Acaba de ser lançado no ISCSP onde o autor é Professor Catedrático e Presidente do Conselho Científico o livro “Colonização Moderna, Descolonização e Dependência” da autoria de António de Sousa Lara.
Trata da Teoria da Colonização no âmbito das Relações Internacionais de cujo departamento o autor é também o Coordenador, bem como das colonizações modernas comparadas terminando com uma parte relativa à nova temática do imperialismo e dependência no período pós-descolonização.
Depois deste lançamento, o autor prepara o lançamento de outro livro, bem como o quarto volume dos estudos colectivos que coordena e no qual participa como co-autor relativos à Subversão, caos e guerra.
Blog sobre Portugal, os Portugueses, a sua História, e a realidade política, económica, cultural e social Nacional.
domingo
O Herdeiro de Antioquia de Paulo Costa Gonçalves
Cruzar a História com as histórias, recriando um enredo complexo e interessante, é um desafio nada fácil de concretizar mas que dá forma ao livro “O Herdeiro de Antioquia”, da autoria de Paulo Costa Gonçalves, lançado recentemente pela Chiado Editora.
Conjugando uma trama que perpassa quase mil anos de História, a partir da invasão da Cidade de Antioquia no ano de 1098 até à Lisboa cosmopolita de 2013, Paulo Costa Gonçalves atravessa de forma arrepiante as paixões e os sentimentos de uma família marcada por uma lendária maldição.
Num ritmo frenético que prende quem a lê, a história enreda-se em pistas e contra-pistas, dando forma a laivos de inesperada surpresa que surgem a cada momento da acção, conjugando-se num clímax imprevisível que garante emoções fortes até à última página. Os protagonistas, centrados num humanismo que explica a força e a determinação com que lidam com os muitos percalços que os envolvem, oferecem-nos uma perspectiva diferente de uma Lisboa moderna e em que muito se passa para além daquilo que nos é dado ver.
Licenciado em Sociologia e Planeamento pelo ISCTE-IUL, Paulo Costa Gonçalves considera-se, para já, uma espécie de escritor que, na sua singularidade, tenta ser um contador de histórias vertiginosas e sagazes e que tenham a capacidade de surpreender os leitores.
segunda-feira
O Milagre Alquímico de Estremoz
Existem cidades que são mais do que uma mera cidade. Estremoz, assente na brancura imaculada do seu mármore de qualidade conhecida e reconhecida internacionalmente, é um desses espaços especiais. Conjuga uma história milenar com um vastíssimo rol de histórias e lendas que, oferecendo-lhe a grandiosidade das grandes capitais, a envolvem num laivo de glamour que envolve quem tem a sorte de nela se perder.
por João Aníbal Henriques
Estremoz é uma cidade especial.
Dividida em duas partes que se conjugam operando como dois pólos de atracção
junto daqueles que a visitam, a cidade comporta um intrincado e emaranhado
conjunto de ruelas antigas que dão forma ao seu espaço medieval, compartimentado
dentro das muralhas do seu ancestral castelo, e o amplo espaço moderno, que se
espraia ao longo da planície, com as suas praças bem delineadas e os monumentos
que valorizam cada esquina.
Quem entra em Estremoz pela
primeira vez, fica imediatamente marcado pelo impacto que resulta da sua torre
medieval. Do alto da colina onde assenta o núcleo mais antigo do burgo, a torre
é possivelmente o mais antigo monumento da cidade, uma vez que o palácio real,
bem como todo o quarteirão envolvente, foi completamente destruído por uma
misteriosa explosão acontecida durante uma noite de Inverno no Século XVII. À sua volta, com aquele tom intimista que a
cidade ainda tem, tudo o resto são reconstruções mais recentes, sendo que a
grande maioria foi construída durante o reinado de Dom João V e com o apoio da
Casa Real.
Apesar de aparentemente não fazer
qualquer sentido, pois sendo cidade pequena quando comparada com as capitais de
Évora, Portalegre e Beja que a envolvem, a monumentalidade e a grandeza de
Estremoz prende-se com o carácter simbólico que subjaz da sua história muito
especial.
O primeiro personagem grande da
História de Estremoz, depois de uma longa ocupação humana que se pressupõe ter
começado ainda na Pré-História mas que teve momentos de grande fulgor durante o
período Romano e, mais tarde, sob domínio Muçulmano, é Geraldo o Sem Pavor,
herói mítico do Alentejo que, sob ordens de Dom Afonso Henriques, terá
reconquistado para a Cristandade grande parte das cidades do Sul de Portugal. Sabe-se
que Geraldo conquistou Estremoz em 1185 e que, mercê do período conturbado que
então se vivia, ela foi perdida e reconquistada muitas vezes até ter entrado em
definitivo na posse dos Reis de Portugal. Em 1258, pela mão de Dom Afonso III,
recebeu o seu primeiro foral, facto que sustenta e comprova a importância que
tinha no contexto da consolidação política nacional.
De entre outros, foi Dom Dinis um
dos principais impulsionadores dessa importância relativamente à cidade. Foi
ele quem, possivelmente por gosto pessoal relativamente ao espaço e à paisagem,
mandou edificar o Paço Real e a torre de menagem atrás mencionada, que passaram
a funcionar como baluarte da defensão do reino nas paragens longínquas do
Alentejo.
