sexta-feira

Papa Francisco em Cascais


por João Aníbal Henriques

As palavras não chegam para traduzir a profunda emoção sentida por centenas de milhares de Cascalenses que encheram as ruas da vila para receber o Papa Francisco na sua visita a Cascais. Dois mil anos depois e pela primeira vez na nossa terra, um Papa pisou o território de Cascais trazendo consigo uma mensagem de profundo significado para este Mundo em profunda convulsão. Foi uma visita que recriou a verbalidade dos tempos, pois tendo decorrido no presente, já era, ainda antes de acontecer, um pedaço da nossa história, reformatando a memória e a própria identidade de Cascais. Ficam as imagens possíveis, porque a história faz-se por si própria, entranhada que ficou no pensamento mais profundo do povo de Cascais.











(fotografias da CMC)

quinta-feira

A Invasão Espanhola a Cascais


por João Aníbal Henriques

Há precisamente 443 anos, Cascais participou num dos mais negros episódios da História de Portugal. No dia 27 de Julho de 1580, o comandante das tropas espanholas encarregue por Filipe II de Espanha de invadir Portugal, decidiu concretizar o seu plano de ataque a Lisboa por terra, desembarcando as suas tropas na Laje do Ramil, junto ao Farol da Guia, com o apoio expresso de D. António de Castro, Conde de Monsanto e Senhor de Cascais, que havia traído a Causa Nacional e apoiado o invasor. Dada a disparidade de forças, o pequeno reduto de portugueses que defendia Portugal logo percebeu qual seria o desfecho previsível da contenda. Mas, liderado pelo herói Dom Diogo de Meneses, preferiu entregar corajosamente a sua vida a entregar ignobilmente a bandeira nacional. A invasão aconteceu no dia 29 de Julho e D. Diogo de Meneses foi barbaramente executado pelos espanhóis na Fortaleza de Cascais no dia 2 de Agosto, sacrificando-se para salvar a honra de Cascais e de Portugal. Inspiremo-nos na sua memória!







segunda-feira

O Museu do Mar, o Rei Dom Carlos e o Sporting Clube da Parada em Cascais


por João Aníbal Henriques

Diz Pedro Falcão na sua incontornável obra literária “Cascais Menino”, que é impossível falar de Cascais sem mencionar o Sporting Club da Parada. De facto, desde 1879, quando os terrenos da antiga parada militar da Cidadela de Cascais foram desanexados para se constituir o clube cascalense, que este se tornou no coração da vida social, cultural e política de Cascais e do Portugal de então.

O Sporting Club da Parada era um espaço exclusivo, num recinto murado e fechado, onde só entravam aqueles que pertenciam à elite local. Foi ali, mercê do empenho e espírito empreendedor de gente relevante das principais famílias tradicionais de Cascais, como os Avillez, os Ereira, os Falcões, os Pinto basto ou os Castelo-Branco, que se constituiu o núcleo pensante do Cascais da Monarquia, onde reside a génese do Cascais cosmopolita e visceralmente turístico onde hoje vivemos.



Mas há uma figura que se impõe na forma como nasceu, cresceu e se consolidou o Sporting Club da Parada e a própria Vila de Cascais. El-Rei Dom Carlos, que entre outros predicados possuía uma vastíssima cultura marítima e um amor incondicional ao mar de Cascais e a tudo aquilo que lhe diz respeito, foi peça fulcral na transformação da velha vila piscatória num burgo pujante e de referência no panorama português do final do Século XIX.




A sua ligação forte à Parada e à vida social que ali se consolidava, resulta de forma eficaz num catalisador que eleva Cascais às mais altas instâncias da aristocracia e do empresariado de então. As grandes figuras da nação e os grandes problemas políticos e económicos que ensombraram Portugal entre 1879 e 1950 passaram todos pelo escrutínio apetado dos cascalenses que fruíam da Parada de Cascais como fórum relevante para a discussão do futuro de Portugal.

E na área dos desportos, do ténis ao futebol, passando pelo cricket, pelo golfe ou pelo rugby, foi no velho recinto da Parada de Cascais que nasceram os seus embriões, catapultando o prestígio e a glória da vila cascalenses até paragens além-fronteiras. As primeiras gincanas automóveis aconteceram ali e foi dentro daquele recinto que as grandes figuras do ciclismo português deram os primeiros passos no sentido de colocar Portugal como referência nesse desporto a nível internacional.

