Classificada
como Imóvel de Interesse Público desde o dia 19 de Junho de 1997, através da
Resolução do Conselho de Ministros nº 96/1997, a Villa Romana de Freiria é uma das mais preciosas peças do património
histórico Cascalense.
Situada
entre as povoações de Polima e Outeiro de Polima, na Freguesia de São Domingos
de Rana, a Villa Romana de Freiria é um dos mais emblemáticos exemplares deste
tipo de ocupação em todo o Mundo Romano.
Datada
dos Iºs e IIºs Séculos da Era Comum, Freiria teve ocupação comprovada pelo
menos desde o Calcolítico, visíveis as peças do Período Campaniforme e,
sobretudo, da Idade do Bronze que ali foram encontradas. A existência de um
povoado amuralhado numa dessas épocas, atestado por diversos achados avulso,
aponta para uma ocupação intensiva e de grande continuidade, facto que
determina a qualidade extrema dos objectos cerâmicos ali encontrados. De acordo
com os arqueólogos responsáveis pelo estudo do povoado, Guilherme Cardoso e José
d’Encarnação, a qualidade dessas peças denuncia uma ligação comercial aos
centros onde elas eram produzidas: “Salienta-se a excelente qualidade das peças
estudadas, demonstrando-se que nos encontramos perante uma população que está,
efectivamente, em contacto com os melhores centros produtores de determinados
objectos, mormente no que concerne aos objectos de adorno encontrados (fecho de
cinturão, fíbulas, contas de colar...)”.
Já
no período de ocupação romana, a Villa terá pertencido a T(itus) Curiatius
Rufinus, tendo em conta a inscrição patente na sua lápide funerária dedicada à
divindade pré-romana Tribunnis.
A
principal peça deste período, um quadrante solar datável dos primeiros séculos
da Era Cristã, complementa o enquadramento facultado pela existência de um
celeiro que, a todos os níveis, só encontra paralelo num outro situado na
Cidade Espanhola de Cáceres e que se encontra associado a um moinho. Para além
destes, existe ainda uma domus de características excepcionais, composta por um Peristilo e Impluvium circundado de "espelhos de água" e o envolvente corredor
provido de colunas. De salientar são ainda os pavimentos em mosaicos policromos
que revestiam algumas da habitações e que, mercê do estado geral de abandono e
incúria em que se encontra o monumento, estão agora espalhados por todo o
recinto.
Na
parte rural, e para além do celeiro e do moinho, existem ainda vestígios de um
antigo cemitério, com área própria para incineração dos cadáveres, um complexo
de termas, com banhos quentes e frios, um lagar e um forno de cozer pão. Para
além disto, foi ainda encontrado um enorme conjunto de telhas que os arqueólogos
consideram ter feito parte de uma estrutura coberta que ligaria as diversas
partes que compõem a Villa Romana.
Nos
dias que correm, e em que Cascais necessita avidamente de se afirmar no
contexto de uma Europa ávida de memórias, é particularmente preocupante
assistir de forma impávida à degradação galopante que tomou conta deste
monumento. Em primeiro lugar porque sendo um Imóvel de Interesse Público,
reconhecido pelo Estado e classificado oficialmente, deveria ser alvo de
medidas concretas de protecção que salvaguardassem o seu valor e a sua importância
para o conhecimento da História e da Identidade deste recanto de Portugal.
Depois porque, num Concelho como o de Cascais em que a vocação é o turismo de
qualidade, o potencial desta estação arqueológica se perde por completo pelo
estado generalizado de evidente desconsideração a que foi votado pela
Autarquia.
O desinteresse
pela cultura, pela História e pelas memórias, agrava-se em Freiria pelo desrespeito
que tal situação representa perante o trabalho dos arqueólogos que escavaram e
estudaram este monumento, e principalmente pela dedicação de Guilherme Cardoso,
que ali literalmente deixaram o seu suor, trabalho, dedicação e empenho em prol
da recuperação da memória da nossa terra.
É
uma pena que existam outros interesses, bem visíveis em Freiria e nos bairros
clandestinos que legalmente vão envolvendo o monumento, que se vão sobrepondo
aos interesses de Cascais e dos Cascalenses…