobre a História de Alcabideche

Apresentação do livro AL-QABDAQ - Memorial Histórico de Alcabideche, da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Carlos Carreiras na Igreja de São Vicente de Alcabideche. Apresentação por Pedro Mota Soares e José Filipe Ribeiro numa iniciativa da Junta de Freguesia de Alcabideche.

(Imagens da Câmara Municipal de Cascais) 




Apresentação do livro AL-QABDAQ Memorial Histórico de Alcabideche


Numa iniciativa da Junta de Freguesia de Alcabideche, foi apresentado publicamente o livro “AL-QABDAQ – Memorial Histórico de Alcabideche” da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Carlos Carreiras. No espaço sagrado da Igreja Paroquial de São Vicente, a apresentação da obra foi feita por Pedro Mota Soares, Presidente da Assembleia Municipal de Cascais. Recuperando os principais quadros da memória histórica da Freguesia de Alcabideche, o livro funciona como um guia turístico que pretende desvendar mitos e segredos daquela importante localidade do Concelho de Cascais. Como disse Miguel Esteves Cardoso, Alcabideche é a freguesia secreta de Cascais e com este livro ficam criadas as condições para desmontar o mito de suburbanidade que a atinge e para que todos os interessados possam literalmente mergulhar naquele que é, porventura, o espaço com mais potencial activo no município Cascalense. Uma palavra especial de gratidão ao Presidente da Junta de Freguesia de Alcabideche, José Filipe Ribeiro, e a todo o executivo daquela autarquia pelo apoio e pelo entusiasmo que colocaram nesta apresentação. Fotografias da autoria de Guilherme Cardoso e Luís Bento.








O Convento de Nossa Senhora da Piedade em Cascais (Casas do Visconde da Gandarinha e/ou Centro Cultural de Cascais)

 


por João Aníbal Henriques

A porta de entrada do auditório principal do Centro Cultural de Cascais abre caminho através de uma história longa e profícua de mais de 426 anos de segredos imensos que urge revelar.

As abóbodas incompletas daquela sala, oferecendo ao espaço uma aura mística que mesmo a utilização actual não consegue toldar, são o que resta da Capela onde rezavam quotidianamente os frades do Convento de Nossa Senhora da Piedade.



E nas paredes envelhecidas pelos séculos, está ainda a Pietá envolvida pelo silhar de azulejos que confirma a sua origem cultual, bem as placas evocativas dos beneméritos que ao longo dos anos foram contribuindo com a sua esmola e trocando a materialidade dos seus bens pelas Missas eternas que lhes garantiam a saúde da Alma…



Na denominada Capela do Fundador, ali mesmo à entrada do novo restaurante, parecem ainda ouvir-se as vozes tristes dos que acompanharam os seus entes queridos à sua última morada em cerimónias de uma magnificência terrena que contrastava com a singeleza excruciante de quem nem calçado usava. E nas sepulturas abertas no chão, está marcado o brilho da espada, das esporas e os restos da farda de gala de um dos mais importantes cavaleiros desse velho Cascais, mesmo ao lado dos confessionários onde se partilhavam sob sigilo sagrado as tentações de uma vida onde o pecado sempre teima em vingar.



Na passagem para o antigo claustro, sob o olhar atento do Camões que nasceu dolorosamente das mãos de Mestre Cutileiro, surge marcado a negro o percurso alquímico do deambulatório onde muitas gerações de religiosos descalços cruzavam as suas ladainhas elevando ao Altíssimo as preces mais pungentes das gentes de Cascais.



Nos vãos das janelas antigas, que abrem agora para sítio nenhum, pressentem-se os raios de luz que emanavam das representações majestosas de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Teresa de Ávila, ali mesmo onde o caldeirão alquímico dos frades-filósofos transformava o cobre em ouro e dava ensejo para a retransformação espiritual da comunidade. E na Sala do Capítulo, onde se tomavam as decisões mais impactantes relativas ao futuro da comunidade, estão ainda as janelas que ofereciam aos irmãos uma visão privilegiada sobre a cidadela relembrando-os da ligação ao poder temporal que ela representava.

O céu e a terra ligados numa ponte mística neste convento de Cascais…

O Convento de Nossa Senhora da Piedade, onde em 1594 nasceram e cresceram os primeiros laivos da ciência em Portugal, é hoje o cadinho da cultura em Cascais. E onde há quatro séculos atrás se salvavam as Almas através do deleite proporcionado pela oração permanente e pela proximidade a Deus, crescem agora os espíritos deslumbrados pelo carácter onírico e pela pujança cromática dos muitos artistas que permanentemente ali encontram um palco privilegiado.