A ligação forte do Rei Dom Carlos ao Clube da Parada, cruzada de forma permanente com a sua relação profícua com o mar, fizeram com que tenha sido ali que muitas vezes o monarca reunia as grandes figuras das artes plásticas nacionais para discutir posições e para definir caminhos novos para a cultura portuguesa. As suas pinturas, maioritariamente dedicadas ao mar, aos barcos e aos recortes pitorescos da costa de Cascais, conheceram ali a sua apoteose, quando o Rei, nos saraus magníficos ali organizados, os oferecia aos seus amigos frequentadores deste espaço indiscutivelmente essencial para a vida quotidiano de muitos portugueses.




Quando em 1974 aconteceu a revolução portuguesa, o Sporting Clube da Parada foi encerrado, ocupado e o seu espólio saqueado sem apelo nem agravo. E o espaço, outrora prenhe daquilo que era a génese social da vida nesta pequena terra, ficou abandonado até 1976, quando a edilidade resolveu adquiri-lo e adaptá-lo a museu.

O Museu do Mar, que a partir de 1997 ganhou o cognome do rei pintor, cientista e poeta, era uma aspiração antiga do povo cascalense. Com um impulso muito sentido da sociedade civil local, que se uniu em torno deste comum desiderato de adaptar os velhos pavilhões do Clube da Parada no Museu do Mar, depressa o museu do mar reassumiu a essência maior do recinto de outros tempos, recuperando a memória e a alma do Cascais de sempre.

Hoje existem outros museus extraordinários na nossa terra. Existem espaços culturais dotados de moderna tecnologia e de condições de visitação que mantêm Cascais na primeira linha da oferta cultural dos portugueses. Mas nenhum desses espaços tem, pela sua localização, pelos edifícios que o compõem, pela ligação anímica a Cascais e aos Cascalenses, a importância que o Museu do Mar vive quotidianamente.




Assim que entramos no portão, percorrendo a velha alameda que nos leva até ao pavilhão principal onde se situada a recepção do Museu do Mar, sentimos no ar as memórias muito vividas de um espaço onde nasceu e se afirmou o Cascais onde hoje vivemos. É ali, na frondosidade sombria das árvores enormes que enchem os espaços onde outrora se situavam os tanques e os campos de “lawn-tennis”, que ecoam ainda as vozes sempre subtis dos nossos avós que fizeram do Cascais de então a maravilha que actualmente temos.

Cada um daqueles cantos e recantos está cheio de encanto. E a magia maior de um Cascais que nasceu de cara virada ao mar é ali que se sente!

Dizia o já referido Pedro Falcão (Dom Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cotta Falcão de Aranha e Menezes), expoente máximo da cascalidade vivida e sentida, que “a Parada, onde se juntava a nobreza, estava para Cascais como anel de brazão está para quem o traz no dedo”.

E o Museu do Mar, congregando na sua imagética a Alma e a Espírito de Cascais é, por tudo isso, o mais importante de todos os museus cascalenses. Que dure para sempre! A bem de Cascais!

O Leão Rampante do Sporting Clube de Portugal Nasceu em Cascais

por João Aníbal Henriques

Esta é a história do “Leão Rampante” que é o símbolo do Sporting Clube de Portugal e que, num passeio pela Parada de Cascais, o Visconde de Alvalade repescou da heráldica de Dom Fernando de Castello-Branco (Pombeiro) – Presidente da Câmara Municipal de Cascais e principal promotor do football no Sporting Clube da Parada. Ou seja, o nome, o símbolo e até a cor do Sporting actual nasceram desta história que quase ninguém conhece e que se passou em Cascais… Nessa conversa havida em Cascais, o Dom Fernando terá autorizado o Visconde de Alvalade a utilizar o seu leão como símbolo do novo clube mas pediu-lhe que, para o diferenciar do sporting Clube da Parada de Cascais, cuja cor era o azul, utilizasse o verde como cor oficial.

Vale a pena conhecer a fundo esta história que nos transporta à génese do actual Museu do Mar para perceber a real importância deste espaço para a definição do que é hoje o desporto em Portugal:


VEJA AQUI 


sexta-feira

O Segredo da Casa Real Inglesa em Cascais

por João Aníbal Henriques

Existem sempre ‘ses’ quando analisamos a História. Se tudo se tivesse passado de outra forma; se as decisões tivessem sido diferentes; se os acontecimentos se tivessem concretizado de outra maneira… tudo teria sido diferente.

Mas em Cascais, desde sempre palco privilegiado para a criação dos cenários que dão forma à História e ao Mundo, concentram-se grandes episódios que marcaram de forma decisiva os destinos da Europa e da própria humanidade.

