A Síria é governada por Bashar
Hafez Al-Assad desde Julho de 2000. Chegou ao poder sucedendo ao seu pai, que
governou o país com mão de ferro durante 30 anos e depois da morte inesperada
do seu irmão mais velho que deveria ter herdado o cargo.
A sua formação em medicina e o
percurso académico na Europa, tornaram-no numa esperança para o Ocidente que via
como possível facilitador de uma mudança democrática no tradicionalmente radical
regime político daquele país. Mas não foi. Al-Assad, cumprindo a vontade do pai
e mantendo o status quo antigo da
Síria, manteve um regime autoritário e gerou descontentamento numa larga
facção do seu próprio povo, basicamente porque sendo ele um alauita, facção
religiosa minoritária no país, teve desde logo a oposição da Liga Árabe e das
correntes mais ocidentalizadas do Islamismo local.
Tal como aconteceu com vários dos
seus colegas árabes radicais, Al-Assad foi pressionado durante a denominada
Primavera Árabe a abandonar o poder. Mas, tal como os outros, recusou-se a
faze-lo e deu corpo à luta contra os oposicionistas. Ao contrário de Saddam Hussein ou de Muammar al-Gaddafi, que foram
completamente cercados pelas forças internacionais e presos e mortos para
gáudio do Ocidente, Al-Assad conseguiu, mediante negociatas relacionadas com o
controle do petróleo e de outras riquezas estratégicas do seu país, chegar a
acordo com a Rússia, impedindo assim o cumprimento do fim sangrento que
caracterizou a queda dos seus vizinhos de outros tempos.
A guerra civil na Síria é, a um
tempo, o resultado deste impasse nas relações políticas internacionais entre o
dito Ocidente (que mais não é do que a personificação da vontade e da força dos
Estados Unidos da América) e a Rússia. Nada tem a ver com a vontade, as
necessidades e a determinação do povo Sírio. Esse, sem nenhuma palavra a dizer
no processo, sofre com os ataques das forças governamentais armadas pelos
russos, dos ditos rebeldes armados pelos EUA e dos radicais do estado islâmico
e demais seitas que por al proliferam. E, para não morrer imediatamente à mão
desta gente, deita-se ao Mediterrâneo e foge para a Europa em busca de um sonho
grandioso que se esgota na pequenez daquilo que simplesmente procuram: a paz.
Como é evidente, no meio da
amálgama de interesses que proliferam no caos imenso em que a Síria se
transformou, existem terroristas que se aproveitam das muitas fragilidades daí
resultantes. Matam e morrem do alto da sua tenra idade, depois de alguns
insanos radicais terem semeado nos seus cérebros inflamáveis as orgias
insanáveis dos infernos terrenos… e já estiveram em Londres, em Madrid, em
Paris e agora já todos sabem que estarão em todo o lado.
E muitos dos ocidentais,
atemorizados e desprovidos da capacidade de pensar os outros e a vida humana,
culpam os refugiados que se atiram à vida sem medo da morte simplesmente para
fugir das atrocidades desumanas que hoje o mundo infelizmente bem conhece.
Mas o que mais custa, no meio
desta rede de interesses materialistas e comerciais que dão forma à política
internacional do mundo em que vivemos, é que Bashar Al-Assad está no poder não
por vontade dos Sírios nem em representação deles, mas sim somente porque ao Vladimir Putin lhe interessa…
Ou seja, a resolução do problema
da Síria e dos países árabes, nada tem a ver com os árabes que lá nasceram.
Depende do controle do petróleo e das riquezas que por lá existem, e do jogo
porco e inadmissível que Estados Unidos e Rússia vão jogando.
Quando a um deles, para as suas
contas de estado, convier que Al-Assad seja deposto, lá vamos nós ocidentais
aplaudir mais um patíbulo ou uma guilhotina que dará combustível para alimentar
a insaciável fome de sangue que caracteriza os que por lá vão ficar. Numa
espécie de jogo de monopólio jogado entre Moscovo e Washington onde Putin e
Obama se divertem a decidir quem vive e quem vai morrer.
A religião e a vontade dos Sírios
nada pesam no que está a acontecer.
São eles os principais
responsáveis pelos 149 mortos em Paris na passada Sexta-feira. Infelizmente.