A Igreja de Nossa Senhora de Fátima na Parede



por João Aníbal Henriques

Em Agosto de 1950, quando o então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, benzeu a primeira pedra da futura Igreja da Parede, já a localidade tinha uma longa e profícua História, afirmando-se como pilar de modernidade no Concelho de Cascais.

De facto, desde praticamente a chegada da Corte a Cascais, no final do Verão de 1870, que a Parede, antiga São José do Estoril, havia ganho fama de local especial. As suas arribas, com propriedades terapêuticas únicas, eram desde há muito local de cura para diversos males, com especial preponderância para as maleitas dos ossos.

No Hospital de Santana, situado nas falésias confinantes com a Estrada Marginal, o vetusto edifício recebi todos os anos uma população flutuante que ia engrossando à medida em que crescia a fama da localidade. E ao lado, na Clínica Hélio Marítima, mais conhecida pelos locais como a “Casa do Patriarca”, por lá ter vivido no início do Século XX o então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Sebastião Netto, os tratamentos inovadores alcançavam resultados nunca antes vistos nos locais de tratamento daquelas doenças existentes no Portugal dessa época.

Em ambos os edifícios (no hospital e na Casa do Patriarca) existiam pequenas capelas abertas ao culto popular e era aí que os paredenses se deslocavam para expressarem a sua religiosidade dada a distância considerável que os separava da sua Igreja Paroquial situada nos confins de São Domingos de Rana.



Era esse, por definição, o problema mais relevante com que se debatia a povoação naquela época. Com valores populacionais crescentes, mercê do crescimento urbano centrado nas suas potencialidades terapêuticas mas, também, do esforço empreendedor de Nunes da Mata, o visionário republicano que havia projectado a fama da Parede além fronteiras, a Parede continuava a pertencer administrativamente à Freguesia de São Domingos de Rana, não possuindo autonomia secular ou religiosa. Os Paredenses, que desde há muito pediam que fosse criada uma freguesia encabeçada pela localidade e uma paróquia que fosse deles, debatiam-se com um problema grave e irresolúvel. As pequenas capelas anexas aos espaços hospitalares não tinham dignidade nem tamanho para servirem de Igreja Paroquial e o templo de São Domingos de Rana, com a sua História longa e uma monumentalidade que expressava bem os laivos rurais da sua implantação, ofuscavam por completo os anseios daquelas progressivas gentes.

Dessa forma, foi a própria população quem tomou a iniciativa de construir na sua localidade uma igreja projectada de raiz que despoletasse, por seu turno, a necessária movimentação em direcção à autonomia paredense. A Comissão de Senhoras Pró-Construção da Igreja da Parede não se poupou a esforços. E, entre saraus musicais, concertos na rádio, festas populares e quermesses, demorou menos de meia década a angariar o manancial necessário para avançar com a obra e para cumprir este seu desiderato maior de dar à Parede um reconhecimento oficial que a povoação ainda não lograra obter.

Contactado o Arquitecto Rebelo de Andrade, que já nessa altura alcançara a fama através da sua participação na preparação de diversos pavilhões oficiais representativos de Portugal nas principais feiras internacionais do seu tempo, o mesmo imediatamente ofereceu os seus serviços gratuitamente, preparando o projecto que surgiria em linha com a modernidade que se associava ao culto ainda muito recente à Virgem de Fátima, cujas aparições haviam despoletado um renovado fulgor para a Igreja Católica depois dos anos conturbados que tinham caracterizado o início do período republicano.



Com a ajuda do escultor Jorge Barradas, que ficou encarregue da decoração do novo templo, e se dedicou a esculpir as imagens que o haviam de encher, Rebelo de Andrade projectou um edifício de traça modernista com um impacto imenso na paisagem e uma capacidade cénica que influir directamente nas expectativas dos paredenses quando por ele passavam no seu quotidiano. As linhas verticais de cor branca, marcadas na frontaria pelo portal de Jorge Barradas com figuras bíblicas e a imagem de Nossa Senhora de Fátima rodeada por duas pombas brancas, assumiam o apelo à singeleza da Fé paredense, recriando em torno daquele lugar uma mística onde se espraiavam os laivos maiores do culto do Espírito Santo e, por extensão, uma abordagem igualmente assumida e transconsubstanciada na pureza virginal da Mãe de Deus.