O seu topónimo – Estremoz – é,
aliás, um repositório importante dessa situação extrema em que se encontra a
cidade, localizada numa zona de fronteira e sempre sujeita às vicissitudes e às
pressões que dela derivavam.
A Rainha Santa Isabel, ligada de
forma indelével e permanente aos destinos de Estremoz, onde aliás morreu em
1336, vê reforçados os seus laços com a urbe como consequência desse facto. A
sua santidade, mais do que ao milagre das rosas, que lhe dá fama, fica a
dever-se ao trabalho que efectivamente fez pela paz no reino de Portugal e que,
por vicissitudes diversas, a traz amiúde até estas paragens.
Filha do Rei de Aragão e de uma
princesa Italiana, Isabel casou com Dom Dinis e sofreu em vida as amarguras de
um casamento do qual parece que resultou pouca afeição. O rei, conhecido
admirador do belo sexo, dedicava-se pouco à sua santa esposa e procurava amiúde
o folguedo junto das damas da região. Conhecida pela sua bonomia, a rainha terá
sido conivente com tal situação, recebendo no paço, onde lhes facultava condições
de vida e uma educação semelhante à que dava aos seus filhos naturais, os
vários bastardos reais.
O futuro Dom Afonso IV, seu filho
primogénito e legítimo herdeiro do trono, foi ele próprio alvo dessa situação,
dado que o seu pai, tendo preferência por um dos seus filhos bastardos, teimou
em deixar-lhe por herança o reino de Portugal. O príncipe, defendendo os seus
direitos, terá dado início à primeira guerra civil da nossa história, que teria
sido muito mais sangrenta se não fosse a intervenção permanente da sua mãe a
Rainha Santa Isabel.
Em 1336, a antiga rainha que
havia professado em Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, onde desejava passar os
seus últimos dias ajudando os pobres, vê-se obrigada a nova e derradeira viagem
a Estremoz para evitar uma nova guerra do seu filho agora já rei com o seu
cunhado Rei de Castela. Deixando Coimbra carregada de peste, a rainha sucumbe
em Estremoz, não sem antes evitar novo derramamento de sangue e de ter deixado
expressa a sua vontade de ser sepultada em Coimbra conforme havia planeado
fazer.
O cortejo fúnebre, que se alongou
durante vários dias sob o calor tórrido do Julho no Alentejo, transportou os
restos mortais da rainha de Estremoz até Coimbra. O caixão, levado em ombros
pelas principais personagens do reino, acabou por rebentar durante o percurso,
deixando sair um líquido viscoso que se ia espalhando ao longo do trajecto.
Mas, para surpresa e gáudio dos que tiveram a sorte de participar neste triste
evento, o líquido que saia deixava no ar um forte aroma a flores que reforçou a
aura de santidade que já se atribuía à rainha. Não se sabendo com exactidão
quanto haverá de lenda e de realidade nesta história, o certo é que, muitos
séculos depois, quando o caixão voltou a ser aberto quando se procedeu à
transladação do corpo de Santa Clara-a-Velha para Santa Clara-a-Nova, se
encontrou incorrupto o corpo da rainha, sendo que ainda hoje, quase setecentos
anos depois da sua morte, se expõe a sua mão à devoção dos Portugueses.
Mas para além de Geraldo – o sem
pavor, de Dom Dinis – o plantador de naus a haver, e da rainha Santa Isabel,
também por Estremoz passaram outras ilustres figuras que ajudam a perceber a
real importância desta cidade única de Portugal. Em 1367 morreu em Estremoz o Rei
Dom Pedro I, muitos anos depois dos míticos e românticos amores com a sua
eterna apaixonada Inês; Em 1385, foi Estremoz das poucas praças que sem vacilar
apoiou a Causa Nacional durante a crise que levou ao trono o Mestre de Avis e
que deu forma à Ínclita Geração, tendo sido dali que Dom Nuno Álvares Pereira,
o Condestável Santo que fez nascer a Casa de Bragança e aquela que virá a ser a
última das dinastias no trono de Portugal, saiu para as batalhas dos Atoleiros
e de Aljubarrota, dando corpo a uma defesa total e intransigente do interesse
Nacional. Da mesma maneira, alguns anos depois, é a Estremoz que o rei Dom
Manuel I se dirige para entregar a Vasco da Gama a importante tarefa de
descobrir o caminho marítimo para a Índia e de estabelecer o contacto com o
Prestes João…
Não se percebendo bem de onde vêm
tão ilustres pergaminhos, perdidos no sem-sentido que dá forma à história
local, o certo é que Estremoz conjuga em si própria os encantos maiores do Sul
de Portugal. Tal como o País vai sobrevivendo quase incólume às muitas
desgraças que dão forma à sua história maior, também Estremoz reafirma a sua
Portugalidade em torno de feitos e acontecimentos que se conjugam no plano das
ideias ara dar forma ao desígnio maior da nação.
Visitar Estremoz, subindo ao
amplo terraço que se encontra no topo da Torre de Menagem, é ser capaz de
reviver os passos difíceis que por ali deram os nossos ancestrais avós,
abarcando com a vista a amplitude infinita da paisagem alentejana. Deslumbrante
e avassaladora, a brancura de Estremoz acompanha a beleza extraordinária do seu
mármore que, depois de um processo alquímico associado à purificação maior das
impurezas que o compõem, se transforma na pedra maior que dá forma ao que de
melhor se construiu em Portugal. Está por todo o lado, nas asas, nas ruas e nos
lambris dos passeios. Mostra-nos a altivez, o charme e a riqueza deste recanto
mágico de Portugal.
