terça-feira

O Delta da Ribeira das Vinhas em Cascais



por João Aníbal Henriques

A denominada “Figura de Braunius”, desenhada por Georg Braun (1541-1622) no Século XVI é considerada a mais antiga representação que se conhece da Costa de Lisboa, com especial enfoque em Cascais e no seu porto de mar.

O detalhe com que foi preparada e o cuidado colocado na representação dos principais pontos estratégicos da localidade, prende-se com a sua origem militar. O desenhador, ao preparar esta obra, pretendia traçar com rigor e exactidão o perfil da Costa de Cascais de forma a poder fornecer, em caso de intervenção militar, uma planta que facilitasse o controle dos principais pontos estratégicos desta costa que tinha funções extraordinariamente importantes na defesa de Lisboa contra eventuais ataques por via marítima.

Mas existe um detalhe que não passa despercebido a quem olhar com atenção para esta obra. Na representação da Baía de Cascais falta a indicação da Ribeira das Vinhas!



Não sendo crível que Georg Braun, meticuloso no seu trabalho, se esquecesse de um elemento tão importante na linha de costa de Cascais, haveria certamente uma razão que explicasse esta omissão de um elemento tão importante para a caracterização do porto de Cascais.

E a resposta, que nos chegou em finais dos anos 80 do século passado no âmbito de uma conferência proferida pelo saudoso Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles e pelo Cascalense Arquitecto Coimbra Neves, é simples e inesperada para a maioria dos Cascalenses: a foz da Ribeira das Vinhas, ao contrário do que hoje acontece, teria a forma de um delta, com vários braços que desaguavam em vários pontos do mar… Não existiria nessa época, portanto, um único canal de saída da ribeira, sendo que a foz se multiplicava em várias saídas que acabavam por não ter a relevância que a foz única que surgiria mais tarde acabou por ter no desenho da Costa de Cascais.

Esta explicação, que ambos os arquitectos defendiam com base na análise da topografia da vila e nas evidências arqueológicas surgidas depois das grandes inundações de Novembro de 1983, foi mais tarde confirmada pelos investigadores Guilherme Cardoso e Marco de Oliveira Borges, que assim explicam a omissão da ribeira na Figura de Braunius e a hidrografia da Vila de Cascais.

Explica igualmente a estranha opção dos antigos construtores do edificado cascalense de projectarem as suas construções sobre pilares e não, como era usual nessa época, com alicerces sólidos implantados no areal.

Esta forma construtiva, bem visível nas fotografias históricas da vila de Cascais, servia sobretudo para permitir o natural escoamento das águas da ribeira por debaixo dos edifícios, facilitando assim o normal fluxo das águas subterrâneas no subsolo e a sua saída para o mar.



A conferência dos arquitectos atrás mencionados vinha, aliás, associada a um alerta às entidades públicas que governavam Cascais no final do século passado: o cuidado que eles consideravam que se deveria ter perante uma qualquer intervenção ou construção a realizar no terreno situado a Norte do Hotel Baía, utilizado nessa altura como um mero estacionamento à superfície, de forma a preservar esse escoamento natural das águas do Delta da Ribeira das Vinhas, evitando assim a sua concentração no subsolo da zona histórica de Cascais com consequência que poderiam ser dramáticas na sustentabilidade dos edifícios existentes a montante desse local.

Com as obras efectuadas mais tarde no antigo estacionamento e com a construção da garagem subterrânea do Hotel Baía, criou-se, de facto, uma barreira que cortou o normal fluxo das águas. E agora, tal como referiam os dois arquitectos, sempre que chove com alguma quantidade e o leito da Ribeira das Vinhas se enche de água, o Largo Camões e as cercanias ficam imediatamente inundados…

Porque a História nos fornece sempre informações importantes sobre o passado, com o objectivo primordial de nos ajudar a definir um presente adequado e a preparar um futuro viável.

 

António Duarte d’Almeida Veiga – A Infinita Eternidade da Morte



por João Aníbal Henriques

Em meados do Século XIX, numa das suas inusitadas viagens pela Europa, o jurista e filósofo português António Duarte d’Almeida Veiga cruzou-se em Paris com Hippolyte Léon Denizard Rivail, ilustre pedagogo e professor francês bem conhecido do público em geral através do pseudónimo que utilizava para assinar as suas obras: Allan Kardec. Ficaram amigos.