Um dos mais desconhecidos, até pela susceptibilidade que lhe estava associada na época estranha em que aconteceu, aconteceu na Casa da família Espírito Santo, onde o cenário idílico em plena Enseada de Santa Marta enquadrou vários episódios rocambolescos que se tivessem ocorrido de outra forma teriam condicionado de sobremaneira a História do Mundo.



Durante a II Guerra Mundial, contrastando de forma aparente com a neutralidade assumida pelo Estado Português, Cascais e os Estoris foram palco de grandes movimentações nas áreas da espionagem e da contra-espionagem que alteraram de forma radical o rumo da guerra e, por consequência, o Mundo em que actualmente vivemos.

Em 1939, logo no início da guerra, chega ao Estoril o chefe SS Walter Schellenberg a quem a Gestapo havia incumbido com a muito difícil missão de dirigir os serviços secretos alemães no estrangeiro. No Estoril, para evitar percalços de maior com a presença do antigo Rei Inglês Eduardo VIII, que esteve alojado com a sua mulher na casa do banqueiro Ricardo Espírito Santo (que o MI16 registou como sendo agente alemão) junto à Boca do Inferno, em Cascais, o plano era de raptar os Duques de Windsor e de os remeter para um outro país onde a presença dos serviços ingleses fosse menos relevante e no qual as forças germanófilas pudessem ter um controle efectivo sobre as suas actividades, na perspectiva de uma eventual invasão alemã ao Reino Unido e a colocação no trono do antigo monarca cuja simpatia pela causa nazi era pública e reconhecida.



Para cumprir esta missão que os serviços secretos alemãoes designaram como “Operação Willi”, Schellenberg recebeu ordens directas e precisas do próprio Joachim von Ribbentrop, Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, para acompanhar o monarca deposto num dia de caçada em território português e para garantir que durante a actividade os Duques seriam raptados pelos espiões alemães e levados em segredo para outro lugar.

No entanto, devido ao conhecimento que havia acumulado nas muitas missões de espionagem perpectradas no Estoril, Walter Schellenberg opta por alterar os planos, permitindo que Eduardo VIII e Wallis Simpson tivessem partido sob orientação de Winston Churchill para as Bahamas alterando assim em definitivo o papel desempenhado pelos ingleses no decurso da guerra e determinando muito provavelmente o desfecho da mesma a favor dos aliados.

O palco onde tudo isto se passou, montado sobre cenários inesperados, contraditórios e tantas vezes inebriantes, foi o triângulo estorilense que compreendia o Hotel Miramar, o Hotel Palácio e o Casino Estoril, provavelmente o único lugar no Mundo onde em pleno fulgor da guerra seria possível manter-se tão profícua e apaixonante actividade por parte de ambos os partidos envolvidos na guerra.



Se tudo tivesse acontecido de outra maneira, Eduardo VIII teria regressado ao trono britânico sob a tutela do III Reich e, muito provavelmente, o desfecho da II Guerra Mundial teria sido muito diferente.

O segredo que este recanto encantado teima em guardar, é assim motivo maior para percebermos a importância que Cascais teve e tem na definição dos rumos que o Mundo vai tomando. Ali, onde as velhas lendas locais se cruzam com os factos mais inusitados da História de Portugal, se definiu o rumo que determinou a existência do Mundo em que hoje vivemos.

Veja AQUI este segredo de Cascais:

segunda-feira

O Caminho do Silêncio na Ermida de São Saturnino da Peninha


por João Aníbal Henriques

Na busca incessante dos trilhos mais significantes de Alcabideche, urge desvendar aquela que é uma das mais impactantes lendas da freguesia. Saída directamente da encruzilhada que junto à Biscaia liga o Caminho das Almas à encosta de São Saturnino, a Poente da Ermida de Nossa Senhora da Peninha, a lenda que corporiza este espaço traduz na sua essência a amplitude milenar das convicções e das crenças de sempre dos Cascalenses. 

A subida desta encosta, atravessando o caminho de pé posto que começa nas Almoínhas Velhas e se estende até ao que resta do velho palacete ali construído por António Carvalho Monteiro, o conhecido “Monteiro dos Milhões” que viveu na Quinta da Regaleira e que, do alto da sua iniciação, traduzia na matéria os valores espirituais mais relevantes da Portugalidade, faz-se por entre o exotismo de uma flora artificialmente disposta como se de um cenário se tratasse, propiciadora, por seu turno, de uma fauna pujante que não deixa indiferente quem tem a sorte de por ali poder passear. 