Dia 1 de Dezembro de 2014 e a Dependência de Portugal
O dia 1 de Dezembro marca uma
data incontornável para Portugal. Em 1640, depois de avanços e recuos que foram
determinantes para a definição do conjunto de práticas que deram forma à
recuperação da independência nacional, os conjurados defenestraram (atiraram-no
pela janela) Miguel de Vasconcelos e entregaram o trono de Portugal ao Duque de
Bragança que foi aclamado como Dom João IV.
Durante muitos anos, uma prática
reiterada que procurava reforçar a nossa identidade, o dia 1 de Dezembro foi
feriado em Portugal. E foi feriado grande, devidamente celebrado um pouco por
todo o País, precisamente porque marcava o mais importante de todos os
acontecimentos políticos desde o dia 5 de Outubro de 1143 quando Dom Afonso
Henriques fez nascer Portugal…
Mas depois de 1974, com governos
atrás de governos e eleições atrás de eleições, os partidos políticos colocaram
Portugal na bancarrota e, em situação de profunda dependência estrangeira e de
subjugação à vontade de uma Europa onde a Alemanha tem a principal voz,
resolveram abolir a comemoração.
E não o fizeram de forma linear…
escondendo-se por detrás das desculpas que julgavam ser suficientes para lhes
preservar a face, optaram por uma explicação fajuta, dizendo que a abolição do
feriado seria essencial para a recuperação económica de Portugal! Dizem eles
que sem este feriado, a produtividade de Portugal aumentará de forma exponencial.
Mas mentem. Mentem porque o peso
económico da abolição deste feriado é de tal forma residual que que é possível
que não é nenhum. E mentiram também porque a única consequência directa desta
abolição é uma drástica, efectiva e muito substancial diminuição da consciência
política nacional, associando a “pouca importância da restauração da
independência” ao puro e simples esquecimento das circunstâncias que nessa
altura viveu Portugal.
Agora, sem o feriado, a restauração
da independência pura e simplesmente desapareceu das escolas, das salas de
aulas e da memória nacional. Agora, tal como queriam os estrangeiros que
controlam de forma efectiva os destinos e o devir do nosso País, está enfraquecida
da Identidade Nacional.
Olhando criticamente à nossa
volta, é árida a paisagem e vazios estão os campos onde ecoavam os gritos e as
lutas dos nossos avós… E no seu lugar, para que cumpramos o destino que quem
nos controla determinou, está o aquiescer perante interesses estrangeiros, num
laivo de subserviência de um povo que sabe que já se perdeu a independência de
Portugal.
Dia 1 de Dezembro de 2014.
Triste.
Mensagem de SAR o Senhor Dom Duarte no 1º de Dezembro de 2014
Mensagem de Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real de Portugal, por ocasião das Comemorações da Restauração da Independência, no dia 1 de Dezembro de 2014
Portugueses:
O 1º de Dezembro
é a mais nacional de todas as nossas datas.
Sem ela, todos os
outros feriados civis deixam de fazer sentido.
E por isso,
começo por saudar a Iniciativa Popular para a reposição do feriado comemorativo
do dia 1º de Dezembro!
Nós, monárquicos,
nunca a deixaremos de celebrar como aquele dia em que renasceu Portugal!
Hoje, Portugal e
os Portugueses vivem dias amargurados.
Vive a nossa
Pátria dias difíceis porque não se comporta como País livre e independente,
grande pelos seus avós, e grande pelos nossos filhos.
Não podemos hoje,
a soldo de interesses económicos duvidosos, vender essa independência que tanto
custou a tantas gerações de portugueses.
Vivem os
Portugueses dias difíceis porque o desemprego assola as famílias e destrói
capacidades e laços de vida, obrigando as mesmas famílias a terem o papel
supletivo que o Estado social já não alcança.
Vivem os Portugueses
dias difíceis porque são forçados a emigrar, sobretudo os mais jovens e
sobretudo os mais qualificados; e por muita experiência que possam trazer de
volta, fazem-nos agora falta.
Vivem os
Portugueses dias difíceis, porque manifestam pouca confiança naquelas
instituições que deveriam garantir a nossa democracia, como sejam a Justiça e a
Assembleia da República.
É nestes momentos
mais difíceis, que o povo português deve revelar as suas extraordinárias
capacidades.
Assistimos a
sinais muito recentes de que a Justiça finalmente está a funcionar, com plena
independência entre os poderes.
A nossa justiça
tem dado extraordinárias provas de independência apesar das péssimas condições
com que os juízes contam para realizarem o seu trabalho.
Sem uma justiça
rápida e eficiente não pode haver democracia.
Assistimos a que,
nas eleições autárquicas, os portugueses manifestaram o desejo de ver
independentes nos cargos municipais a serem escolhidos pessoalmente pelos
eleitores.
Assistimos a
sinais de que os cidadãos se movimentam para procurar alternativas políticas
para as eleições legislativas, mais consonantes com tudo aquilo que a sociedade
civil sabe fazer, e fazer bem.
Para todo este
desejo de renovação que perpassa pelo nosso país, estou convicto que a
Instituição Real seria muito importante, ao aproximar a população das suas
instituições políticas.