Na sua obra de despedida, publicada em Benavente em 1928, António Veiga dedica à sua filha Maria Amélia aquilo a que chamou a “Lei dos Contrastes”, a súmula do seu pensamento filosófico numa ansiada necessidade de se convencer de que a eternidade e o infinito são expressão maior da vida verdadeira, ou seja, daquela que emana directamente de Deus. E, acima de tudo, que a eternidade (tempo) e o infinito (espaço) são efectivamente o contraste um do outro, marcando a dualidade necessária para nos permitir intuir a plenitude superior do Estado Perfeito, e concomitantemente da própria existência de Deus.

Queria encerrar a sua existência física com um legado de pensamento que perpectuasse as suas convicções espirituais e que comprovasse aos seus filhos que a sua partida não representaria o seu fim. Porque a morte não existe, senão aparentemente para contrastar a vida, e podermos reconhecer esta… era para ele um mero e puro descanso do “eu”.

Dizia ela à sua filha Maria Amélia: “a morte real só existe na ideia dos que ficam sobrevivendo. Os que morrem para estes, não morrem na realidade, antes, pelo contrário, revivem!”

António Duarte d’Almeida Veiga, meu bisavô paterno nasceu em Midões, nas Beiras, e morreu em Benavente, no Ribatejo. Foi jurista, notário, filósofo e escritor que, numa permanente ânsia de viver plenamente dedicou a sua vida a pensar, analisar e perceber a morte. Porque acreditava que só nela se poderia encontrar o sentido pleno da vida.

Quando se cumpre um século desde a sua morte, importa lembrá-lo e ao seu legado, até porque na linha das suas discussões espirituais com Allan Kardec, e tal como deixou escrito à sua filha Amélia: “Se soubermos convocar quem parte deste mundo infinito, eles nos provarão que existem sempre, plasmados na eternidade da qual todos fazemos parte”.





sexta-feira

A Rainha Dona Maria Pia em Cascais no dia 5 de Outubro de 1863


por João Aníbal Henriques

O dia 5 de Outubro de 1863 foi de festa em Cascais. Com pompa e circunstância, a baía encheu-se de salvas e vivas para receber a Princesa Dona Maria Pia de Sabóia que chegava nesse dia a Portugal para casar com o Rei Dom Luís I.

A vila, engalanada com as cores da Casa de Bragança, foi assim a primeira terra de Portugal a conhecer a futura rainha, mal sabendo ainda o quão importante ela haveria de ser para afirmar Cascais como a “Vila da Corte”, transformando-a com o seu requinte italiano no mais charmoso de todos os destinos em Portugal.

Em 1863 a então Princesa de Sabóia, com a frescura dos seus 15 anos de idade, chegou a bordo da corveta portuguesa Bartolomeu Dias, comandada por Francisco Soares Franco,  e transmitia a todos os que a rodearam o sentimento de esperança que trazia para o seu casamento real.




Mal sabia que, depois de uma vida de enganos e desenganos com o monarca seu marido, haveria de assistir à terrível morte de um filho e de um neto, sendo ela própria expulsa de Portugal.

Para além deste imenso desgosto, do qual nunca mais recuperou,  a Rainha Dona Maria Pia sofreu em Cascais um dos mais tenebrosos momentos da sua vida. Apesar das crises imensas que afectavam o casamento real, a rainha acompanhou o rei a Cascais quando este, já doente terminal, decidiu que queria morrer a olhar para as muito amadas águas da nossa baía. E não descansou quando, hora após hora, cuidou do seu marido ao longo da longa agonia que este haveria de sofrer na Cidadela Real.

O desgosto e o sofrimento foram tão grandes que depois da morte do rei decidiu que não queria voltar a entrar no Paço de Cascais. Esse espaço que se lhe tinha tornado maldito foi substituído pelo Chalet que havia adquirido no Monte Estoril e que partir desse momento passará a ser o sítio privilegiado para a reunião com os seus familiares e amigos numa espécie de corte secundária sempre que vinha a Cascais acompanhar a Família Real.



Quando morreu exilada em Itália, Dona Maria Pia pediu para ser sepultada com o rosto virado na direcção de Portugal, o país que apesar de tanto mal lhe ter infligido, era efectivamente a sua casa à qual devotadamente entregava o coração e a alma num gesto de amor que nunca foi reconhecido devidamente em Portugal.