Reza a lenda que, algures durante o reinado de Dom João III, uma pastorinha muda e esfomeada nascida na localidade das Almoínhas Velhas (Malveira-da-Serra, Cascais), terá subido à Serra de Sintra com o seu rebanho onde encontrou Nossa Senhora. A figura com a qual falou, respondendo ao seu anseio de alimentos para si e para a sua família, disse-lhe para regressar a casa e abrir uma determinada arca onde encontraria o pão de que necessitava. Correndo de regresso para casa, a pastorinha recuperou a voz e indicou à sua mãe onde encontrar o tão almejado alimento. A velha imagem tosca de Nossa Senhora da Penha, colocada na arca, terá sido então exposta para veneração na velha Capela de São Saturnino, situada a poucos metros do local da aparição. Mas, teimosa, saia subrepticiamente do altar onde a colocavam e reaparecia no cimo dos rochedos situados atrás do templo. Tantas vezes se repetiu a travessura que se construiu em sua honra a capela actual no topo do monte da peninha. 

Não se sabendo exactamente quando tudo isto aconteceu, e havendo várias notícias da existência de edifícios que precederam aquele que actualmente ali se encontra, sabe-se, no entanto, que a Capela de Nossa Senhora da Peninha terá sido construída por um tal Pedro da Conceição, que tinha na altura somente 28 anos, e que se encontra sepultado junto ao monumento. Nas inscrições lapidares de Sintra, vem descrita a indicação que se encontra na sepultura do fundador, dizendo que ali jaz o Ermitão Pedro da Conceição, falecido em 18 de Setembro de 1726, e que pede a todos os que por ali passem um Padre Nosso e uma Avé Maria pela Alma dos seus benfeitores. Numa das paredes do templo, existe uma segunda lápide confirmando a identidade do construtor original e afirmando que a obra foi efectuada em 1690. Sendo muitos e rocambolescos os episódios pelos quais passou o singelo templo Sintriano, o certo é que foi alvo de muitas obras de construção e reconstrução que lhe conferiram o aspecto que hoje conhecemos. Sabe-se ainda que no final do Século XIX, em 1892, a Peninha é comprada pelo Conde da Almedina que em 1918 a revende a António Augusto Carvalho Monteiro. 




O empreendedor e filósofo espiritualista, como ficou conhecido o construtor da Quinta da Regaleira, situada junto à Vila de Sintra, era na altura um dos mais conhecidos e ricos empresários lisboetas, com investimentos variados na banca de então que, do alto da sua prosperidade, adquire uma visão ecléctica do Mundo e das suas gentes. Profundamente místico e grande conhecedor de tudo aquilo que dizia respeito ao destino de Portugal, Carvalho Monteiro pauta a sua vida por um conjunto de valores e de princípios que, apesar da distância que o separa do antigo Ermitão Pedro da Conceição, lhe são muito próximos e semelhantes. Adossado às penhas que sustentam a capela, o proprietário prepara a construção de um palácio onde pretendia passar temporadas em meditação e em recolhimento. 

Projectado por Júlio da Fonseca em 1920, o palácio fica por acabar mercê da morte de Carvalho Monteiro, tendo posteriormente sido adquirido pelo advogado José Rangel de Sampaio que concluiu as obras e legou o palácio em testamento à Universidade de Coimbra Em 1991, pela importância de 90.000 contos, o imóvel é adquirido pelo Estado Português, através dos Serviços de Parques e Conservação da Natureza, que efectuou algumas obras de restauro e conservação. 

A Poente da Capela de Nossa Senhora da Peninha, subsiste em forma de ruína avançada, o que resta da velhinha Ermida de São Saturnino, originária do Século XII, e cuja importância em termos patrimoniais contrasta de forma evidente com a incúria em que tem sido deixada. O conjunto patrimonial da Peninha, composto pela Capela, pelo palácio de Carvalho Monteiro e pela velha Ermida de São Saturnino, está inserido numa das mais impactantes paisagens da Região de Lisboa, abraçando em termos visuais desde a Ponte Sobre o Tejo, em Lisboa, até ao Cabo da Roca. A singeleza da lenda, apelando aos sentidos de pureza primordial e fazendo a apologia da pobreza extrema e abnegada, enquadra-se no conjunto ritualístico próprio da Serra de Sintra, numa lógica cruzada de paganismo cristianizado e de apelo constante ao Quinto Império Português. 