Todas as
democracias cujo Chefe de Estado é um Rei ou uma Rainha têm essa ligação muito
mais forte do que os Países onde a chefia de Estado é assumida por um político,
independentemente das notáveis qualidades pessoais que ele possa ter.
Num momento em
que os portugueses sofrem as consequências gravíssimas de muitos anos de
políticas economicamente irresponsáveis e moralmente desajustadas, precisamos
de uma “revolução cultural”.
A ignorância e o
relativismo moral estão na base da nossa crise actual.
Queremos que os
produtos nacionais, na indústria, na agricultura e nos serviços, sejam cada vez
mais conhecidos.
Queremos que os
jovens encontrem alternativas adequadas às suas vocações.
Queremos que as
famílias continuem a promover a educação dos filhos, apesar de entraves que o
próprio Estado por vezes coloca.
Temos provas
dadas na ciência, na tecnologia, na qualidade dos produtos nacionais, na
ousadia dos nossos empresários, na dedicação dos nossos trabalhadores, nas
competências dos nossos pescadores e agricultores, na eficácia das nossas
Forças Armadas, nos feitos conseguidos pelos nossos desportistas.
Acreditamos que
saberemos estar presentes num Mundo em evolução.
Aproveito para
apelar aos nossos governantes, para que tenhamos uma intervenção em defesa das
vítimas do fanatismo no Próximo Oriente.
Algumas
organizações têm tido um papel muito importante na denúncia dos crimes
cometidos contra as comunidades cristãs que há mais de mil anos vivem nessa
região.
A Fundação de
Ajuda à Igreja que Sofre é uma das mais eficazes no apoio efectivo às vítimas
dessas perseguições.
A minha Família e
eu temo-nos esforçado por contribuir para o progresso da nossa Pátria.
Neste ano que
termina, visitámos em Família a Nação irmã de Timor-Leste, cujo Parlamento
generosamente me concedeu a sua nacionalidade.
Visitámos S.E. o
Presidente da República, General Taur Matan Ruak, e o anterior Presidente da República, Prémio Nobel Dr. José Ramos Horta e contactámos
várias personalidades civis e religiosas.
O nosso filho
Afonso foi nomeado pela Associação do Senado dos Liurais, presidido pelo
Deputado Dr. Manuel Tilman, com o grau de Liurai Timorense.
Visitámos em
caminho, a Tailândia, onde fomos recebidos pela Família Real e pela comunidade
de origem portuguesa, descendentes dos militares que foram enviados para ajudar
o Reino do Sião.
Visitámos também
o Rei e a Família Real do Reino do Cambodja.
Visitei Angola,
por ocasião do Congresso das Fundações da CPLP, iniciativa do maior interesse,
tendo-me ainda reunido com Bispos da Conferência Episcopal Angolana.
Em Portugal
visitámos oficialmente vários Concelhos a convite das suas Câmaras Municipais.
Em alguns casos,
o motivo foi a celebração dos 500 anos do foral manuelino, noutros o apoio a
boas iniciativas culturais, económicas e cívicas.
Estive presente
em Braga, Sintra, Aveiro, Ovar, Porto, Guimarães, Massarelos, Estremoz, Viana
do Castelo, Caminha, Aljustrel, Funchal, Torres Vedras, Lamego,
Felgueiras, e Vieira do Minho. E daqui saúdo as suas populações, autarcas e
outras pessoas que sempre tão generosamente me receberam.
O futuro de
Portugal depende de mantermos vivas estas nossas raízes e de alcançarmos uma
inteligente renovação das nossas instituições.
Só todos juntos,
num esforço bem organizado, o poderemos conseguir.
Tenho afirmado
que o pensamento republicano é de curto prazo; interessa-lhe resolver os
assuntos a quatro anos, até às próximas eleições; é um pensamento muito
provisório.
Hoje estamos aqui
neste 1º de Dezembro porque respiramos o ar da História e esse ar mede-se por
séculos e gerações e não por ciclos eleitorais.
E por isso, hoje
e aqui, solenemente repito - na presença de minha Mulher Isabel, que tanto tem
promovido as causas da família e da educação, e de meu Filho Afonso que este
ano celebrou a sua maioridade - que a minha Família está preparada para assumir
os compromissos que o nobre povo português nos quiser confiar.
Assim sucedeu
noutras épocas da nossa gloriosa História como povo.
Assim possa vir a
suceder, após estes tempos conturbados em que vivemos.
Viva Portugal!
Leia AQUI o comunicado oficial
quinta-feira
Sem Mãos em Vouzela e os Símbolos de Portugal
A honra e a glória andam quase sempre a par
nos momentos mais marcantes da História de Portugal. Gente houve que, virando
as costas ao sofrimento e à morte, ofereceram as mãos, os braços e a própria
vida para salvar Portugal. Foi o que aconteceu com Duarte d’Almeida, o decepado
de Toro, que recebeu o Paço de Vilharigues como prova do reconhecimento real
pelos membros que deixou em terras de Castela.
por João Aníbal Henriques
O heroísmo faz parte da
História de Portugal. Num país que quando analisado de forma cuidadosa se
percebe de imediato que não tem nenhuma razão pragmática que explique a sua
independência e o facto de ter conseguido sobreviver a estes quase 9 séculos,
assumem especial importância os actos heróicos de gente que foi capaz de
superar os limites da existência e da racionalidade prática que dá forma à vida
em sociedade. Foram eles quem tornou possível a existência de Portugal,
concretizando autênticos milagres que são essenciais para se perceber este País
extraordinário.