Portugal deve muito a esta rainha e Cascais deve quase tudo o que fez deste lugar um sítio tão especial!

segunda-feira

José Dias Valente e Helena Quina: uma Homenagem ao Futuro do Monte Estoril



por João Aníbal Henriques

Cruzaram-se os tempos na homenagem sentida que a Junta de Freguesia de Cascais-Estoril e a Câmara Municipal de Cascais fizeram ao Professor e Pedagogo José Dias Valente e à Pintora Maria Helena Quina em conjunto com a Associação dos Antigos Alunos do Colégio João de Deus.

O mote, sublinhado pelo Vice-Presidente da CMC, Nuno Piteira Lopes, no discurso que acompanhou o descerramento do retrato inaugurado na galeria de notáveis da freguesia, foi colocado nos tempos que hão-de vir, numa alusão apelo directo à importância que o exemplo de excelência dos que nos precederam neste espaço tem para a formação do nosso futuro comunitário.



O trabalho extraordinário de José Dias Valente na liderança do Colégio João de Deus, marcando sucessivas gerações e oferecendo a Portugal a oportunidade de singrar no futuro recuperando os principais valores da nossa identidade, foi perpectuado pelo traço e a sensibilidade de Maria Helena Quina, e será a partir de agora um marco identitário que ajudará reforçar a importância do seu legado para a formação educativa do Cascais que ainda queremos ter.  

É unânime junto dos antigos alunos a influência que o “Patrão”, como chamavam ao Director Dias Valente, teve nas suas vidas. E é comummente aceite por todos que a passagem pelo Colégio João de Deus marcou toda a comunidade educativa com um traço distintivo que se reconhece facilmente. O respeito e a responsabilidade que José Dias Valente cultivava junto dos seus, e que plasmava na prática pedagógica do seu João de Deus, acompanhava-se sempre de um apelo retumbante à criatividade, à resiliência, e à diferença que todos sabiam que era característica de todos aqueles que por ali passavam.

Nunca houve resignação no Colégio João de Deus. A comunidade educativa, seguindo o exemplo do seu carismático director, sempre se focou nas potencialidades dos seus alunos, reforçando as suas qualidades e utilizando-as como ferramentas para contornar os seus defeitos… fazendo, desta forma, gente forte, com o ímpeto da irreverência que marcou em definitivo as suas vidas e as daqueles que com eles se cruzaram nos caminhos sempre tortuosos das vidas de toda a gente.



Com esta homenagem, assume-se publicamente que o futuro desta terra terá de se formatar neste seu exemplo, recriando uma dinâmica comunitária onde todos e cada um são essenciais na definição de um futuro congruente.

As flores deixadas junto da sepultura de José Dias Valente simbolizam essa eternidade maior que acompanhou a sua vida, estabelecendo uma ponte entre o seu tempo e o futuro maior que acompanhará a próxima geração de Cascalenses.

Porque uma comunidade sã e responsável vive intensamente as suas origens e os seus alicerces. E a memória de José Dias Valente e Helena Quina é uma efectiva ponte pênsil que a singela homenagem da passada Sexta-feira veio estabelecer como compromisso de excelência para os nossos filhos e netos.






quinta-feira

A Educação de Cascais


por João Aníbal Henriques

A educação é um pilar essencial para a democracia. E são as escolas, pólos dinamizadores de projectos educativos diferenciados, que determinam a excelência de uma terra e o potencial das suas gentes!

Em 1870, quando o Rei Dom Luís escolheu Cascais para seu destino de veraneio, já existiam em Cascais dez escolas. Duas pertenciam ao Estado e as restantes 8 resultavam de iniciativa particular. Cinco estavam na freguesia de Cascais, três na de Alcabideche e duas em São Domingos de Rana.

E foi esse potencial crítico que nasceu destes projectos educativos que garantiu a Cascais o registo de enorme dinamismo que permitiu transformar a nossa terra neste cadinho extraordinário onde hoje temos a sorte de poder estar!

Ficam as memórias da escola-monumento Dom Luís I, situada na Avenida Vasco da Gama, junto à Parada, em Cascais, onde o nome do monarca perpectua esta capacidade de entender que é na aposta educativa às futuras gerações que se constrói o futuro de excelência que todos desejamos para Cascais.

quarta-feira

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação em Oeiras



por João Aníbal Henriques

Apesar de serem indecifráveis as origens da actual Igreja Matriz de Oeiras, é certo que precedem em muitos séculos o ano de 1744, quando o actual edifício foi concluído e consagrado.

