sexta-feira

A Propaganda do Estoril





As publicações de propaganda editadas pelo Estado através da Sociedade de Propaganda de Portugal, são unânimes na forma como a imensidão da capacidade de oferta do Estoril abre o leque das possibilidades a esta terra. 

Em 1935-40, Nuno Catharino Cardoso sublinha que a heterogeneidade daqueles que habitam no Estoril, respondendo de forma conveniente aos desejos dos muitos visitantes que nessa altura transformavam a Praia do Tamariz num dos mais significantes destinos de férias em Portugal (nunca é demais relembrar, agora que se comemoraram os cinquenta anos da invenção do biquini, que em Portugal só no Tamariz se podiam ver as senhoras com esse novo modelos de fato-de-banho e que de todo o País chegavam “turistas” que tinham como único objectivo vir ver as estrangeiras que ousavam gozar o Sol Estorilense com essa diminuta indumentária) implicava a existência de diversos tipos de oferta. 




Depois de elogiar o cosmopolitismo do Estoril, onde as nacionalidades se cruzavam de uma forma que a Europa só nessa altura começava a conhecer, o autor sublinha a grandiosidade e a modernidade dos edifícios Estorilenses, a beleza do seu parque e as arcarias que lhe forneciam um toque de glamour e simultaneamente de conforto que quase as transformava numa extensão das casas das suas gentes, Catharino Cardoso não hesita em considerar a pluralidade da oferta turística Estorilense como a principal base qualificadora do seu posicionamento: “Com hotéis de primeira ordem, tais como o Hotel Palácio Estoril e de todas as classes e com cómodas pensões, os Estoris devido ao seu clima privilegiado em que predominam magníficas temperaturas de Inverno e verão, tão benignas que até permitem que se tomem todo o ano banhos de mar e de sol, clima maravilhoso que dá mais de três mil horas de sol por ano, estão justamente destinadas a um grande e justo futuro entre todas as estâncias portuguesas”. 

E mais à frente, quando descreve os complementos da oferta do Estoril, também sublinha a existência de encantos naturais que se conjugam com os desportos que ali se praticam, referindo o golfe, o ténis e a natação com as áreas com mais interesse.




Os Queques da Linha e as Tias do Estoril



por João Aníbal Henriques

Um dos mais ilustrativos exemplos da forma como as casas e os espaço influenciam de forma concreta as pessoas é o edifício Luís Vergani, situado na Rua de Nice, no Estoril, onde desde há mais de meio século funciona a conhecida e reconhecida Pastelaria Garrett. Tendo ali funcionado originalmente o Hotel Paris, faz parte do conjunto de edificações que serviam de apoio aos Banhos do Viana e que, depois de terem sido substituídos pelas modernas unidades hoteleiras, acabaram por readaptar as suas funções e por manter-se activas no seio da nova dinâmica urbana da povoação.




O prédio, que ainda hoje se encontra figurativamente próximo daquilo que era naquela época, trás consigo as memórias vividas de um tempo em que o Estoril ainda não era elegante e em que surgia sempre relacionado com as enfermidades que buscavam a cura através dos banhos. A ocupação do mesmo pela pastelaria, que desde há muito tempo assumiu o seu carácter de pedra basilar da melhor sociedade Estorilense, centra em si próprio o cerne da História moderna do Estoril. Aos fins-de-semana, logo pela manhã para o pequeno-almoço e ao final da tarde para o chá, a Pastelaria Garrett enche-se de Estorilenses que ali vão para verem e serem vistos, trocando os cumprimentos que tantas vezes condicionam os equilíbrios políticos e sociais da região e mesmo de Portugal. Há muitas décadas atrás, ainda antes do seu bolo-rei ter ganho a fama que faz com que actualmente, na quadra de Natal, seja comum ver na Rua de Nice filas de muitas centenas de metros de gente que pacientemente aguarda a sua vez para adquirir aquela que é considerada como uma das melhores iguarias de Portugal, eram os queques ainda quentes que faziam as delícias de quem andava por lá. Os queques, bonitos e amarelos que saíam dos seus fornos, eram comidos ao pequeno-almoço pelos filhos das melhores famílias do local e que normalmente antecediam a entrada no comboio que os levava ao liceu, ao trabalho ou à empresa situada em Lisboa. Eram, desta forma, os queques da linha, adoptando um designativo que ganhou força social e que passou a descrever também os meninos bem comportados e bem penteados que do Estoril chegavam a Lisboa através da linha do caminho de ferro… Os queques da linha, de bons modos e boas maneiras, são o repositório integral e total da genialidade de Fausto de Figueiredo, conjugando a linha de comboio, as acessibilidades a Lisboa e a própria formulação urbana e especial da estância com a criação de uma sociedade nova e moderna que suportasse o nascimento de um novo Portugal.