Em Vouzela sobrevivem
hoje os resquícios únicos de um desses milagres excepcionais. O Paço de
Vilharigues e a lendária estória do Decepado de Toro, o porta-estandarte do
exército Português que, em 1476, ofereceu as mãos os braços para salvar a
bandeira Nacional, são o presente de reconhecimento que a coroa entregou ao
herói que deu forma a um dos mais marcantes (e desconhecidos) episódios da
História de Portugal. Não existem provas da presença de Duarte d’Almeida neste
lugar. Mas o que importa isso perante o valor tão grande deste símbolo excepcional?
No centro da Cidade, ali
mesmo onde a solidez da pedra se impõe na arquitectura românica da Igreja
Matriz de Vouzela, sente-se o peso de vários milhares de anos de História.
Vouzela sempre foi uma
cidade importante. Embora seja dos Romanos que resta o maior número de
vestígios, bem documentados através dos marcos miliares que nos permitem
conhecer o emaranhado de muitas estradas que ligavam a cidade directamente a
Roma, são pré-Históricas as origens deste espaço, carregando consigo os
episódios rocambolescos que várias gerações foram acrescentando à História do
lugar.
Apesar disso, o desígnio
de Vouzela é uma lenda, perdida nos tempos e na tradição popular. Duarte
d’Almeida, o decepado alferes-mor de Dom Afonso V, que está indelevelmente
ligado a cada canto e recanto da localidade. Não se sabendo se existiu de
facto, é ele o mítico senhor da região de Dão-Lafões que perdura nas memórias
do povo e que transborda nas pedras duras que dão forma às casas, aos
monumentos e à fácies da cidade.
A partir do alto da
Senhora do Castelo, onde ainda se vislumbram os restos de um antigo castro que
defendia as populações locais durante o conturbado período do neolítico,
percebe-se bem a grandeza das terras de Vouzela. A Senhora do Castelo, ou da
Esperança, conforme surge em alguns documentos medievais, dá o mote a um espaço
com ocupação comprovada desde a pré-História e desde sempre de importância
estratégica na salvaguarda e na segurança da cidade situada no sopé do monte.
As duas interessantes sepulturas antropomórficas existentes no local, escavadas
na rocha que também serviu para construir as muralhas que deram forma ao castro
e que serviram pelo menos até à época medieval, mostram bem a ligação quase
irracional que existe entre a vida e a morte neste local. Interagindo, o espaço
dos vivos e o espaço dos mortos complementam-se, da mesma forma como se
complementam os sonhos e os anseios da população actual com os vestígios, reais
e imaginários – o que importa? – dos antigos que por lá viveram.
Reza o ditado popular que
“triste é o povo que precisa dos seus inimigos para honrar os seus heróis”… e é
isso precisamente que representa o Paço de Vilharigues, em Vouzela,
tradicionalmente apontado como a casa do alferes-mor de Dom Afonso V, Duarte
d’Almeida, conhecido como o “decepado” por ter perdido as mãos e os braços na
batalha de Toro.
A armadura do alferes-mor
Português, entendido pelos “inimigos” espanhóis como um herói corajoso e
intrépido que foi capaz de se entregar pela causa que representava, está
exposto em lugar de grande destaque na Capela de Santiago (Patrono de Espanha),
na Catedral de Toledo, homenageando o herói nacional.
Responsável pelo pendão
Nacional naquela batalha, Duarte d’Almeida foi perseguido pelo inimigo que lhe
cortou a mão com a qual segurava o símbolo de Portugal. Continuando a lutar, o
alferes-mor passou a bandeira para a outra mão que lhe foi cortada de seguida.
E antes de cair, num espectáculo de sangue e sofrimento que serviu para
preservar a honra de Portugal, ainda conseguiu segurar a bandeira com a boca
para a entregar a um compatriota que a colocasse a salvo.
Em Espanha é homenageado
como herói. Em Portugal ninguém sabe que ele foi nem que entregou a própria
vida para salvar Portugal…
terça-feira
A Rainha Santa Isabel e o Milagre de Portugal
por João Aníbal Henriques
Em linha com o conjunto de
circunstâncias inexplicáveis que dão forma aos mais importantes e impactantes
episódios da História de Portugal, o conhecido “Milagre das Rosas”, protagonizado
pela Rainha Santa Isabel, é um dos mais importantes exemplos da forma como o
maravilhoso e o fantástico se cruzam amiúde, dando forma a entendimentos que
ultrapassam gerações. São eles que, sem sentido algum, dão sentido ao sempre
intrincado enredo de condicionalismos que compõe a existência humana…
Nascida em 1271 e filha do Rei D.
Pedro III de Aragão e da Rainha Constança da Sicília, Isabel de Aragão foi
rainha de Portugal por casamento efectuado por procuração com o Rei Dom Dinis
em 1282.
A criança, trazida para Portugal
em virtude de um casamento que resultou dos interesses políticos daquela época,
recebeu mercês diversas e o senhoria de uma imensidade de cidades e vilas que
serviram de dote inicial.