A devoção pela Senhora que concebe, a Senhora da Conceição que tão linearmente devolve à pastorinha das Almoínhas Velhas (ou Almas velhas), a sua voz e lhe mata a fome, é concretizada pelo Ermitão, ou seja, pelo que assume a pobreza como fio condutor da sua vida, Pedro da Conceição, em ligação permanente ao culto ritual antigo. Na Ermida Medieval, onde o culto é de São Saturnino, a linha orientadora é a mesma, apelando ao eterno retorno e ao culto obscurecido dos Mundos Internos, numa lógica que corre em linha com o útero materno, a Deusa-Mãe primordial, por aqui venerada desde tempos imemoriais. Enfim… Nossa Senhora da Conceição. Os trilhos da Conceição, muito comuns através de todo o território municipal de Cascais, ganham uma importância acrescida e redobrada na área actualmente incluída na Freguesia de Alcabideche. 

Os mananciais de água que descem da serra em direcção ao mar, franqueando de forma livre as vastas charnecas que envolvem aquele lugar, deixam atrás de si um rasto de fertilidade que promove a vida, a saúde e o bem-estar daqueles que deles usufruem. A dependência directa destes mananciais, aqui como em qualquer outra parte do Mundo, ajuda a definir a estreita ligação que consistentemente se estabelece entre o quotidiano de cada comunidade e o seu profundo saber. A sabedoria popular, tão importante para a generalidade das tarefas do dia-a-dia, assume-se em Alcabideche como sustentáculo essencial para a formação da identidade local. E espraia-se, desde sempre, através de campos diversos que influem directamente nas escolhas que todos os dias, nos seus momentos de trabalho e de lazer, que os habitantes vão fazendo na sua vida. 

terça-feira

Apresentado o Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques

Apresentação do Livro "Viva Estoril" da autoria de João Aníbal Henriques e com Prefácio de Miguel Pinto Luz. Esta é a história extraordinária de António Simões de Almeida, António Pinto Coelho de Aguiar, António Teixeira Murta, Fernando Fernandes e Maurício Morais Barra que dá forma àquilo que é hoje a região de turismo de Cascais. 



(Imagens da Câmara Municipal de Cascais)


Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques



Numa iniciativa conjunta da ALA – Academia de Letras e Artes e da Associação de Turismo de Cascais, foi apresentado publicamente o livro “Viva Estoril” da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Miguel Pinto Luz. Abordando a história recente do turismo na Costa do Estoril, o livro recupera a história de um grupo de hoteleiros que tomou em mãos a recuperação do sector durante os anos conturbados que se seguiram à revolução de 25 de Abril de 1974 e do PREC. António Simões de Almeida, António Pinto Coelho de Aguiar, Maurício Morais Barra, Fernando Fernandes e António Teixeira Murta, a que mais tarde se juntaram Pedro Garcia, Luís Athayde, António Soares e muitos outros, foram os protagonistas de uma história que mudou radicalmente os destinos da região do Estoril e de Cascais até à actualidade.










Fotografias da autoria do Departamento de Comunicação da Câmara Municipal de Cascais e de Josefina Gonçalves


quarta-feira

Convite para a Apresentação do Livro "Viva Estoril - Histórias da História do Turismo no Estoril (1974-1995)" - 28 de Abril - 18h30




No próximo dia 28 de Abril, às 18h15, no Posto de Turismo de Cascais (ao lado da câmara no antigo edifício dos bombeiros), vou apresentar o meu próximo livro intitulado “Viva Estoril”, com prefácio de Miguel Pinto Luz e chancela da ALA – Academia de Letras e Artes, numa cerimónia para a qual gostaria de vos convidar.

A história que partilho através das páginas deste livro é, porventura, a mais inesperada, surpreendente e extraordinária de todas as que já contei. Sobretudo para mim, que ando há muitas décadas literalmente mergulhado nas memórias vividas deste Cascais que tanto amo.

Foi protagonizada por um grupo de hoteleiros muito marcantes nesta região. António Aguiar, António Simões d’Almeida, Fernando Fernandes, Maurício Barra e António Teixeira Murta, aos quais mais tarde se juntaram Pedro Garcia, Luís Athayde, António Manuel Soares entre outros, literalmente reconverteram o Cascais de então, dando-lhe o carisma que hoje temos!

E a história que dá forma a esta História é de tal forma inesperada, surpreendente e inverosímil que nesta apresentação vamos igualmente entregar formalmente ao Arquivo Histórico Municipal de Cascais toda a documentação completamente inédita que suporta e comprova a total veracidade cada uma das afirmações, descrições, detalhes e relatos que ali faço.