Os comportamentos dos “meninos da linha”, apelidados de “queques” pelos que noutras partes da região de Lisboa os viam chegar de comboio sempre aprumados e muito bem-educados, nascem precisamente da capacidade que aquele empreendedor, através da sua Sociedade Estoril Plage, teve de promover os relacionamentos através da conjugação de diversos factores associados ao seu espaço.




Como facilmente se verificará ainda hoje, e que infelizmente a história mais recente de Cascais tão tristemente comprovou, teria sido mais lógico e financeiramente significante que Fausto de Figueiredo urbanizasse o Estoril a partir da linha de comboio e da estação. Os terrenos que reservou para jardins e a largura das avenidas que os abraçam, fechando os relvados numa espécie de espaço particular pensado à semelhança de uma casa ou de um lar de família, poderiam ter sido enchidos com lotes de construção que renderiam muitos milhares de contos a qualquer promotor imobiliário. Mas Fausto de Figueiredo, tal como os seus visionários e sonhadores antecessores haviam ousado fazer no Monte Estoril, teve a capacidade genial se alargar o seu horizonte temporal e de vislumbrar no futuro os frutos da sua planificação no presente. Os jardins do casino e o conforto urbano que ofereciam, associado à proximidade da estação e na facilidade de acessos a Lisboa, promovem a vida ao ar e as caminhadas. Nada mais natural, para os capitalistas ricos que viviam nos lotes urbanos que envolviam o Estoril, do que saírem de casa a pé em direcção à estação. Nas caminhadas matinais que os levavam aos queques da Garrett e depois ao comboio que em pouco mais de vinte e cinco minutos os levava a Lisboa, depressa se foram conhecendo, reconhecendo e estreitando laços de amizade e vizinhança transformando uma povoação completamente nova, construída de raiz para gente sem raízes comuns que pudessem partilhar e que suportassem a criação de vínculos de uma identidade sã, num Estoril onde quase todos são uma família constituída artificialmente pelo promotor, mas sólida nos vínculos que no seu seio vão criando.

Os jardins do casino, confortáveis, elegantes e apetecíveis numa terra onde são raros os dias de chuva e para os quais o frio nunca vem, são o local onde naturalmente passeiam as senhoras e os filhos dos capitalistas que trabalham em Lisboa e que, não trabalhando elas, ali gastam as suas tardes entretendo os filhos e partilhando também elas um queque e um chá na vistosa Pastelaria Garrett. As crianças crescem em conjunto, partilhando diariamente aqueles jardins que sendo públicos quase parecem ser uma extensão da casa deles, e no qual desenvolvem laços onde a filiação conta menos do que as amizades que se vão impondo de forma sã.




Nasce assim um Portugal moderno, atractivo e simpático, onde a cidadania e a identidade surgem bem vincadas e em que os costumes se assumem que devem ser diferentes. As crianças, pulando e rindo em brincadeiras pueris por entre as palmeiras, os tamarindos e as demais espécies exóticas que enchiam o Estoril, vão ouvindo a partilhando as conversas das mães no seu dia-a-dia despreocupado. Nas festas de aniversário, nos jantares de amigos, nos bancos do Colégio João de Deus e mais tarde dos Salesianos, vão consolidando os laços de família e recriando uma nova forma de viver em comunidade. Mas passa pela cabeça a alguém cuspir para o chão ou dizer palavrões dentro da sua própria casa? É evidente que não. E o Estoril, com os seus espaços urbanos excepcionais, é como se fosse a casa de cada um deles, que se vão habituando a um comportamento tendencialmente diferente daquele que caracterizava a juventude noutras zonas de Portugal. E se as mães, em conversas longas ou em torno de um queque e um chá, se vão demorando por ali, partilhando com as crianças o processo natural do seu crescimento e dessa forma criando afinidades, como hão-de-ser chamadas pelos mais novos? Senhoras donas? A gente que está tão próxima? Que é a mãe do meu melhor amigo e que me viu crescer? Aquela senhora que mantém sempre aberta a porta de casa para que a criançada Estorilense por ali se espraie partilhando brincadeiras e o mistério agradável desta vida suave? É evidente que não. Não o sendo em ternos sanguíneos, são-no efectivamente por proximidade afectiva… são as tias do Estoril que, como os meninos da linha, darão fama a uma terra que se constrói através de um processo sociologicamente muito especial e o tornarão num espaço que, visto de fora, é diferente, agradável, sempre certinho e muito bem educado…




