segunda-feira

Homenagem ao Comandante Joaquim Theotónio Segurado em Cascais

por João Aníbal Henriques

Num acto digno de uma nota especial, a Câmara Municipal de Cascais e a Junta de Freguesia de Cascais e Estoril homenagearam o Comandante Joaquim Theotónio Segurado numa cerimónia que assinalou a gratidão de Cascais às corporações de bombeiros municipais no dia em que se assinala o 41º aniversário das grandes cheias que destruíram a vila na madrugada de 19 de Novembro de 1983.



No seu discurso de descerramento da lápide comemorativa colocada no jazigo onde repousam os restos mortais do Comandante Segurado, o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Nuno Piteira Lopes, sublinhou o génio de Segurado enquanto fundador da primeira corporação de bombeiros cascalense: “41 anos depois desse dia fatídico aqui estamos para lhes reiterar o nosso agradecimento. E fazemo-lo num preito de homenagem ao Comandante Joaquim Theotónio Segurado que, com a sua capacidade de visão e a determinação que todos recordam, fundou em Cascais a sua primeira corporação de bombeiros. Sem ele teriam sido muitas as desgraças que afectariam a nossa terra, e graças a ele estamos hoje convosco para relembrar esta figura de primeira importância para a História de Cascais!”.

O autarca relembrou ainda as palavras sempre extraordinárias do historiador cascalense Pedro Falcão que, sobre o Comandante Segurado disse com muita piada que em Cascais nada se fazia sem o conhecimento e autorização do Comandante Segurado. E assim era. O Comandante Segurado era tabelião notário, autarca, músico, poeta, pintor e bombeiro… para além da primeira corporação de bombeiros de Cascais, fundou ele o teatro, as agremiações de música, a Farmácia da Misericórdia. Foi ele quem liderou o movimento que permitiu a construção do Hospital de Cascais, da Maternidade do Monte Estoril, da Praça de Touros… tudo enquanto tocava na banda dos bombeiros e encenava, produzia e actuava nas peças de teatro que subiam ao palco do Teatro Gil Vicente.

E enquanto autarca, sobretudo durante o conturbadíssimo período da Primeira República, teve a visão de criar em Cascais os primeiros bairros de alojamento social. Foi, aliás, ele próprio quem inventou o conceito, que se espraiou pelo país e que permitiu a milhares de portugueses terem uma casa condigna para criarem as suas famílias! Foi o Comandante Segurado quem em Cascais construiu o Bairro Operário José Luís e o Bairro dos Pescadores, num acto inédito de defesa da qualidade de vida dos Cascalenses.

Numa manhã marcada pelo registo da emoção, em que participaram também a bisneta e a trineta do Comandante Segurado, ainda foi possível ouvir o registo em vídeo das palavras de Maria Margarida Segurado, neta do homenageado e que o conheceu pessoalmente na sua meninice.

Uma manhã plena de Cascais que ligou o futuro do Concelho ao esteio fundador de um dos homens que ajudou a construir os alicerces fortes da Identidade Municipal!








Fotografias de Diogo Batista e Vídeo de Pedro Ramos (CMC)


Um Sonho Felizmente Inconcretizado na Praia do Guincho


por João Aníbal Henriques

No célebre livro “Memórias da Linha de Cascais” Branca de Gontha Colaço e Maria Archer descrevem romanticamente as várias estações ferroviárias da nossa famosa linha de comboio traçando um quadro de excelência que as autoras sabiam que correspondia à verdade.

Quando chega a Cascais, a descrição da linha menciona o projecto existente naquela época de estender a linha férrea até Sintra, atravessando a Quinta da Marinha e a Praia do Guincho.

Num rebate onírico próprio daqueles tempos, auspiciam um futuro grandioso para aquele nosso areal encantado: “Um dia, quando a linha de Cascais estender para além de Cascais os seus braços de ferro, a Praia do Guincho – com o seu mar e o seu areal de maravilha e os degraus do escadório da escarpa de Sintra para apoio do casario – há-de tornar-se na grande praia de Lisboa, na grande praia do futuro”…

Felizmente não tiveram razão e o sonho de prolongar o comboio através da Praia do Guincho manteve-se inconcretizado, preservando assim a magia sagrada da natureza recôndita daquele lugar tão especial. Por aqui se vê que nem sempre o progresso e o desenvolvimento rimam com a excelência que sonhamos para a nossa terra.