De facto, numa década de 70 fustigada por sucessivas crises internacionais e pela revolução de Abril que praticamente implicou o fim do turismo a nível nacional, Cascais ia soçobrando perante as águas inquinadas das suas praias, pelo desinvestimento nos seus equipamentos e, sobretudo, pela diminuição radical e brusca dos seus fluxos turísticos.

Mas quando tudo parecia perdido, este grupo de jovens hoteleiros não baixou os braços e, perante um desafio imenso, enfrentou tudo e todos, provando que com vontade, determinação, foco e muita coragem, é possível inverter os cenários mais negros, reconstruindo toda a região e construindo o Cascais pujante e pleno de futuro onde hoje temos a sorte de poder viver.

Parece quase incrível que as maiores infraestruturas turísticas que hoje dão forma à nossa região tenham nascido da tenacidade empreendedora destes jovens. Mas foi exactamente assim que aconteceu. A marina, a ciclovia, o centro de congressos, a escola de hotelaria, o clube de ténis, as piscinas oceânicas, a autoestrada, o parque natural, o saneamento, etc. são apenas alguns dos feitos que nasceram dos feitos deles. Para não falar do windsurf no Guincho, do Grande Prémio do Estoril em F1, da criação da Fundação Cascais, do projecto de recuperação da cidadela e de muitos outros sonhos que eles tiveram o ensejo de concretizar e que hoje todos nós vivemos.

Fizeram-no afrontando os maiores poderes de então e conseguindo que a Concessão de Jogo do Casino Estoril voltasse a ser a mais relevante de todas as peças que dão forma à promoção da região.

Esta é uma História que me surpreendeu. Basicamente porque é surpreendente! E, também por isso, é para mim uma enorme honra esta oportunidade que tive de poder contribuir para a eternizar junto da memória dos Cascalenses. Porque é justo que assim seja. Porque é uma lição que fica perante os desafios também imensos que surgem agora no horizonte das vidas dos meus filhos e das gerações que se seguirão à deles.

Conto convosco no próximo dia 28 de Abril. Porque Cascais é mesmo o recanto mais extraordinário de Portugal!

João Aníbal Henriques

Versão em PDF do Livro "Viva Estoril": AQUI





segunda-feira

Edifício Cruzeiro Renasce no Monte Estoril por Iniciativa da Câmara Municipal de Cascais


por João Aníbal Henriques

O Edifício Cruzeiro, no Monte Estoril, foi construído em 1947 com projecto da autoria de Manuel António da Cruz e de João da Cruz. O cruzamento de duas linhas de água no local onde foi implantado, bem com o facto de marcar o preciso local onde o Monte Estoril se cruza com o Estoril, ditou o seu mítico nome, numa apoteose de memória que se prolongou até à actualidade.

Com uma História problemática e polémica, até porque Fausto Figueiredo, o mítico fundador do moderno Estoril foi assumidamente contra tal construção, foi-se envolvendo em episódios sucessivos de um grande insucesso comercial que paulatinamente o foram transformando num imenso espaço de degradação e ruína num dos pontos nevrálgicos da localidade.

Ao longo dos anos, no entanto, o seu impactante posicionamento na paisagem e as múltiplas histórias que envolveram sucessivas gerações de estorilenses, acabaram por consagrá-lo como parte activa e inabalável da Identidade do Monte Estoril e de Cascais.

Setenta e cinco anos depois do início da sua construção, por iniciativa da Câmara Municipal de Cascais, foi completamente remodelado interiormente e no passado Sábado, dia 28 de Janeiro, foi reinaugurado como “Academia de Artes de Cascais”.

Altivo e pujante, assoberbado na dignidade pétrea que lhe dá forma, o novo Edifício Cruzeiro vai ser pólo de promoção cultural, recriando os laços de memória com o seu passado e projectando-se no futuro como farol que ilumina a cultura de Cascais.

Bem-haja a Câmara Municipal de Cascais por esta extraordinária iniciativa!


(Fotografias da Câmara Municipal de Cascais)






Apresentado Livro sobre a História de Alcabideche

Apresentação do livro AL-QABDAQ - Memorial Histórico de Alcabideche, da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Carlos Carreiras na Igreja de São Vicente de Alcabideche. Apresentação por Pedro Mota Soares e José Filipe Ribeiro numa iniciativa da Junta de Freguesia de Alcabideche.