E é novamente Ramalho Ortigão, nas mesmas “Praias de Portugal” que atrás citámos que explica como vai ser o Estoril, cerca de cinquenta anos antes de Fausto Figueiredo ter começado a sonhar com uma estância balnear excepcional, e de os meninos da linha, com a sua muito própria de ser e de estar, terem começado a encher os jardins com as suas brincadeiras infantis: “O sindicato de Cascais propõe-se transformar o lindo arrabalde do Estoril, onde junto da praia há uma rica nascente de água termal, em vila de banhos e de águas no moderno tipo elegante de Wiesbaden, de Trouville ou de San Sebastian. (…) Desde que se decidiu para todos os efeitos que isto é um alegre desfazer de feira, que depois de nós pode vir o dilúvio quando for servido, porque a gente vai acabar com o resto que há para perder o mais velozmente que se possa, - desde que esta decisão se tomou por acordo geral e a contento do maior número – o Estoril-les-Bains, tornou-se para nós uma necessidade social. A meia horas de Lisboa, por um caminho-de-ferro de luxo na margem do Tejo, Estoril-les-Bains com o seu grande estabelecimento de banhos, com o seu casino, com as suas salas de ópera e de concertos, com as suas roletas, com os seus pavilhões enigmáticos, com os seus cottages misteriosos, e com os seus camarões permanentes em gabinete reservado, é um imprescindível complemento da civilização que felizmente desfrutamos.”

quarta-feira

Pedro Rocha dos Santos Distinguido com Prémio de Excelência no Estoril




Pedro Rocha dos Santos, Director do Centro de Congressos do Estoril e membro da Comissão Directiva do Movimento SerCascais, foi distinguido com o "Prémio Sustentabilidade" no âmbito do programa dos Embaixadores da Costa do Estoril.

O galardão, entregue por Duarte Nobre Guedes, antigo Presidente da já extinta Junta de Turismo da Costa do Estoril e da empresa municipal "Turismo do Estoril", reconhece o empenho e o desempenho de Rocha dos Santos na promoção da marca turística "Estoril" e, sobretudo, os resultados alcançados pelo CCE junto dos principais mercados internacionais.

A iniciativa "Embaixadores da Costa do Estoril", liderada por Linda Pereira da CPL Events, contou ainda com a presença do Vereador Miguel Pinto Luz, actual vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, que dessa maneira apoiou e aplaudiu a iniciativa e a excelência do trabalho do Director do Centro de Congressos do Estoril. 

Afinal o Estoril não morreu! Viva o Estoril!






terça-feira

A Excelência Turística do Estoril





O Estoril, cadinho de memória e de memórias, misturando estórias com a História e sonhos de muitas gentes que por ali ousaram imaginar um local diferente, é largamente superior à coisa física que lhe dá forma e, dessa maneira, obriga a que quem quer que seja que o queira conhecer a perder-se nas emoções e na capacidade de o sentir, pois só dessa forma consegue aproximar o que dele apreende daquilo que ele efectivamente vai sendo. 

Esta premissa, tanto mais importante quanto sabemos que hoje a exigência associada ao turismo pressupõe que se conjuguem as emoções e as memórias com o lazer mais puro e o descanso que noutros tempos se buscava, torna-se numa das mais básicas condições para requalificar o turismo do Estoril, pois é ela que enquadra a oferta tradicional do Sol e do mar num pacote de férias mais amplo que, pelo seu carácter irrepetível, permite ao Estoril assumir-se como destino de excelência no Mundo actual. 


quarta-feira

Plano Director Municipal: Uma Estratégia de Afirmação para Cascais





por: João Aníbal Henriques

O Concelho de Cascais, situado estrategicamente num dos mais importantes locais da Área Metropolitana de Lisboa, exerceu sempre sobre os seres humanos atractivos que favoreceram a sua ocupação.Este processo, paulatino e serôdio, garantiu ao município um desenvolvimento constante que, a par com todos os seus condicionalismos naturais, acabou por transformar Cascais num dos espaços mais progressistas do País. Aqui, fruto das vicissitudes variadas atrás descritas, foi sempre possível encontrar o apogeu da modernidade, facto que consolidou a apetência natural que o espaço apresenta para receber as descobertas, fundamentando uma enorme capacidade de adaptação e desenvolvimento.

Desta forma, e de acordo com os indicadores constantes da documentação histórica, bem como dos diversos censos, levantamentos e sondagens que recentemente se têm desenvolvido em Cascais, é possível distinguir no Concelho aspectos positivos e negativos que resultam desta situação.