Com um marido que os documentos
coevos apontam como “pouco devotado” à sua jovem esposa e dedicado em demasia
aos encantos femininos de Portugal, a Rainha Santa Isabel ficou conhecida pela
forma benigna que utilizava para tratar o seu marido e os muitos filhos
ilegítimos dele. Em igualdade com os seus próprios filhos, a todos tratou com o
mesmo desvelo, garantindo-lhes alimentação e educação e trazendo-os para o paço
onde os mesmos cresceram.
Reza a lenda que, num dia em que
o próprio rei a informou de que iria visitar umas amigas num convento situado numa
zona próxima de Lisboa, foi ela própria quem lhe respondeu “Senhor… ide vê-las”
tendo dado origem ao topónimo Odivelas.
Profundamente devota e dedicada
às causas sociais, são também conhecidos vários arrufos com seu marido que, preocupado
com o rombo nos cofres reais, via com maus olhos o desvelo com que ela tratava
os mais pobres e necessitados, a quem oferecia pão e dinheiro a título de
esmolas que lhe granjearam fama de santa ainda em vida. Foi de um desses
episódios, aliás, que nasceu a sua lenda mais conhecida – a Lenda das Rosas –
que romanticamente se espalhou em Portugal e que acabou por influir largamente
na definição do espectro da espiritualidade nacional.
Reza a lenda que, numa manhã fria
de Janeiro, a rainha saia do paço carregando pão para os pobres quando foi
interpelada pelo rei que pretendeu saber o que é que ela transportava no
regaço. Mentindo-lhe, a rainha disse-lhe que eram rosas que iria utilizar para
alegrar os altares das igrejas da cidade. Estranhando a existência de rosas em
pleno Inverno e principalmente naquela gélida manhã de Janeiro, Dom Dinis terá
solicitado à rainha que lhe mostrasse o que transportava, e ela, largando das
mãos o pão que escondia, deixou cair no chão um conjunto maravilhoso e muito
aromáticos das mais bonitas rosas que se tinham visto por aquelas paragens… “São
rosas, senhor!” foi a frase que ficou a marcar os arquétipos da crença
nacional, corporizando um milagre de metamorfose alquímica que fui considerado
como a prova máxima da sua santidade e sustento principal da sua beatificação
(1516) e posterior canonização (1742).
Tendo tido uma profusa
intervenção política em Portugal e em Castela, não só durante o período em que
foi rainha mas também depois de viúva, interveio muitas vezes como mediadora em
conflitos variados evitando a guerra e alcançando a paz entre os oponentes. O
melhor exemplo aconteceu ainda durante a vida de Dom Dinis, quando este, dando
preferência a um filho bastardo a quem pretendia deixar em herança o próprio Reino
de Portugal, entrou em conflito com o filho legítimo, futuro Dom Afonso IV,
tendo sido a rainha quem garantiu o alcançar da paz através de um processo de
mediação que evitou aquela que possivelmente teria sido a mais sangrenta das
guerras civis de Portugal.
Já muito doente, com a peste que
matou centenas de milhares de pessoas em Portugal, deslocou-se a Estremoz em 1336
pra uma vez mais intervir num conflito que opunha o seu filho ao Rei de Castela.
Faleceu no Paço Real daquela vila Alentejana, deixando escrita a sua vontade de
que o seu corpo fosse sepultado no Convento de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra,
onde havia professado.
Tendo morrido em Julho, numa
época de calor tórrido semelhante aquele que ainda hoje fustiga aquelas terras,
foi preparado um caixão de chumbo para transportar o corpo na longa viagem que
teriam de fazer até à Cidade do Mondego. Tentando evitar os cheiros resultantes
da decomposição do corpo ao longo daqueles dias, o féretro foi reforçado e
envolvido em vários tipos de panejamento e em perfumes de várias espécies.
Mesmo assim, mercê do calor que
afectou o caixão durante o trajecto, este ter-se-á deteriorado com os gases
libertados pelo cadáver da rainha e aberto algumas rachas por onde começou a
sair um líquido espesso que muito preocupou muitos daqueles que acompanhavam o
cortejo. Mas, para surpresa de todos, verificou-se que esse líquido deitava um
cheiro maravilhoso a flores e não o mau-cheiro pelo qual todos esperavam…
Por ocasião do processo de canonização,
já no Século XVIII, quando o caixão foi transportado de Santa Clara-a-Velha
para Santa Clara-a-Nova depois de as águas do Mondego terem inundado por completo
o antigo convento, o caixão voltou a ser aberto e perante a estupefacção de
todos, verificou-se que o corpo se mantinha incorrupto e que o cheiro continuava
a ser o mesmo aroma a flores que haviam descrito os participantes no primeiro
cortejo praticamente quatro séculos antes.
Na actualidade, com muitos
devotos espalhados por Portugal e por Espanha, a Rainha Santa Isabel é venerada
a 4 de Julho, dia da sua morte, sendo a sua mão exposta pontualmente para que
possa ser vista por milhares de interessados.
Rainha, mulher e santa, Isabel de
Aragão é uma das figuras incontornáveis da História de Portugal. Na sua
vertente mística, associada a processos complexos de uma originalidade sem
igual, extravasou largamente o seu tempo e espraiou a sua influência ao longo
de muitas gerações que foram cruciais no desenvolvimento na afirmação e na
sobrevivência de Portugal.