Conjugadas as vontades e os meios necessários à sua concretização, foi a igreja inaugurada no dia 1 de março de 1953, no meio de uma festa imensa que juntou naquele espaço todos os paredenses. O culto foi inaugurado no novo templo pelo próprio Cardeal-patriarca Dom Manuel Gonçalves cerejeira que surgiu acompanhado pelo Ministro e pelo Secretário-de-Estado das Obras Públicas, que se reuniram na Parede com as principais autoridades civis, militares e eclesiásticas de Cascais.


sexta-feira

A Igreja Matriz de Grândola



por João Aníbal Henriques

Integrada na paisagem urbana de Grândola, a Igreja Matriz, com invocação recente a Nossa Senhora da Assunção, é um excelente exemplo da forma como evoluiu a própria localidade. A simplicidade da sua traça, numa apologia assumida ao estilo chão que dá forma à extraordinária expressão arquitectónica do Alentejo, aponta para um sentido neoclássico, porventura resultante das vicissitudes imensas que conheceu ao longo da sua longa História.

Não se conhecendo a sua origem, uma vez que documentalmente a primeira menção a esta igreja data de 1482, quando se efectuou uma campanha de obras que visava contrariar a degradação em que o templo se encontrava, sabe-se que nessa altura o seu orago era Nossa Senhora da Abendada, facto que se alterou já no Século XVI quando lhe foi atribuída a actual designação.

A volumetria que actualmente apresenta, fruto de sucessivas campanhas de obras ali efectuadas pela Ordem de Santiago da Espada, foi determinada pelo visitador-mor da ordem, D. Jorge de Lencastre, Duque de Coimbra, após visita ao espaço em 1513. Nessa altura, em virtude da pobreza original do edifício, a Ordem de Santiago considerou que era pouco digno o carácter campesino da igreja original, com a sua Pia Baptismal feita a partir de uma tina de barro e o chão de terra batida, foi decidida a ampliação do espaço original e a criação de um conjunto de serviços que incluíam basicamente todas as necessidades referentes ao apoio à população.



A afirmação de Grândola ao longo de todo o Século XVI, quando a pujança fértil das suas terras acabou por ser determinante na criação de excessos de produção que consolidaram a componente mercantil da localidade, traduz-se em sucessivas intervenções na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, assim se explicando a riqueza das suas talhas e dos painéis de azulejos que contrastam de forma evidente com a simplicidade do seu traçado.

Nossa Senhora da Assunção, a invocação maior deste período mais recente, aponta simultaneamente para a evolução cultual naquela zona do Alentejo, numa apologia permanente aos mistérios maiores da criação, assertivamente dependentes de um pragmatismo simples expropriado das abordagens mais elaboradas que populações oriundas de outros lugares para ali procuravam trazer. Por isso, para a Senhora da Assunção convergem os interesses, relegando para segundo plano outros tipos de motivações que contradissessem as mais puras formas de expressão da piedade popular. E a nova invocação, sendo ela própria uma assumida ponte entre o carácter mundano da vida comum e o prolixo contexto da religiosidade mais elaborada e exigente das camadas populacionais mais privilegiadas, transforma-se assim no cadinho onde se fermenta uma nova forma de ser e de estar que é determinante para a consolidação do tecido social da própria Vila de Grândola até à actualidade.

Eixo consistente para a estruturação urbana local, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Grândola é assim o ponto mais significante da localidade, nele reservando toda a informação relevante para compreendermos o que foi a História daquele local.

quinta-feira

As Casas da Câmara de Grândola


por João Aníbal Henriques

No Século XVI a região de Grândola conheceu um período de crescimento sem par. Os bons anos agrícolas, transfigurados em colheitas de grande potencial, significaram fartura nos índices de produção locais. E o excesso, suprindo de forma cabal as necessidades alimentícias da população, foram escoadas para o mercado, rentabilizando assim a energia despendida no trabalho e reforçando o valor estratégico de toda a região.

Em 1544, a povoação recebeu a sua Carta de Foral, criando assim as bases da sua autonomia administrativa e, por consequência, todas as obrigações e responsabilidades que normalmente correspondiam aos municípios.



Este esforço, necessário para enfrentar os vários desafios políticos e económicos que acompanharam o crescimento e consolidação da estrutura municipal, exigiam infraestruturas de que a terra não estava dotada. E, para fazer face a essas necessidades, recebeu o município as devidas autorizações para iniciar a construção de raiz de um complexo que fosse capaz de albergar as instalações da Câmara Municipal, as dependências do tribunal e, no seu piso térreo, prisões masculinas e femininas, acompanhadas por habitação para albergar o carcereiro.

Assim, depois de muitos esforços para conseguir recolher os valores necessários para esse avultado investimento, iniciaram-se em 1725 as obras de construção das novas Casas da Câmara que, sem a monumentalidade de outros edifícios congéneres situados noutros concelhos, são bem demonstrativos da periclitante situação em que sempre viveu este município alentejano. A pouca qualidade dos materiais utilizados, e o carácter precário da obra de construção, obrigou à realização de várias obras de manutenção e requalificação ao longo do tempo.



