segunda-feira

As Grutas Pré-Históricas de Alapraia (Estoril - Cascais)



É confrangedor o estado de desmazelo em que se encontram as Grutas Pré-Históricas da Alapraia, no Concelho de Cascais…

Classificadas como Imóvel de Interesse Publicado desde 1945, através do Decreto n.º 34 452, DG, I Série, n.º 59, de 20-03-1945, as Grutas de Alapraia, também conhecidas como Necrópole Eneolítica da Alapraia (Estoril), foram descobertas no princípio do Século XX por Francisco Paula e Oliveira que a identificou. Mais tarde, realizando escavações arqueológicas que permitiram encontrar mais três grutas repletas de espólio, Afonso do Paço e Eugénio Jalhay conseguiram determinar a origem eneolítica daquele espaço de enterramento, cuja importância era reforçada pela utilização prolongada no tempo, por diversas civilizações e ao longo de várias eras.

Escavadas no calcário natural da região, as deposições da Necrópole de Alapraia situam-se cronologicamente na transição do quarto par o terceiro milénio a.C., no período caracterizado por aquilo a que se chama a ‘Revolução dos Produtos Secundários’, e apresentam características tipológicas que permitem inseri-las nas grutas arificiais de tipo coelheira. Possuem uma câmara de deposição redonda, fechada no topo por grandes lajes de pedra, e um corredor de acesso em forma de toca de coelho.

No que diz respeito ao espólio, é de sublinhar o elevado número de vestígios cerâmicos de tipologia campaniforme, que deixa antever a utilização continuada da necrópole por povos diferentes daqueles que as construíram originalmente, mas sobretudo o conjunto de artefactos votivos de calcário.

As sandálias de calcário, que só apresentam paralelo em Almeria (Espanha) juntam-se aos cilindros também calcários e às placas votivas em xisto, bem características do megalitismo Português.



A importância deste monumento, que apresenta um potencial turístico e cultural de inegável valor está, no entanto, em profundo desacordo com o estado de lastimoso abandono e incúria em que o mesmo se encontra actualmente.

Depois de ter sido abandonado o projecto de musealização imaginado e defendido pelo saudoso arqueólogo João Cabral, e de o espaço ter voltado a ficar envolvido em lixo, carros estacionados e degradação generalizada, a autarquia de Cascais decidiu encerrar as grutas enchendo-as de gravilha de forma a evitar que fossem utilizadas como depósito de entulho.

Esta decisão, obviamente em desacordo com as mais elementares normas de manutenção e preservação do património histórico, impede agora que as mesmas sejam visitas e que o seu potencial cultural possa vir (como já aconteceu noutros tempos) ajudar a consolidar a vocação turística de Cascais e dos Estoris.