Em primeiro lugar, e oferecendo aos analistas a matéria necessária para a compreensão do “fenómeno” do desenvolvimento do município, Cascais foi sempre destino apetecido de todos aqueles que, alcançando uma posição social ou política relevante a nível Nacional, desejavam consolidar e perpetuar essa conquista através da angariação de uma certa posição. Este facto, que naturalmente resulta da grande proximidade de Cascais face à capital e, ao mesmo tempo, da enorme vantagem que emana da distância suficiente para que aqui, durante vários anos, fosse possível encontrar ainda a paz e o sossego que a Capital quase nunca conheceu, torna a atractividade deste espaço num chamariz constante que para aqui acaba por transportar grandes vultos que a História Nacional soube perpetuar e homenagear ao longo dos tempos.

Essas figuras de prestígio e grande relevo, situadas de forma curiosa ao longo dos diversos sectores dos muitos espectros políticos e partidários que Portugal conheceu ao longo dos últimos cem anos, assumem-se assim como os primeiros condicionantes de uma série de transformações que vão fazer de Cascais um espaço singular no contexto português.

A habitação, por exemplo, até aí caracterizada pela humildade que caracterizava também os pescadores e agricultores que viviam na Vila e no Concelho, foi obrigada a adaptar-se aos novos ocupantes, construindo-se vastos e vetustos empreendimentos que, à medida em que o tempo ia passando, iam progressivamente alterando a paisagem, a geometria, a volumetria e a memória do município.




Por outro lado, ao nível daquilo que hoje comummente se entende ser a qualidade de vida, Cascais foi sendo dotado de infra-estruturas que procuravam responder às crescentes solicitações do novos habitantes. Habituados a regalias que, nessa época, apenas existiam na capital, os novos cascalenses, através das suas influências e do génio pessoal de alguns, criaram neste local uma panóplia de inovações que também contribuíram para um progresso e para um desenvolvimento sem igual.

Em segundo lugar, e pese embora o carácter eminentemente positivo de grande parte dessas circunstâncias, que acabaram por tornar Cascais num dos Concelhos mais evoluídos do País, é fundamental fazer ressaltar o conjunto de circunstâncias menos positivas que resultaram deste facto.

A sustentabilidade estrutural, quase sempre agregada a uma pré planificação que promove um equilíbrio entre as necessidades dos habitantes e a velocidade de evolução das instituições, acabou por ser abalada de uma forma circunstancial. As necessidades efectivas daqueles que habitavam em Cascais, em cada um dos momentos da sua vasta e prolixa história, estiveram sempre além da capacidade de resposta das instituições que, ontem como hoje, trabalham e planeiam sempre as suas actividades em função de necessidades que estão já quase sempre ultrapassadas quando se torna possível a sua concretização.

A rede viária, o saneamento básico, a distribuição de água, de electricidade e de gás, a recolha de resíduos urbanos ou industriais, ou até a gestão do parque urbano do município, contrastando com o enorme apogeu da sua vida social, foi-se progressivamente degradando, facto que culminou, pouco tempo depois da revolução de Abril de 1974, com o caos que resultou do enorme número de novos habitantes que, de uma forma politicamente correcta mas completamente ineficaz, anárquica e desordenada, vieram habitar para este município.

As soluções para a vivência caótica do Concelho de Cascais, principalmente ao longo dos últimos trinta e oito anos, têm-se pautado pela resposta pronta das instituições locais. Ninguém nega, como é evidente, o esforço, o empenhamento e a audácia de quase todos aqueles que, em nome de forças partidárias díspares, têm governado Cascais nos últimos tempos. No entanto, a prontidão com que se procuraram respostas e se empreenderam soluções, mais do que imbuída da necessidade  de salvaguardar os interesses de Cascais e dos cascalenses, foi condicionada de forma evidente pelos interesses partidários municipais ou Nacionais, que, mercê do seu carácter recente e da inexperiência dos seus quadros, se viram obrigados a recorrer a experiências desenvolvidas noutras partes da Europa e do Mundo. A história recente de Portugal é assim, mais do que um período de descoberta e de desenvolvimento, um espaço no qual, de forma desajeitada e desordenada, se experimentam soluções velhas para resolver novos problemas e que, como não podia deixar de ser, se caracterizam sobretudo pela ineficácia e pelo agravamento da situações preexistentes.




A importação para Cascais de modelos evolutivos de outros locais, quase sempre sem o cuidado, e muitas vezes sem o tempo necessário à sua adequação e adaptação a realidades novas, acabou por agravar os desequilíbrios internos e, principalmente nos últimos cinco anos, começou a contribuir para o desaparecimento das riquezas naturais e das condições que, antes de aqui habitar o Homem, fizeram deste território um espaço fundamental no contexto daquilo que haveria de ser o território Nacional.

O ambiente, a economia, a assistência social, a salubridade e a governabilidade local, mais do que em partidos ou coligações que possam trazer para Cascais figuras mais ou menos preponderantes da vida política, económica ou social do País, devem encontrar respostas no seio de Cascais e dos cascalenses. A sociedade civil, como hoje teimosamente e de forma pretensiosa se procurar distanciar os governados dos governadores, deve assumir, de forma permanente e com todas as consequência de tal facto, a governação dos locais onde habita.