E em 1755, quando o Grande Terramoto abalou de sobremaneira a estrutura construída da localidade, o edifício ficou profundamente danificado, gerando nova necessidade de recolha de dinheiro para fazer face às imensas despesas de recuperação. É nessa altura que a Coroa assume uma quota-parte das mesmas e, para viabilizar a intervenção urgente que era necessário fazer na construção, oferece ao município a quantia de 664.397 Réis, quantia com a qual se realizou a intervenção e que recuperou o edifício.

Depois de a câmara ter crescido e consolidado a sua importância no contexto municipal alentejano, já em pleno Século XX, o município arrendou outro espaço para instalar os serviços municipais. E as velhas Casas da Câmara, mercê do restauro da Comarca de Grândola, em 1919, foram cedidas para a instalação do tão almejado tribunal.

Pelas suas características urbanas e pelo desenho extraordinário das suas ruas, a Vila de Grândola é hoje um ex-libris da História do Alentejo. E se o final do Século XX lhe consolidou as memórias, sobretudo acentuadas pela ligação perene do município às alterações impostas pela revolução, trouxe também a Grândola um cunho de serenidade que se impôs na paisagem envolvente, transformando-a numa das mais atractivas de Portugal.

sexta-feira

Miguel Pinto Luz Empossado como Académico da ALA – Academia de Letras e Artes



O Engº. Miguel Pinto Luz, Vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, foi empossado como académico da ALA – Academia de Letras e Artes. O recém-empossado, como formação académica nas áreas da engenharia informática e da liderança, tem-se dedicado a estudar aprofundadamente as estruturas de suporte à sociedade do futuro. É essa área, aliás, que deu mote ao seu mais recente livro, no qual aborda caminhos transversais que garantam um futuro coeso e sustentável em Portugal, alicerçado no seu trabalho enquanto autarca no Concelho de Cascais. A mobilidade urbana, associada à coesão territorial é pedra angular na construção de uma sociedade mais justa e plena, oferecendo a todos os cidadãos as ferramentas necessárias para que se garanta o acesso a níveis de qualidade de vida que sejam sinónimo de felicidade.  No discurso de apresentação a Academia de Letras e Artes sublinhou a expectativa de poder contar com o contributo crítico e empreendedor de Miguel Pinto Luz para reforçar a sua capacidade de intervenção no panorama social e cultural da comunidade. Nesta cerimónia tomaram ainda posse como novos académicos da ALA o Dr. Pedro Gomes Sanches, a Drª. Júlia Nery, a Drª. Dulce Rodrigues e o Dr. Bonifácio Ricardo José.





quarta-feira

Dom Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cota Falcão Aranha de Sousa e Menezes – “Cascais Menino”




Foi sentida a homenagem prestada a Dom Simão Aranha, o ilustre escritor Cascalense que assinava com o pseudónimo Pedro Falcão, por ocasião da apresentação da terceira edição da sua obra-prima “Cascais Menino”. A iniciativa, promovida pela Fundação Pedro Facão & Yanrub, na pessoa da sua Presidente Mariana de Sande e Castro Campbell e pela União de Freguesias de Cascais e Estoril, na pessoa do seu Presidente Pedro Morais Soares, contou com a apresentação da vida e da obra do autor por João Aníbal Henriques. A galeria da Junta de Freguesia de Cascais, onde se partilharam as histórias e as memórias que o inesquecível Dom Simão Aranha deixou como legado aos vindouros da sua terra, não obedeceu a planos nem seguiu nenhum guião previamente definido. Cumprindo a sua vontade, vagueou sorrateiramente, como se fosse um menino, pelas aventuras que dão forma à magia de Cascais e das suas gentes. A aura de Cascais, como dizia a sua mulher Dona Ana Maria Burnay Aranha no prefácio0 da primeira edição, em 1980, assentava na capacidade única que Pedro Facão tinha para anular o curso do tempo. Acreditava ele que no palco da sua cabeça havia espaço para fazer reviver as figuras e as desventuras de todos aqueles que fizeram parte da sua infância. “Cascais Menino”, sem uma cronologia que permita considerá-lo como História, é a obra que melhor enquadra a diferença de Ser Cascalense. É leitura obrigatória para todos quantos desejem mergulhar na Alma desta terra.

O Livro pode ser adquirido na Livraria Galileu ou através do website da Fundação Pedro Falcão & Yanrub AQUI










Fotografias da União de Freguesias de Cascais e Estoril