terça-feira

A Vivenda Beira Rio e as Memórias Antigas da Vila de Cascais




Junto ao Jardim Visconde da Luz, mesmo no centro de Cascais, encontramos ainda hoje um imóvel de características únicas que passa despercebido à generalidade dos Cascalenses.

Chama-se Vivenda “Beira-Rio” e, como o seu nome indica, foi construída nas margens da antiga Ribeira das Vinhas, que atravessava a Vila de Cascais. A casa, de traça marcada pelos resquícios da moda do veraneio que alterou profundamente o devir urbano da antiga terra de pescadores, é um chalet do início do Século XX e, apesar das alterações que sofreu no início da década de 90 do século passado, mantém ainda quase intocada a sua formulação estética baseada em pressupostos que deram forma ao Monte Estoril e ao Estoril.

Quanto à Ribeira das Vinhas, que ainda hoje atravessa o mesmo local, foi encanada para permitir a construção da Avenida Marginal e apesar das muitas contrariedades pelas quais passou durante os últimos anos de liberdade à face da vila, deixou saudades profundas numa série de ilustres Cascalenses.

O mais importante será talvez Dom Simão Aranha, mais conhecido por Pedro Falcão. Quando publicou o seu “Cascais Menino”, já nos inícios de 80, dedicou à ribeira um capítulo muito especial. Chamou-lhe sonho e apelidou-o de utopia, mas teve a coragem de sonhar com uma ribeira de novo livre, a correr a céu aberto através de Cascais e adaptada à travessia de pequenos barcos à vela e das chatas dos pescadores… Achava ele que, navegável até à actual Rotunda Francisco Sá Carneiro, voltaria a ser um dos atractivos principais de um Cascais sentido e sensível que ele nunca se cansou de defender e propagar.

A Vivenda Beira-Rio, pela sua formulação tipológica, pelo enquadramento num período dourado da História da Vila de Cascais, e sobretudo pelo testemunho que deixa de uma vila muito diferente, em que a ribeira estabelecia a ligação do povo ao mar e, simultaneamente, marcava a diferença entre as povoações situadas em ambas as suas margens, deveria ser alvo de um cuidado especial por parte de quem é responsável pela gestão patrimonial da nossa terra.

O mínimo seria, até em memória de tantos que dela gostaram muito, classificá-la como imóvel de interesse público, contribuindo assim para a preservação da memória colectiva e da Identidade do Concelho de Cascais.