De facto, e atendendo principalmente ao conhecimento de causa que deve suportar as decisões institucionais, reiterando a opinião de que a actividade política, dando ênfase às suas raízes clássicas, deve representar à vontade, à necessidade e à sensibilidade dos cidadãos nas escolhas que fazem para si próprios e para aqueles com quem co-habitam, não faz sentido nenhum, neste final de século e de milénio, teimar em impor aos munícipes de qualquer Concelho de Portugal respostas que, pelas suas características, não resultem da sua própria vontade e empenhamento.




Os instrumentos de gestão urbana, pelo seu carácter abrangente e pela sua linearidade ao nível das restrições que impõem ao desenvolvimento do Concelho, são assim uma das principais respostas aos muitos problemas de desordenamento que neste momento afectam Cascais. A sua concepção e concretização, mais do que qualquer outra decisão emanada dos poderes municipais, deve ter em conta  as características próprias daqueles que vão ser abrangidos pelas suas directivas, uma vez que, caso contrário, dificilmente poderão representar os interesses e, desta forma, verdadeiramente representar aqueles que ali habitam.

O Plano Director Municipal de Cascais, que se encontra agora em fase de revisão, representa, por tudo isto, o ponto nadir na gestão urbana e política do Concelho, definindo prioridades e faseando um desenvolvimento que, a ocorrer ao ritmo da vontade discricionária, em pouco tempo acabaria por desvirtuar por completo as características próprias desta municipalidade.

O futuro, baseado nos pressupostos que a Sociedade Civil agora pode fornecer, poderá assim ser de verdadeiro progresso e desenvolvimento concertado, sinónimo de qualidade de vida e de segurança para todos ou, pelo contrário, de vil corrida ao betão, desfavorecendo e contrariando aquilo que de bom Cascais tem ainda para oferecer.



Cascais, Dezembro de 2012

terça-feira

Mensagem de S.A.R., o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança no 1º de Dezembro de 2012