A sua veia alquímica, suportada
pelo controle efectivo da organização da matéria, visível no Milagre das Rosas
e na incorruptibilidade do seu corpo venal, representa o êxtase máximo que se
pode associar à magia deste País tão especial…
quarta-feira
As Cheias em Cascais - 19 de Novembro de 1983
Cumprem-se hoje 31 anos desde que Cascais amanheceu coberta de água. Naquela madrugada, numa noite de Sexta-feira para Sábado, preparava-se mais uma manhã de mercado saloio no centro da Vila. Por todo o lado, num cenário dantesco no qual o caos imperava, fluíam ao sabor das águas os sacos de batatas, as caixas de legumes e mesmo os carros e carrinhas que os transportavam. Naquela manhã, mesmo perante o pânico que estava instalado, ouviram-se desde cedo o som dos motores dos barcos que aproveitaram a situação para roubar lojas e casas. Ao mesmo tempo, na actual Praça Francisco Sá Carneiro, um casal de idosos morreu enquanto tentava desesperadamente serrar com uma faca de cozinha as grades que poucos dias antes havia mandado colocar nas suas janelas... 31 anos depois, aqueles que tiveram a infelicidade de acordar rodeados de águas, sem electricidade, telefone ou qualquer outro tipo de comunicação, ainda sentem no ar o cheiro putrefacto que emanava daquelas águas lamacentas. Nalguns recantos da vila, dentro de casas e em muros que ninguém imaginaria que algum dia estiveram submersos, ainda hoje se podem ver os restos das lamas que o dia 19 de Novembro de 1983 trouxe para Cascais.
Fotos Recolhidas em Real Villa de Cascaes no Facebook
segunda-feira
O Convento dos Capuchos em Sintra
por João Aníbal Henriques
São raros os espaços assim que, extraordinários e
impactantes, não estão associados à monumentalidade das suas construções mas
sim à singeleza levada ao extremo. É o que acontece no Convento dos Capuchos,
em Sintra, onde a força da natureza de cruza com a vontade do homem para
recriar um espaço que apela ao sonho e à vida, ao mesmo tempo que acorre aos
desígnios que a carne impõe ao homem…
Embrenhado nas penhas antigas que dão forma à Serra da Lua, o
Convento dos Capuchos, também conhecido como Convento da Cortiça, recria-se a
partir da solicitação da pobreza extrema e do despojamento total que
caracterizava os seus mais antigos habitantes.
Construído em 1560 por Dom Álvaro de Castro, em cumprimento
de um voto formulado pelo seu pai D. João de Castro, Vice-Rei da Índia, que por
ali adormeceu durante uma caçada e que terá sonhado com a criação de um pedaço
de céu neste recanto inóspito da serra, o Convento dos Capuchos associa o
fulgor da natureza, com as suas pedras e penhascos envolvidos em vegetação que
romanticamente o envolve, com os mais profundos sonhos e anseios da humanidade.
Para lá entrar, passando um portal de sombra que nos verga
perante a cruz, é necessário abandonar as paixões do mundo e das coisas, de
forma a tornar possível abraçar por completo os desígnios mais profundos da
divindade. Lá estão, aliás, o portal com a caveira e as duas tíbias cruzadas
que, encimando a porta que sai do terreiro do sino para entrar no espaço
conventual, simboliza a morte em vida e o triunfo desta última sobre as
funestas sombras da morte…
E lá dentro, no estreito e obscuro corredor que dá acesso à
luz interna, ficam as memórias daqueles que se enterraram vivos, entregando a
Deus o seu insignificante corpo em busca da gloriosa apoteose da vida
verdadeira, ou seja, daquela que é imortal e que surge livre das peias
constrangedoras da carne.
Pobre, sombrio e frio, ao ponto de causar estranheza a
possibilidade de se viver assim, o convento obriga-nos constantemente a baixar
a cabeça. Fazemo-lo para entrar nas celas conventuais, na sala do capítulo, na
sala de jantar ou nas cozinhas, num acto de reverência perante Deus e num
ritual de humildade em linha com o ideário Franciscano que dá forma à Ordem que
por ali prevalece.
Por todo o lado, cumprindo a sua obrigação de gritar bem alto
que o crucifixo é uma realidade passageira, obviamente necessária para que a
carne faça sentido, mas necessariamente transitória no percurso maior em direcção
a Deus, lá está a rosa-cruz, espécie de roda em eterno movimento que grita bem
alto a Boa Nova e a ressurreição de Cristo Nosso Senhor.
Mas são muitos e variados os motivos de interesse deste
espaço excepcional. Desprovida das expressões mais vulgares da arte e da
ostensiva presença de um espólio enriquecido pelos muitos séculos de
boas-práticas que aquelas paredes já viram, a cerca é um autêntico cadinho de
maravilhas naturais, numa simbiose perfeita entre a força da natureza e a
vontade de Deus. Ninguém fica indiferente à decoração em cortiça, que enche por
completo cada canto e recanto daquele espaço conventual, nem tão pouco à labiríntica
disposição dos seus longos corredores, dispostos com naturalidade em torno da
formulação das penhas ancestrais que a natureza por lá deixou.
