sexta-feira

A Capela de Nossa Senhora da Vitória e o Paço Medieval de Rio Maior




por João Aníbal Henriques

Nossa Senhora da Vitória, em pleno centro histórico da Cidade de Rio Maior, é uma capela com características singelas mas que esconde um vastíssimo manancial de segredos históricos.

Não se conhecendo com exactidão as suas origens, sabe-se, no entanto, que foi construía sobre ruínas de ocupações anteriores. Escavações arqueológicas efectuadas no seu interior e no espaço envolvente, desde o adro fronteiro até ao antigo edifício dos bombeiros, vieram comprovar que seria ali o antigo Paço Senhorial de Rio Maior, mencionado por Fernão Lopes nas suas “Crónicas d’el-Rei Dom João I de Boa Memória”. Existindo já no Século XIV, terá sido ali que se passou um dos mais rocambolescos episódios da História de Portugal, quando o irmão da Rainha Dona Leonor, mulher do Rei Do Fernando, terá chegado a Rio Maior para matar o Conde Andeiro, cujas ligações amorosas com a sua irmã traziam imenso escândalo à corte de então.




O antigo paço, também designado como “Real” em alguma documentação, por ali terem pernoitado vátios monarcas Portugueses ao longo da sua vasta história, seria assim uma forma de aproveitamento da topografia natural do local. Sobrelevado relativamente ao resto do burgo, a colina onde se situa o templo personificaria uma forma natural de defesa relativamente a possíveis perigos que pudessem advir, sendo por isso muito natural que tenha sido utilizada desde tempos muito recuados como ponto central a partir do qual se desenvolveu a actual cidade.




No decorrer das várias campanhas arqueológicas ali realizadas, foi possível encontrar pelo menos três níveis diferenciados de ocupação e que, no espaço interior da capela, recuam até ao Século, quando ali foi enterrada uma criança de tenra idade cujas ossadas foram levantadas numa dessas intervenções. Também se encontraram, no entanto, vários materiais anteriores, em níveis não consolidados e impossíveis de datar, mas que, dada a interacção com os documentos coevos, sugerem ter sido este espaço pertença de um mais antigo templo que terá existido dentro do próprio Paço Real.
Sem acesso público nem culto, uma vez que é desde há bastante tempo utilizada como depósito dos materiais arqueológicos recolhidos em Rio Maior, a Capela de Nossa Senhora da Vitória terá sido assim baptizada depois da vitória de Dom João I em Aljubarrota perante o exército castelhano. Antes dessa data, por ter pertencido à Irmandade das Almas, ter-se-á chamado Capela das Almas.

O enquadramento cenográfico deste tempo, num espaço simbolicamente associado ao devir histórico da cidade, apresenta um imenso potencial turístico que, se conjugado com as muitas estruturas construtivas de diversas épocas que foram encontradas em seu torno (e que estão preservadas debaixo da calçada que dá forma ao seu adro), poderá um dia sustentar a criação de um pólo de grande interesse para a região de turismo do Ribatejo.