Aconteceu finalmente.
José Sócrates, depois de pressionado pelos bancos e pelas instâncias Europeias, foi obrigado a reconhecer o estado de caos completo e ruína eminente em que se encontra a república.
É estranho, depois de muitos meses em que a generalidade dos Portugueses tentou apelar ao bom senso e ao juízo do governo, que só agora, por imposição forçada vinda de fora, ele se tenha resignado a aceitar o veredicto final.
E não se pense, como ele tentou fazer crer, que o motivo que o impedia de avançar para a solução inevitável, que a sua preocupação era com a qualidade de vida dos Portugueses, que vão ser agora rude e duramente afectados pelas condições associadas ao resgate, nem tão pouco pelas consequências que este acto terá na imagem externa de Portugal.
Numa altura em que era imperativo que se assumisse a situação e se procurassem soluções eficazes que resolvessem os problemas, José Sócrates, o governo, a presidência da república e a generalidade dos partidos com assento parlamentar, estiveram entretidos a pensar e repensar estrategicamente as suas decisões de forma a garantirem que seriam pouco chamuscados nas suas pretensões eleitorais pelo estado a que Portugal chegou. Enganaram assim, em conjunto, os Portugueses.
Depois, desenvolvendo um exercício vil de profundo desrespeito por este País quase milenar, esqueceram-se que é a terceira vez que Portugal solicita um resgate idêntico. Fundado em 1143, quando a Europa estava envolvida nas trevas da medievalidade e num caos sem igual, nasceu um Portugal que se identificava pela forma como foi capaz de se organizar no velho continente. Depois foi preciso esperar oitocentos e trinta e três anos (833!!!) para que o governo de Portugal pedisse ajuda externa pela primeira vez. Logo depois, em meados dos anos oitenta, novo pedido e novo caos financeiro. Agora, em 2011, o terceiro pedido. Ou seja, em pouco mais de 35 anos, desde o 25 de Abril, houve três pedidos de resgate em Portugal. Três. Um por década. Três vezes em que Portugal não foi capaz de honrar os seus compromissos como aconteceu durante os 833 anos precedentes.
Está visto que o problema não está em Portugal nem nos Portugueses. Não está na crise internacional e no dito caos em que nos explicam que se encontra a Europa. O grande problema está no regime dito democrático em que nos colocaram que, pela terceira vez em três décadas, provou e comprovou que não é adequado aos interesses, às características e às necessidades de Portugal.
José Sócrates, com a desfaçatez que só ele consegue ter, ainda ousou mencionar no discurso em que anunciou o descalabro que a culpa para esta situação é dos partidos da oposição!... Disse que lhe chumbaram o PEC IV há quinze dias e que, por isso, Portugal soçobrou!... Como é possível dizer isto num canal público depois de seis anos à frente do governo! Dizer isto depois de um governo que teve maioria absoluta durante tantos anos! Dizer isto sem assumir a culpa pelas decisões escabrosas; pela incompetência total destes últimos seis anos; pelos esquemas e estórias mal explicadas em que envolveu o nosso País! Dizer isto, sem perceber que o problema é seu, e também dos restantes partidos que tomaram conta do País desde há 35 anos...
Agora é tempo de dificuldades. Mas também é tempo de transparência, rigor, frontalidade e honestidade. Portugal já não está habituado a isto, mas terá agora uma oportunidade única para se reformar e para reencontrar um caminho que lhe permita recuperar a dignidade dos primeiros 833 anos.
Porque Portugal vale a pena. Mesmo que eles digam que não.