A invocação de Nossa Senhora da Purificação, num apelo assumido às origens judaicas da Fé Cristã, remete-nos directamente para a vertente crística da Vida Sagrada de Jesus. Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus, numa dualidade que represente o carácter completo da sua criação, Jesus apresenta-se entre os homens como fazendo integralmente parte deles, partilhando os seus anseios e dúvidas e, sobretudo, sofrendo as dores próprias da materialidade terrena.

Passados os vinte dias depois do parto, necessários para que Nossa Senhora se purificasse de acordo com as Leis de Moisés, ficam os progenitores terrenos obrigados a apresentar a criança no templo, de forma a assegurar a sua entrega total a Deus e o cumprimento da vontade determinada para aqueles que fazem parte do povo escolhido.

Na sua limpeza da materialidade, Nossa Senhora assume a sua pureza original, vincando o carácter também bicéfalo da sua existência, e marcando o fim do período em que no seu útero foi gerado e consubstanciado aquele que transporta consigo a centelha divina do Pai.

É, por isso, de extraordinária importância a consagração de Oeiras à Virgem da Purificação, significando simbolicamente que a dualidade crística de Deus se consubstancia em cada acto e em cada momento da existência desta comunidade cristã que reside devocionalmente nos subúrbios de Lisboa.



O trabalho do dia-a-dia, em Oeiras arreigadamente ligado à terra e à sua fertilidade, depende directamente dos ciclos da natureza e da bondade que a mesma dedica a quem delas depende por estes lados. Os oeirenses, conscientes desta sua dependência ancestral (e natural) invocam assim a purificação de Nossa Senhora como caminho que lhes permite o desenvolvimento da sua Fé como garante da sua subsistência terrena no devir diário da comunidade.

A totalidade, num espaço e junto das gentes que o vivem quotidianamente, faz-se assim dos ardores do dia-a-dia mas, por intercessão divina, goza igualmente da protecção purificadora de Maria, a Virgem-Mãe que protege os seus filhos com a luz imaterial e que se sustenta pela Fé ardente. Nesta dedicação consagrada a Deus, sabendo de antemão que cada gesto e cada pensamento se complementam para garantir a plenitude de uma vida sã que abra portas para o Céu, vive-se sempre com a Alma repleta de esperança, concretizada no coração do centro histórico da vila de Oeiras neste monumento extraordinário que ainda hoje cumpre a sua orientação primordial.



Perdidas no tempo as origens do edifício que hoje ali podemos observar, é certo que em plena Idade Média, durante o reinado de Dom Dinis, já existia naquele sítio um edifício sagrado. Em 1258, a Paróquia de Oeiras surge ligada à Colegiada de São Lourenço de Lisboa, preservando sempre a invocação sagrada a Nossa Senhora da Purificação. Tendo sofrido obras de com solidação e recuperação diversas ao longo dos séculos, bem documentadas nos anais da História de Portugal, a Igreja Matriz de Oeiras era no início do Século XVIII demasiado insignificante perante o crescimento exponencial da sua comunidade e, consequentemente, perante os desejos legítimos de afirmação e de grandeza das gentes que o frequentavam. O edifício do antigo templo é então demolido e iniciam-se em 1702 as obras de construção da Igreja Matriz que hoje ali encontramos.

Com projecto de João Antunes, que cumulativamente ficou encarregue de transportar para a nova igreja os elementos diferenciadores da Fé vivida intensamente pelos oeirenses de então, as obras de construção avançam sob a tutela de Duarte de Castro dos Rios, transferindo-se a paróquia provisoriamente para a Capela de Santo Amaro.

De acordo com a informação expressa no website da Câmara Municipal de Oeiras (em www.oeiras.pt), que reforça o interesse deste monumento para a compreensão daquilo que representa o município no contexto metropolitano de Lisboa, “o interior da Igreja Matriz de Oeiras possui alguns elementos que se destacam pela sua grande beleza. É o caso da pia batismal, obra do mestre Matias Duarte, com o pé de pedra bastarda e o corpo de pedra lioz. O lavatório da sacristia é outro dos elementos a destacar. Obra do mestre anterior, apresenta uma conjugação muito feliz de pedra lioz (branca) e de pedra vermelha (mármore avermelhado), tratando-se de um conjunto de rara perfeição e beleza, salientando-se também os púlpitos, de perfeição e rendilhados impressionantes. Convém também dar uma especial atenção às pinturas que ornamentam a igreja matriz. No altar-mor existem quatro grandes pinturas realizadas por Miguel António do Amaral. Uma delas representa a última ceia; outra, uma cena da Vida de Jesus e outra representa Madalena”.