(Imagens da Câmara Municipal de Cascais) 




Apresentação do livro AL-QABDAQ Memorial Histórico de Alcabideche


Numa iniciativa da Junta de Freguesia de Alcabideche, foi apresentado publicamente o livro “AL-QABDAQ – Memorial Histórico de Alcabideche” da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Carlos Carreiras. No espaço sagrado da Igreja Paroquial de São Vicente, a apresentação da obra foi feita por Pedro Mota Soares, Presidente da Assembleia Municipal de Cascais. Recuperando os principais quadros da memória histórica da Freguesia de Alcabideche, o livro funciona como um guia turístico que pretende desvendar mitos e segredos daquela importante localidade do Concelho de Cascais. Como disse Miguel Esteves Cardoso, Alcabideche é a freguesia secreta de Cascais e com este livro ficam criadas as condições para desmontar o mito de suburbanidade que a atinge e para que todos os interessados possam literalmente mergulhar naquele que é, porventura, o espaço com mais potencial activo no município Cascalense. Uma palavra especial de gratidão ao Presidente da Junta de Freguesia de Alcabideche, José Filipe Ribeiro, e a todo o executivo daquela autarquia pelo apoio e pelo entusiasmo que colocaram nesta apresentação. Fotografias da autoria de Guilherme Cardoso e Luís Bento.








O Convento de Nossa Senhora da Piedade em Cascais (Casas do Visconde da Gandarinha e/ou Centro Cultural de Cascais)

 


por João Aníbal Henriques

A porta de entrada do auditório principal do Centro Cultural de Cascais abre caminho através de uma história longa e profícua de mais de 426 anos de segredos imensos que urge revelar.

As abóbodas incompletas daquela sala, oferecendo ao espaço uma aura mística que mesmo a utilização actual não consegue toldar, são o que resta da Capela onde rezavam quotidianamente os frades do Convento de Nossa Senhora da Piedade.



E nas paredes envelhecidas pelos séculos, está ainda a Pietá envolvida pelo silhar de azulejos que confirma a sua origem cultual, bem as placas evocativas dos beneméritos que ao longo dos anos foram contribuindo com a sua esmola e trocando a materialidade dos seus bens pelas Missas eternas que lhes garantiam a saúde da Alma…



Na denominada Capela do Fundador, ali mesmo à entrada do novo restaurante, parecem ainda ouvir-se as vozes tristes dos que acompanharam os seus entes queridos à sua última morada em cerimónias de uma magnificência terrena que contrastava com a singeleza excruciante de quem nem calçado usava. E nas sepulturas abertas no chão, está marcado o brilho da espada, das esporas e os restos da farda de gala de um dos mais importantes cavaleiros desse velho Cascais, mesmo ao lado dos confessionários onde se partilhavam sob sigilo sagrado as tentações de uma vida onde o pecado sempre teima em vingar.



Na passagem para o antigo claustro, sob o olhar atento do Camões que nasceu dolorosamente das mãos de Mestre Cutileiro, surge marcado a negro o percurso alquímico do deambulatório onde muitas gerações de religiosos descalços cruzavam as suas ladainhas elevando ao Altíssimo as preces mais pungentes das gentes de Cascais.



Nos vãos das janelas antigas, que abrem agora para sítio nenhum, pressentem-se os raios de luz que emanavam das representações majestosas de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Teresa de Ávila, ali mesmo onde o caldeirão alquímico dos frades-filósofos transformava o cobre em ouro e dava ensejo para a retransformação espiritual da comunidade. E na Sala do Capítulo, onde se tomavam as decisões mais impactantes relativas ao futuro da comunidade, estão ainda as janelas que ofereciam aos irmãos uma visão privilegiada sobre a cidadela relembrando-os da ligação ao poder temporal que ela representava.

O céu e a terra ligados numa ponte mística neste convento de Cascais…

O Convento de Nossa Senhora da Piedade, onde em 1594 nasceram e cresceram os primeiros laivos da ciência em Portugal, é hoje o cadinho da cultura em Cascais. E onde há quatro séculos atrás se salvavam as Almas através do deleite proporcionado pela oração permanente e pela proximidade a Deus, crescem agora os espíritos deslumbrados pelo carácter onírico e pela pujança cromática dos muitos artistas que permanentemente ali encontram um palco privilegiado.


A Igreja de Nossa Senhora de Fátima na Parede



por João Aníbal Henriques

Em Agosto de 1950, quando o então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, benzeu a primeira pedra da futura Igreja da Parede, já a localidade tinha uma longa e profícua História, afirmando-se como pilar de modernidade no Concelho de Cascais.