Portugueses:
Estamos a viver mais um 1º de Dezembro, o dia em que se afirmou a vontade de independência nacional e os portugueses disseram “Nós somos livres e o nosso Rei é livre”. Para nós, o 1º de Dezembro aconteceu uma vez e o 1º de Dezembro acontecerá sempre.
Mas hoje, vivemos um 1º de Dezembro diferente.
Cada vez mais portugueses enfrentam a angústia de não saber como cumprir os seus compromissos financeiros, e mesmo como irão pagar as despesas básicas das suas famílias.
A todos eles, quero manifestar a minha solidariedade.
Hoje, atingimos aquele limite em que Portugal tem uma economia em recessão e se esgotou a capacidade do Estado se financiar. Os sucessivos aumentos de impostos já não contribuem significativamente para aumentar a receita do Estado, porque as famílias e as empresas já não conseguem o suficiente para os comportar.
Hoje, tal como em 1640, mas devido à irresponsabilidade de alguns governantes da III República, a nossa política depende da vontade de estrangeiros. A população tem dado provas de grande civismo. Por isso, a todos os que se manifestam de forma cívica em favor de um Portugal mais justo e mais independente, quero manifestar o meu apoio.
Na crise presente, é justo que peçamos contas a quem nos colocou nesta situação de pré-falência e que se tentem recuperar fundos fraudulentamente desviados . Apoio os que pedem a criminalização por actos públicos de gestão danosa.
O princípio do estado de direito democrático é a base da nossa ordem pública. E esse princípio baseia-se na dignidade da pessoa humana e na afirmação de que o cidadão deve estar ao serviço do Estado e o Estado ao serviço da pessoa.
Mas, hoje, existem muitos privilegiados a beneficiar das chamadas “gorduras de Estado”. Muitos fornecimentos, contratações, parcerias público privadas e ajustes directos deveriam ser reavaliados à luz do interesse público, tal como revelado por auditorias do Tribunal de Contas.
Por isso, a todos os que exigem que o Estado respeite o direito, eu digo: a Instituição Real está convosco.
No estado democrático, os partidos políticos têm uma missão essencial a desempenhar. Mas seria útil que as pessoas de boa vontade se unam aqueles partidos que melhor defendam os seus ideais, para que melhor possam servir o País.
No entanto o exercício da cidadania não se limita à actividade partidária.
São, felizmente, muitas as Associações Cívicas que têm mobilizado as boas vontades com acções eficazes de solidariedade e caridade. São fundamentais para um futuro melhor. Deixemo-las trabalhar, em vez de perder tempo com críticas e insultos que nada ajudam a minorar o sofrimento de quem delas precisa.
Por seu lado a Causa Real e as dezenas de associações reunidas na Plataforma Activa da Sociedade Civil, criam sinergias entre milhares de pessoas dedicadas a implementar soluções para os problemas nacionais.
Quero declarar-lhes o meu pleno empenho nas causas que defendem. Não esqueço que, nas redes sociais, muitos defendem a Instituição Real. E lanço um apelo para que passem do virtual ao real, colaborando com a Causa e que mais associações e pessoas se juntem a quem trabalha no campo cívico e humanitário com eficácia e generosidade.
Uma das razões que comprometem o nosso futuro é a baixa natalidade. O Estado português não favorece fiscalmente as famílias que têm filhos, não toma medidas eficazes que ajudem as mães solteiras, não facilita a adopção de crianças.
Perante o já chamado “inverno demográfico” da falta de natalidade, para mim, que acredito no direito à vida, é difícil aceitar que o Estado, com o dinheiro dos nossos impostos, subsidie o “aborto a pedido”.
Após mais de noventa mil “vítimas legais” em Portugal nos últimos cinco anos , é altura de percebermos que a lei actual é insustentável !
“ Uma Nação que mata os seus filhos não tem futuro “ disse a Madre Teresa de Calcutá .
Peço que se lembrem que sem renovação das gerações, o Estado não conseguirá honrar os compromissos financeiros, em particular as reformas de quem descontou para a Segurança Social.
Há muitos anos que venho denunciando o nosso modelo errado de “desenvolvimento sem progresso”, sem uma visão global do futuro.
Por todo o País, tenho encontrado exemplos de pequenos e grandes empresários de sucesso, alguns reconhecidos internacionalmente.
A burocracia estatal e a lentidão da justiça têm provocado graves entraves a quem quer produzir. Temos que exigir mais ao Estado. Mais responsabilidade, mais respeito pelos governados que o sustentam, e, acima de tudo, mais dignidade.
Precisamos urgentemente de um Estado moderno e eficiente, que assegure a nossa soberania e a ordem interna, garantindo a oferta de bens públicos em sectores essenciais e a regulação e estímulo à actividade económica nos restantes, de forma a propiciar o crescimento das empresas e a oferta de emprego, Precisamos de um Estado que seja o primeiro a dar o exemplo, pagando a tempo e horas, bem como assegurando que os investimentos e gastos públicos sejam racionais.
O Estado moderno não se pode substituir ao sector privado na criação de riqueza e não pode ceder à tentação de intervir em tudo.
O Estado social moderno deve dar apoio aos mais desfavorecidos. Quanto menores forem os desperdícios, maior será a proporção da riqueza que chegará a quem precisa.
Para isso, não podemos ter uma sociedade toda subsidiada; não podemos ter um sector empresarial subsídio-dependente.
Como representante e chefe da Casa Real Portuguesa, é esta a reforma de Estado que preconizo. Um Estado que siga e imponha o direito, um Estado que apoie os mais desfavorecidos, um Estado eficaz,, um Estado que fomente o desenvolvimento, um Estado que olhe o futuro, um Estado de e para todos os portugueses.
Se as monarquias democráticas actuais existem e têm um papel fundamental é porque nelas o exemplo vem de cima.
Importa prestar atenção à clara demonstração das nossas verdadeiras capacidades que é dada pelo sucesso que os portugueses obtêm no estrangeiro !
Sem qualquer ajuda do Estado, e no cumprimento dos desígnios da Instituição Real, eu e minha mulher Isabel temo-nos deslocado a países da Europa e da Lusofonia para promover Portugal.
Foi assim no Grão–Ducado do Luxemburgo onde 25% da população activa é portuguesa.