A alusão à invocação original, num pleno de significação que nos permite perceber a continuidade simbólica que continua a unir a Fé dos oeirenses, reforça o interesse de uma visita ao local, sendo certo que ali podemos observar com atenção os elementos que demonstram comprovadamente que Oeiras é ainda hoje um dos municípios com uma Identidade Local mais marcada, explicando provavelmente a forma muito sentida a motivada que desde sempre caracteriza a robustez da consciência cívica daqueles que habitam este recanto tão especial.

Visitar a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação, em Oeiras, é viajar directamente ao âmago da Alma e do pensamento da comunidade oeirense, num acto pleno de deslumbramento que não deixa indiferente quem o faça com esta abordagem fundamentada relativamente à mensagem simbólica que aquelas pedras nos transmitem desde tempos imemoriais.


segunda-feira

A Escravatura em Cascais


por João Aníbal Henriques

Por incrível que pareça, em 1514, quando Dom Manuel I renovou o antigo Foral de Cascais, a escravatura era um exercício comercial comum na nossa vila. 

De facto, numa das posturas desse documento diz-se taxativamente que quem vendesse um escravo ou uma escrava em Cascais teria de pagar um imposto de 13 Reais e meio! E que as escravas que fossem mães de crianças que ainda mamassem não veriam agravadas as suas taxas por esse efeito.

Uma realidade cruel que caracterizou a nossa terra e o resto do mundo mas que felizmente já está muito distante! Pelo menos por cá e por enquanto…

sexta-feira

O "Arreda" no Verão de Cascais


por João Aníbal Henriques

Nos primórdios do automobilismo em Portugal, uma das primeiras e mais importantes figuras e circular pelos caminhos de Cascais no seu extraordinário automóvel foi o Infante Dom Afonso de Bragança – o Arreda -, irmão mais novo do Rei Dom Carlos. O príncipe descia diariamente a Avenida Valbom em alta velocidade de forma a tentar que o automóvel ganhasse balanço suficiente para subir a Alfarrobeira sem parar... E, enquanto acelerava o seu bólide, gritava em plenos pulmões “Arreda! Arreda!” tentando afastar do caminho os peões que por ali andavam. Foi assim em Cascais que ele ganhou a alcunha de “O Arreda” que o acompanhou até ao fim dos seus dias e que ainda hoje o caracteriza nos livros de História!

quarta-feira

Segredos da Rainha Alquimista de Cascais




por João Aníbal Henriques

Em 1593 a Câmara Municipal de Cascais publicou uma postura que obrigava os homens que participavam na histórica procissão em honra da Rainha Santa Isabel a utilizarem capas e as mulheres mantéus. Quem não o fizesse pagava uma multa de 50 Reis! Esta procissão, ligada às mais profundas práticas devocionais dos Cascalenses, recuperava o culto alquímico pela Rainha Santa promovido pelos frades Carmelitas Descalços que oravam no antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade. O Cortejo Alquímico de Cascais está eternizado no painel de azulejos colocados actualmente no Parque Marechal Carmona e passa despercebido a quase todos os que por aqui passeiam. Mas vale a pena olhar com cuidado para este segredo bem guardado de Cascais!




quinta-feira

Quando era Preciso Passaporte para Entrar em Cascais



por João Aníbal Henriques

Um dos muitos problemas que afectaram as povoações destruídas pelo grande terramoto de 1755 foi o que nessa altura se chamava “vadiagem”. Os sem-abrigo, impossibilitados de recuperar as habitações perdidas durante o cataclismo, deambulavam pelas ruas mendigando e arrastando a desgraça que sobre eles se tinha abatido. O problema era de tal forma grave que no 25 de Junho de 1760 foi publicada uma lei que obrigava os cidadãos que pretendiam viajar entre concelhos a levar consigo um “passa-porte” autorizado. Em Cascais, a exigência do dito “passa-porte” municipal vigorou até 1825 e a sua emissão por parte da câmara exigia que os que o requeriam apresentassem testemunhas e fiadores!

