quarta-feira

Dom Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cota Falcão Aranha de Sousa e Menezes – “Cascais Menino”




Foi sentida a homenagem prestada a Dom Simão Aranha, o ilustre escritor Cascalense que assinava com o pseudónimo Pedro Falcão, por ocasião da apresentação da terceira edição da sua obra-prima “Cascais Menino”. A iniciativa, promovida pela Fundação Pedro Facão & Yanrub, na pessoa da sua Presidente Mariana de Sande e Castro Campbell e pela União de Freguesias de Cascais e Estoril, na pessoa do seu Presidente Pedro Morais Soares, contou com a apresentação da vida e da obra do autor por João Aníbal Henriques. A galeria da Junta de Freguesia de Cascais, onde se partilharam as histórias e as memórias que o inesquecível Dom Simão Aranha deixou como legado aos vindouros da sua terra, não obedeceu a planos nem seguiu nenhum guião previamente definido. Cumprindo a sua vontade, vagueou sorrateiramente, como se fosse um menino, pelas aventuras que dão forma à magia de Cascais e das suas gentes. A aura de Cascais, como dizia a sua mulher Dona Ana Maria Burnay Aranha no prefácio0 da primeira edição, em 1980, assentava na capacidade única que Pedro Facão tinha para anular o curso do tempo. Acreditava ele que no palco da sua cabeça havia espaço para fazer reviver as figuras e as desventuras de todos aqueles que fizeram parte da sua infância. “Cascais Menino”, sem uma cronologia que permita considerá-lo como História, é a obra que melhor enquadra a diferença de Ser Cascalense. É leitura obrigatória para todos quantos desejem mergulhar na Alma desta terra.

O Livro pode ser adquirido na Livraria Galileu ou através do website da Fundação Pedro Falcão & Yanrub AQUI










Fotografias da União de Freguesias de Cascais e Estoril


sábado

Conceição Valdez Telles de Menezes com Timor no Coração




Domingo, dia 18 de Junho de 2022, foi um dia especial na Casa Sommer em Cascais. 25 anos depois da inauguração da exposição sobre o seu avô na saudosa Universidade Moderna, em Lisboa, Maria da Conceição Valdez Telles de Menezes apresentou publicamente o seu livro “Com Timor no Coração”. A obra, que recupera as memórias familiares da autora, cumpre o propósito principal de ultrapassar as garras inexoráveis do tempo, trazendo para o presente os feitos alcançados pelos seus antepassados e recuperar a capacidade que tiveram de honrar e respeitar as ligações profundas que criaram com Timor e com os Timorenses. Com apresentação por João Aníbal Henriques, Joaquim da Cunha Roberto e Pedro Teixeira da Mota, a cerimónia contou ainda com a inesperada intervenção de Maria Ângela Carrascalão, antiga Ministra da Justiça de Timor Lorosae, que trouxe à sala um laivo sentido de homenagem ao legado deixado naquele território pelos Portugueses. Com este fechar de ciclo, Conceição Valdez eterniza a memória dos seus ancestrais, perpectuando no tempo e ao longo das próximas gerações a imensa herança de memória que recebeu dos seus avoengos.







sexta-feira

A Ermida de Nossa Senhora da Cabeça em Évora



por João Aníbal Henriques

Existem espaços que se impõem na paisagem. Na maior parte das vezes é a vetustez magnífica da sua fachada ou a opulência da sua decoração que determinam essa capacidade de adaptar a envolvência à sua própria personalidade.

Nas vilas e cidades históricas portuguesas, quase sempre resultantes de um vínculo de índole religiosa que foi determinante no seu nascimento e na sua consolidação no seio da comunidade humana que as habitou, são os espaços sagrados que, através do impacto que têm na construção identitária da localidade, assumem este papel de cadinho maior a partir do qual se organiza tudo o resto.



Mas não é nada disto que acontece no final da Rua Mendo Estevães, em pleno centro história da mítica Cidade de Évora. O templo, enganosamente intitulado como “ermida”, ou seja, apontando para uma origem num ermo remoto e dado principalmente à interioridade meditativa humilde e despojada, é um espaço de aspecto robusto e solidamente construído dentro do velho casco urbano.

No entanto, nem a monumentalidade da sua construção, nem também o facto de recuperar a sacralidade ancestral que já noutras eras prosperava naquele local, foram suficientes para o impor na paisagem, antes passando quase despercebido perante quem por ali deambula ao sabor dos calores tórridos das tardes estivais.



A Ermida de Nossa Senhora da Cabeça foi consagrada em 1681 e, nessa altura, conheceu um período de aparente grande pujança e prosperidade. A robustez monumental da sua galilé, reforçada por eventuais estruturas de apoio das quais subsistem vestígios nas pedras velhas que suportam o seu terraço, foi mais tarde complementada com um magnífico painel de azulejos dedicado ao Coroamento da Virgem, que complementa os painéis azulejares da autoria de António de Oliveira Bernardes que decoram o seu interior.

A inovação a Nossa Senhora da Cabeça, de origem espanhola, está profundamente arreigada na piedade popular. Como é comum neste tipo de situações, um ingénuo pastor que calcorreava os ermos da Serra Morena, na Andaluzia, terá ouvido nos desérticos montes por onde andava com o seu rebanho, o som de uma campainha que o parecia chamar. Seguindo esse ruído, entrou numa gruta situada na cabeça de um morro no fundo da qual estava uma formosíssima imagem de Nossa Senhora profusamente iluminada. Ajoelhando-se, o pastor questionou a figura sobre a razão de ser de tal milagre. E Nossa Senhora, com uma voz suave e envolvente definida pela sua geração sagrada, pediu-lhe que contasse nas redondezas a natureza deste milagre, construindo no local uma ermida em sua memória onde todos pudessem ir rezar.



Na ermida eborense, lançando sobre a envolvente duas sombras cruas, a representação do Sol e da Lua reforçam a sua significação milenar, acentuando a dicotomia entre as sombras e a luz e comprovando a sua origem ancestral. Embora não se sabia exactamente a data de fundação da ermida, e assumindo-se que a consagração já mencionada é somente um dos momentos da sua mais longa existência, pressupõe-se que a sua origem se perca na sacralidade ancestral associada aos cultos longínquos que foram professados naquele mesmo espaço.

E a apontar nesse sentido estão os vários materiais reutilizados na actual construção, comprovando que outros edifícios (ou diferentes formulações do mesmo) terão co-existido naquele lugar ao longo dos séculos.



Discreta na sua implantação urbana, a Ermida de Nossa Senhora da Cabeça é um magnífico exemplo da arquitectura sagrada de Portugal, mostrando que as principais devoções, quase todas resultados directo da evolução do pensamento e da Fé nas comunidades que as professaram, são superiores aos séculos, Às épocas e às eras, impondo-se no imaginário popular como alicerce principal da sua religiosidade.

E, se por fora parece mera capela perdida no seio da multiplicidade de tempos semelhantes que profusamente enxameiam as ruas de Évora, por dentro a qualidade da sua decoração demonstra bem que era espaço de primeira importância para as gentes do local.