Na Galiza, encontrei um vivo interesse pela língua portuguesa e pelas relações económicas e culturais connosco. A tão interessante e antiga fala de lá também é conhecida como “o português da Galiza”. Em Roma, tivemos ocasião de homenagear personalidades das Casas Reais europeias empenhadas em acções de solidariedade. E nos Estados Unidos convivemos novamente com a dinâmica comunidade portuguesa de Nova Jersey e Nova York.
Tive, ainda, a oportunidade de escutar do Sr. Presidente da República de Cabo Verde, palavras de encorajamento para que a CPLP possa evoluir politicamente no sentido de uma Confederação, ou de uma União, aproximando as nações irmanadas pela língua de Camões.
Encontrei a mesma disposição entre os governantes de vários países da CPLP, incluindo o Brasil.
Cada dia são mais os que perfilham a visão de que, juntos, os países de língua portuguesa podem e devem construir um destino comum que será melhor do que o que actualmente se configura em separado.
Neste 1º de Dezembro, aproxima-se a data em que celebramos o Natal. Não deixemos que esta data seja desvirtuada publicamente por apelos ao consumismo.
Façamos desta data um estímulo à nossa tradição de solidariedade e caridade, apoiando as instituições que organizadamente trabalham nesse sentido, como eu e a minha Família procuramos fazer.
Há mais de um século que a minha Família se encontra impedida de exercer a missão que desempenhou desde que Afonso Henriques foi aclamado “Rex Portugalorum“, Rei dos Portugueses.
No passado 5 de Outubro tive ocasião de me dirigir aos portugueses, celebrando a independência alcançada nesse dia de 1143, com o Tratado de Zamora.
Precisamos de regressar a esse nosso futuro. De agir como sempre soubemos fazer após os desastres do passado: regenerando Portugal mas em bases mais sólidas, aprendendo com os erros cometidos.
Apelo aos portugueses para que se unem e actuem noutro projecto, para um Portugal melhor.
Apelo aos jovens, nomeadamente os que se ausentaram, e a todos, lá como aqui, para que continuem a acreditar em Portugal.
Para essa nova etapa da História, aqui declaro que eu e a minha família estamos disponíveis e dispostos a servir Portugal nos cargos para que os portugueses nos desejarem.
Viva Portugal !

A Corte em Cascais (1870-1910)





por: João Aníbal Henriques

Foi motivo de grande perplexidade  para o País a chegada da Corte a Cascais em 1870. Ao contrário do que vinha sucedendo desde há muitos séculos, a Família Real optou por deixar Sintra no final do Verão para vir para Cascais onde o Rei Dom Luís se deleitava com os salpicos salgados da água do mar. A decisão de se instalar na até aí quase desconhecida vila situada no extremo mais Ocidental da Europa, surge envolvida em polémica e nalguma galhofa junto dos círculos socialmente mais favorecidos da moderna sociedade Lisboeta. É que enquanto que em Sintra, em Évora, em Mafra ou em Vila Viçosa a Corte se deslocava de palácio em palácio, instalando-se em edifícios deslumbrantes que davam forma à grandeza que se imagina que acompanha sempre a figura do Rei, em Cascais a Família Real ficava instalada no Palácio do Governador da Cidadela que é, na sua diminuta expressão, o reaproveitamento das antigas instalações militares da velha guarnição…

Mas a situação ainda se complica um pouco mais quando falamos do resto da Corte. As grandes famílias Portuguesas, habituadas ao fausto e à grandiosidade dos salões da capital, sentem-se obrigadas a vir para Cascais com os Reis e a Família Real, mas aqui chegadas, contrariamente ao que acontece noutros locais, não têm outro remédio senão instalar-se nas minúsculas e velhas casinhas dos pescadores, trazendo consigo os serviços de refeições, toda a loiça, roupa de cama, etc. Nos primeiros dias depois da chegada a Cascais chegava a ser cómica a cena, com dezenas de criados trajados a rigor a esforçarem-se o mais que podiam para limpar e aconchegar os casebres Cascalenses que os pescadores locais lhes alugavam para a estadia de veraneio.




Nas revistas da moda e até junto dos mais conceituados escritores da época como Ramalho Ortigão, são às dezenas as crónicas e as descrições deste inusitado momento. Cascais, povoação conhecida por ser “feia” e pelo ditado que corria de boca em boca e dizia “a Cascais uma vez e nunca mais”, sentava-se ao espelho e pinta-se como se fosse uma primeira bailarina de uma qualquer sala de ópera Europeia. Depois de tratada, e principalmente durante os meses em que por cá permaneciam os visitantes ilustres da capital, tornava-se o espaço da moda onde convinha ser-se visto pois disso dependia o êxito social do Inverno seguinte.




A partir dessa altura, como se tivesse sido transformada num enorme palco de teatro, Cascais tornou-se a terra do fingimento. Fingia-se não sentir o desconforto dos casebres precários onde "sangues-ilustres" eram consumidos pelos percevejos; fingia-se ter dinheiro que não se tinha ou, tendo-o, fingia-se ter um sangue azulíssimo… Era em Cascais que, depois de muito penar nos empregos e trabalhos árduos da capital, se gastavam as economias guardadas com esforço; e era também aí, em episódios caricatos e repetidos vezes sem conta ao longo dos anos, que se traçavam as alianças entre as famílias, as estratégias empresariais e muitas vezes até os casamentos que deram forma a uma nova geração de Portugueses. 





segunda-feira

O Estoril em 1934



Espionagem e Contra-Espionagem em Terras do Estoril





Num dia tenebroso em plena Segunda Guerra Mundial, quando pela Europa se morria aos milhares, no Estoril mantinha-se a calidez de outros tempos. 