De facto, desde praticamente a chegada da Corte a Cascais, no final do Verão de 1870, que a Parede, antiga São José do Estoril, havia ganho fama de local especial. As suas arribas, com propriedades terapêuticas únicas, eram desde há muito local de cura para diversos males, com especial preponderância para as maleitas dos ossos.

No Hospital de Santana, situado nas falésias confinantes com a Estrada Marginal, o vetusto edifício recebi todos os anos uma população flutuante que ia engrossando à medida em que crescia a fama da localidade. E ao lado, na Clínica Hélio Marítima, mais conhecida pelos locais como a “Casa do Patriarca”, por lá ter vivido no início do Século XX o então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Sebastião Netto, os tratamentos inovadores alcançavam resultados nunca antes vistos nos locais de tratamento daquelas doenças existentes no Portugal dessa época.

Em ambos os edifícios (no hospital e na Casa do Patriarca) existiam pequenas capelas abertas ao culto popular e era aí que os paredenses se deslocavam para expressarem a sua religiosidade dada a distância considerável que os separava da sua Igreja Paroquial situada nos confins de São Domingos de Rana.



Era esse, por definição, o problema mais relevante com que se debatia a povoação naquela época. Com valores populacionais crescentes, mercê do crescimento urbano centrado nas suas potencialidades terapêuticas mas, também, do esforço empreendedor de Nunes da Mata, o visionário republicano que havia projectado a fama da Parede além fronteiras, a Parede continuava a pertencer administrativamente à Freguesia de São Domingos de Rana, não possuindo autonomia secular ou religiosa. Os Paredenses, que desde há muito pediam que fosse criada uma freguesia encabeçada pela localidade e uma paróquia que fosse deles, debatiam-se com um problema grave e irresolúvel. As pequenas capelas anexas aos espaços hospitalares não tinham dignidade nem tamanho para servirem de Igreja Paroquial e o templo de São Domingos de Rana, com a sua História longa e uma monumentalidade que expressava bem os laivos rurais da sua implantação, ofuscavam por completo os anseios daquelas progressivas gentes.

Dessa forma, foi a própria população quem tomou a iniciativa de construir na sua localidade uma igreja projectada de raiz que despoletasse, por seu turno, a necessária movimentação em direcção à autonomia paredense. A Comissão de Senhoras Pró-Construção da Igreja da Parede não se poupou a esforços. E, entre saraus musicais, concertos na rádio, festas populares e quermesses, demorou menos de meia década a angariar o manancial necessário para avançar com a obra e para cumprir este seu desiderato maior de dar à Parede um reconhecimento oficial que a povoação ainda não lograra obter.

Contactado o Arquitecto Rebelo de Andrade, que já nessa altura alcançara a fama através da sua participação na preparação de diversos pavilhões oficiais representativos de Portugal nas principais feiras internacionais do seu tempo, o mesmo imediatamente ofereceu os seus serviços gratuitamente, preparando o projecto que surgiria em linha com a modernidade que se associava ao culto ainda muito recente à Virgem de Fátima, cujas aparições haviam despoletado um renovado fulgor para a Igreja Católica depois dos anos conturbados que tinham caracterizado o início do período republicano.



Com a ajuda do escultor Jorge Barradas, que ficou encarregue da decoração do novo templo, e se dedicou a esculpir as imagens que o haviam de encher, Rebelo de Andrade projectou um edifício de traça modernista com um impacto imenso na paisagem e uma capacidade cénica que influir directamente nas expectativas dos paredenses quando por ele passavam no seu quotidiano. As linhas verticais de cor branca, marcadas na frontaria pelo portal de Jorge Barradas com figuras bíblicas e a imagem de Nossa Senhora de Fátima rodeada por duas pombas brancas, assumiam o apelo à singeleza da Fé paredense, recriando em torno daquele lugar uma mística onde se espraiavam os laivos maiores do culto do Espírito Santo e, por extensão, uma abordagem igualmente assumida e transconsubstanciada na pureza virginal da Mãe de Deus.

Conjugadas as vontades e os meios necessários à sua concretização, foi a igreja inaugurada no dia 1 de março de 1953, no meio de uma festa imensa que juntou naquele espaço todos os paredenses. O culto foi inaugurado no novo templo pelo próprio Cardeal-patriarca Dom Manuel Gonçalves cerejeira que surgiu acompanhado pelo Ministro e pelo Secretário-de-Estado das Obras Públicas, que se reuniram na Parede com as principais autoridades civis, militares e eclesiásticas de Cascais.