terça-feira

Pensar sobre... Cascais e os Estoris




por: João Aníbal Henriques


Depois de uma ausência prolongada, resultante de um período de grande e permanente intervenção cívica através de várias instituições, voltei recentemente a Cascais.

O cenário é novo, e a limpeza do espaço urbano marca agora o quotidiano da Vila, quase pronta para começar a receber os participantes no Campeonato do Mundo de Vela que vai decorrer nas águas maravilhosas da nossa baía.

Caminhando descontraidamente por Cascais, primeiro através das ruelas do burgo medieval, e depois pela Avenida Rei Humberto II, marina e Passeio Maria Pia, vão surgindo ao longe, recortados no horizonte de uma noite típica de Verão, os sinais prontos de que algo está mudar…

A beleza da paisagem, recortada aqui e ali pelo perfil romântico de alguns edifícios centenários que conseguiram escapar à fúria destrutiva do período negro de Cascais (1993-2001), só é ultrapassada pela pacatez e o sossego da envolvente.

E é ali que a surpresa surge pela primeira vez… Onde estão as pessoas de Cascais? Onde estão os visitantes? Onde estão os participantes no Mundial de Vela que começa nos próximos dias? Onde estão os turistas que enchem os hotéis que actualmente já exigem taxas de ocupação muito próximas dos 100%?

Porque razão, em muitos quilómetros percorridos em Cascais (sublinho a cálida noite de verão…) só consegui ver alguns polícias, espalhados aqui e ali nos pontos onde se vê que vão decorrer iniciativas relacionadas com o grande evento, e muitos seguranças privados que, sem muita preparação, tacto ou discernimento, exortam os poucos transeuntes a afastarem-se dos gradeamentos metálicos que ocupam as zonas mais bonitas do nosso espaço público?

A resposta é atroz.

Cascais está a receber centenas (para não dizer milhares) de novos visitantes que chegam paulatinamente todos os dias e que, para grande desespero dos naturais (diga-se comerciantes, restauração, etc.) acordam de manhã, fazem o que têm a fazer com as suas embarcações e com os preparativos para as provas, e depois seguem de imediato para jantar em Lisboa, passear na capital, fazer compras no Chiado, ou divertir-se nas Docas…
Entram numa das localidades mais bonitas de Portugal e, certamente, uma das mais maravilhosas do Mundo; demoram-se por aqui por vezes várias semanas; conhecem Lisboa, Sintra, Colares e a Praia das Maças; e... voltam a sair de Cascais sem que ninguém lhes tenha conseguido mostrar o espaço deslumbrante que tiveram a sorte de poder visitar.
E por isso, ao contrário do que acontecia há 15 ou 20 anos atrás, quando uma noite de Junho era sinónimo de ruas cheias, restaurantes repletos, bares e discotecas cheias de animação, e os bancos espalhados pela Vila plenos de conversas, confidências e sorrisos, Cascais está vazio, deserto, silencioso, mudo e triste. Apesar da limpeza, da segurança, dos novos equipamentos e de toda a extraordinária panóplia de atractivos que tem.
É atroz.