Dias de sol e mar, onde a Praia do Tamariz se transformava em passarelle para os melhores e mais ousados fatos-de-banho daqueles tempos… fingia-se que a guerra não existia e que toda aquela gente que por ali deambulava não era espiões e contra-espiões; que não tinham sido enviados pelos nazis e pelos aliados para tentarem perceber o que é que por ali se passava. E não se percebia nada. Não se sabia quem pertencia a cada lado e ali, lado a lado no casino, partilhando as moedas que iam enchendo as máquinas da sorte e as bebidas que tal como se tudo fosse uma festa iam rodando, todos fingiam não perceber o que se passava. Nem quando no Hotel Atlântico surgiu hasteada a bandeira Alemã. Todos fingiram não ver esse acto ultrajante e as coisas continuaram como dantes.




Também o escritor Inglês Ian Fleming esteve hospedado no Hotel Palácio. 

Diz-se que também ele era espião ao serviço dos aliados, mas na prática ninguém sabe se ele o era de facto e, sendo, que lado da guerra é que servia. O certo é que ele encontrou no Estoril um cenário improvável de continuado e completo fingimento. Nada era aquilo que parecia ser a folia imperava nos sorrisos permanentes, nos courts de ténis, nas piscinas, no casino, nos átrios dos hotéis e no golfe… como se não fosse nada e não morressem lá fora, logo ali do outro lado da fronteira, milhares de pessoas quotidianamente. E nasceu James Bond. O espião improvável, campeão do glamour e envolto nos enredos que Hollywood se habituou a explorar. 





Mas esse cenário era o dia-a-dia do Estoril. De um Estoril onde tudo era possível e no qual a lógica de outros locais não imperava.


quinta-feira

O Sagrado e o Profano na História da Educação





Nas sociedades ditas primitivas, tal como o demonstram os vestígios arqueológicos que são hoje já bastante conhecidos, os actos de cada indivíduo são considerados pelos outros como possuindo repercussões directas sobre a vida de cada um. Se, por exemplo, um determinado caçador consegue criar uma técnica de caça que lhe permita caçar mais do que os restantes, alimentando-se melhor e contribuindo positivamente para a fundamentação do posicionamento da sua família no seio do seu grupo, esta descoberta modifica de forma assaz curiosa a organização de toda a comunidade que, em forma de espiral crescente, vai sendo afectada pela modificação que, numa primeira fase, apenas havia afectado o indivíduo singular. Numa situação de excelência, em que o criador consegue ainda utilizar e controlar o saber sem que o mesmo seja conhecido ou controlado pelos seus parceiros, a nova armadilha ou a nova técnica de caça vai progressivamente influindo no estatuto político e social do protagonista. Em sociedades já estruturadas, hierarquizadas e organizadas, o segredo do poder não pode estar restringido ao conhecimento, pois nesse caso a mais valia social preexistente seria permanentemente posta em causa sempre que algo de novo fosse descoberto. Neste tipo de sociedades, a transcendência do poder, que inicialmente havia sido artificialmente suportada pelo conhecimento, deriva para um grau efectivamente superior, ultrapassando a própria essência daquilo que se sabe e estabelecendo um posicionamento político e social que deriva de uma institucionalização de índole religiosa.





Simplificando: quem descobre, por exemplo, como interpretar os fenómenos naturais de modo a melhor a sua produtividade agrícola, vai beneficiar ao nível da sua produção de um acréscimo e de uma melhoria significativa da sua qualidade de vida. A validade deste conhecimento, e a manutenção das regalias a ele inerentes, mais do que do próprio saber, deriva da forma como se gere e garante o controle efectivo daquilo que se sabe, pois caso contrário, alargando o âmbito dessa descoberta à generalidade dos membros do grupo, a qualidade de vida de todos tornar-se-ia igual e, para desespero do descobridor, o seu poder, carisma e estatuto perder-se-iam. A forma mais eficaz de manter os privilégios inerentes à descoberta, numa sociedade de tipo primitivo, passa por conseguir fechar o círculo daqueles que controlam a novidade, criando e estabelecendo regras pedagógicas que permitam, por exemplo, a manutenção do saber dentro do círculo fechado da família nuclear. Como as descobertas podem ser realizadas por qualquer dos outros membros ou famílias que compõem este grupo, é evidentemente necessário que o descobridor, para além do controle pedagógico do saber que lhe garante a posição social e política, consiga criar uma estrutura que garanta a manutenção, independentemente do conhecimento adquirido da mais valia que obteve com a descoberta. A solução para este problema, na generalidade dos povos e das culturas estudadas até à actualidade passa sempre pelo estabelecimento de um edifício político com base religiosa, fazendo o sagrado suportar o poder profano e vice-versa.