Neste convento, perdido num tempo que se constrói a partir da
inexistência do tempo, viveu durante muitas décadas o célebre e mítico Frei
Honório que, de acordo com a lenda, se penitenciou durante trinta anos numa
gruta inóspita existente na cerca, por ter cedido à tentação perante uma mulher
que lhe havia sido enviada pelo maligno para o deter. A pé e água, lá terá
sobrevivido até aos cem anos, tendo como companhia exclusivamente a paisagem
magnífica da Várzea de Sintra e o frio cortante que constantemente bate o
local, carregando as penas de quem por lá estiver. Mas era isso que procurava
Frei Honório. A libertação do corpo em defesa de uma Alma pura e liberta das
teias e tentações que a carne faz prevalecer.
É de deslumbramento total e permanente uma visita ao convento. Porque ali encontramos os arquétipos ancestrais que dão forma à nossa forma de ser e de pensar, ansiando na Terra pela descoberta do caminho em direcção ao céu. Filipe II de Espanha, o todo-poderoso rei que uniu Madrid e Lisboa num mesmo trono controlando um Mundo inteiro sob o seu ceptro, escreveu às suas filhas depois de visitar o convento dizendo que existiam duas maravilhas no seu reino: o Escorial, em Espanha, e o Convento dos Capuchos, em Sintra…
Pouco se
pode dizer sobre esta preciosidade do património Português, até porque a
singeleza que o caracteriza apela ao deslumbramento e à espiritualidade que é
sempre superior às palavras e ao talento necessário para as transformar na
montra que é necessário fazer. Mas é, certamente, um daqueles locais que vale a
pena visitar nem que seja uma vez na vida, até porque quem lá entra, desde que
o faça com a capacidade crítica de entendimento do espaço e de todos aqueles
que por lá viveram, recuperará certamente uma vida nova em linha com a ideia de
um paraíso terreal que todos gostaríamos de conhecer prevalecer.
O Estado da Anestesia em Portugal
Rebentou na última semana um dos maiores escândalos de sempre
em Portugal. Com mais de uma dezena de envolvidos escolhidos de entre alguns
dos mais altos funcionários do Estado, este escândalo mostra aos Portugueses um
novo nível de corrupção, mais em linha com um qualquer romance de cordel do que
com a triste história que actualmente caracteriza este país em que vivemos.
Infelizmente, depois do enredo que envolveu o mais
escandaloso início de um ano lectivo em Portugal; da incrível estória
protagonizada pelo Ministério da Justiça e dos seus inventados sabotadores
encomendados que paralisaram os tribunais e a própria justiça durante muitas
semanas; do extraordinário caso de falência do Grupo Espírito-Santo, com as incompreensíveis
intervenções do Banco de Portugal, do Governo e do Presidente da República; da
odorífera facada nas costas dada no líder do PS pelo seu correligionário
socialista que ainda é presidente da Câmara Municipal de Lisboa; da cisão
absurda e tremenda na já de si liderança bicéfala do Bloco de Esquerda; da
maravilhosa estória da decisão irrevogável do Presidente do CDS; do
abrasileirado escândalo da destruição da Portugal Telecom, acompanhado pelos
prémios chorudos que foram dados aos que cavaram a sepultura daquela empresa
estratégica para Portugal; de um Presidente da República que tibuteantemente
mostrou não estar interessado em intervir directamente nos destinos do nosso
Estado e de um Governo que assobia alegremente perante o descalabro geral que
caracteriza Portugal, pouco ou nada resta para dizer, pensar ou discutir neste
nosso desgraçado país…
A dose de irrealismo, que dantes se comparava ao caos que se
instalou durante a primeira república mas que actualmente já o ultrapassou
largamente, transformou Portugal numa espécie de grande arena de circo na qual
tudo pode acontecer.
Já ninguém se espanta, nem ousa sequer criticar ou contrariar
as desvairadas decisões de quem detém o poder. Para quê?...
E, se a nível estatal as coisas atingiram um descrédito que é
transversal a todos os partidos e a todos os sectores de actividade, a nível
local a situação não é diferente. Presidentes de câmaras legitimados pelos votos das eleições de
2013, põem e dispõem da coisa pública como se ela fizesse parte do seu pecúlio
pessoal. Os balcões das empresas municipais, repletos de faces airosas oriundas
das juventudes dos partidos onde trabalharam gratuitamente em troca de um
emprego, são uma espécie de pastos onde a maralha divide o pouco que Portugal
ainda consegue produzir.
E quem pode pensar em criticar esta gente? Ninguém! Pois se é
tudo assim… se todos fazem o mesmo… se ninguém assume as consequências dos seus
actos e se à boca cheia se regurgita a máxima de que quem não come é parvo!...
O certo, para alguém que ainda gosta de Portugal e que
acredita que ainda é possível salvar a herança que recebemos dos nossos avós ao
longo de mais de oito séculos, é que já pouco ou nada há a fazer. Pelo menos de
dentro desta máquina de devastação onde os equilíbrios são precários e as
dependências são transversais a toda a gente.
Entretanto, enquanto lá fora as estações vão passando,
cruzando eleições futuras com os muitos interesses que todos sabem que dão
forma ao nosso Estado, continuam um espectáculo deprimente que todos somos
obrigados a ver e a financiar.
Os Portugueses estão anestesiados, incapazes até de reagir ao
que no estão a fazer. E ainda bem que assim é! Porque senão seria insuportável
a dor perante o desrespeito atroz perpetrado por esta gente.
Subscrever:
Mensagens (Atom)