quarta-feira

Rei Dom Luís I - A Última Vez em Cascais



por João Aníbal Henriques

No dia 31 de Julho de 1889, há 135 anos, o Rei Dom Luís I chegou pela última vez a Cascais. A conselho dos médicos, que conheciam a extrema gravidade da sua saúde e o seu estado terminal, instalou-se no Palácio Real da Cidadela, de forma a que os seus últimos dias fossem passados a contemplar a sua Baía de Cascais. Para tal, o quarto foi mudado para outro compartimento de forma a colocar a cama junto à janela que tinha aquela vista privilegiada. Expirou serena e tranquilamente no dia 19 de Outubro de 1889 com o olhar perdido nas águas maravilhosas do mar que tanto amava. Sempre em Cascais.




(o quarto privado do Rei Dom Luís I no Palácio Real da Cidadela de Cascais)





O Mito do Pelourinho de Cascais em 24 de Julho de 1833



por João Aníbal Henriques

Diz a voz popular, repetida incansavelmente há muitas gerações, que o Pelourinho de Cascais está situado em frente à lota, com vista privilegiada sobre a nossa extraordinária baía.

Mas não é verdade. O Pelourinho Medieval de Cascais, que a documentação atesta ter existido junto à ponte que ligava as duas margens da Ribeira da Vinhas, terá sido completamente destruído pelo grande terramoto de 1755.

O padrão colocado junto à baía, a que tantos aludem como sendo o dito pelourinho, é um marco comemorativo de um dos mais sanguinários e destruidores momentos da História de Portugal: a luta fratricida entre Dom Pedro e Dom Miguel e a mortífera Guerra Civil que opôs liberais a absolutistas depois da morte de Dom João VI.

No dia 24 de Julho de 1833, liderando um exército formado com o apoio da Coroa Inglesa, que tinha vastíssimos interesses na independência de Portugal e no estabelecimento de um regime liberal que satisfizesse as suas necessidades no controle das rotas comerciais com a Ásia, com África e, sobretudo, com o Brasil, entra em Lisboa o Duque da Terceira, desferindo sobre os partidários do Rei Dom Miguel I um duro golpe que pôs fim à Guerra Civil.

Dom Pedro IV, primeiro imperador do Brasil e mítico autor do célebre Grito do Ipiranga, que tornou a antiga colónia portuguesa num país independente, decide abdicar da Coroa Portuguesa na pessoa da sua filha mais velha, assumindo a liderança da Casa de Bragança e regressando a Lisboa como Regente do Reino de Portugal, deixando o seu filho Dom Pedro II como Imperador do Brasil.

A entrada triunfal da Rainha Dona Maria II em Lisboa, depois do êxito de 24 de Julho de 1833, marca o início de um novo período da vida política de Portugal, uma vez que a jovem rainha, que passara uma parte importante da sua infância em Inglaterra, mantém uma ligação de profunda afeição e amizade com a futura Rainha Vitória, fortalecendo assim uma aliança que ainda hoje tem consequências diversas na política externa portuguesa e nos equilíbrios políticos de Portugal nesta Europa escalavrada em que vivemos.

O marco ao qual os Cascalenses chamam erradamente “pelourinho”, é assim um monumento que festeja a vitória liberal e a subida ao trono da Rainha Dona Maria II de Portugal!

segunda-feira

As Obras de Construção do Largo Camões em Cascais



Até ao dia 10 de Junho de 1980 o actual Largo Luís de Camões, em plano coração da Vila de Cascais, era um sórdido e mal preparado parque de estacionamento a céu aberto. O equipamento, por sua vez, havia substituído com carácter provisório este espaço onde anteriormente existiam casas antigas, prolongando o eixo da Rua Regimento 19 de Infantaria, e que foram demolidas de forma a abrir o espaço e a criar uma praça para onde se pretendia fazer convergir as principais dinâmicas comerciais da velha vila piscatória. As obras em curso, promovidas pelo saudoso Dr. Carlos Rosa, que presidia à Câmara Municipal depois das eleições que foram ganhas pela Aliança Democrática, tinham em vista a definição de uma linha de modernidade que promovesse o comércio tradicional e permitisse a reafirmação de Cascais como destino de excelência no seio da recém-criada Área Metropolitana de Lisboa.