terça-feira

Quando a Vila da Parede se Tornou na "Nova Olivença de Cascais"



por João Aníbal Henriques

Em 1934 a actual Vila da Parede, no Concelho de Cascais, esteve prestes a mudar de nome. Por iniciativa do Grémio Alentejano e da Comissão de Propaganda de Cascais, apoiados num artigo de jornal publicado com grande alvoroço nessa mesma data, criou-se um movimento de opinião que pretendia renomear aquele lugar com o impactante topónimo “Nova Olivença”!

Esta ideia, contextualizada numa época em que o Estado Novo se estava ainda a afirmar politicamente, procurando grandes causas que contrariassem o vazio provocado pela Primeira República, cruza-se com o desafio que Cascais igualmente atravessava de recuperar o prestígio e a importância estratégica que detinha durante os últimos anos do regime monárquico. E a denominada “Causa de Olivença”, com força e peso político de âmbito nacional, prestava-se a iniciativas ousadas…

O bastião republicano paredense, pujante durante o período que se estende desde a revolução que levou à implantação da república até à revolução nacional de 1928, havia perdido muita da sua força e a capacidade de afirmação no contexto do novo regime ia paulatinamente desaparecendo, deixando vulneráveis as posições dos mais relevantes cidadãos paredenses desses tempos.

No referido artigo publicado nesse mesmo ano, o jornal “Os Novos” advogava que a Causa de Olivença era um desígnio nacional e, como tal, Cascais, com o seu prestígio e visibilidade de nível internacional, poderia contribuir de forma decisiva para a defesa da reintegração da Cidade Alentejana de Olivença no território nacional. Para tal, bastaria alterar o nome do lugar da Parede, passando a designá-lo como “Nova Olivença”.

A causa de Olivença é uma disputa histórica entre Portugal e Espanha sobre a soberania da vila de Olivença, situada junto à fronteira luso-espanhola. Portugal perdeu o território em 1801, após a Guerra das Laranjas, pelo Tratado de Badajoz, mas nunca reconheceu plenamente essa perda, considerando o tratado nulo e invocando o Congresso de Viena (1815), que recomendava a restituição. Embora Espanha administre Olivença desde então, Portugal mantém a reivindicação diplomática, tornando a questão uma causa simbólica de afirmação histórica e territorial.

A Parede, que pouco tempo antes havia sofrido uma outra tentativa de alteração do seu topónimo, nessa altura no contexto da afirmação turística da então Costa do Sol, no âmbito da qual houve quem pretendesse designá-la como “São José do Estoril” (dando continuidade à força visual da marca ‘Estoril’ que começava no Monte Estoril e seguia por Santo António do Estoril, São João do Estoril, São Pedro do Estoril e deveria terminar na referida São José do Estoril), seria assim o fulcro da nova onda de contestação nacionalista que visava colocar a questão de Olivença no contexto da discussão política internacional, recuperando Portugal o controle político daquela localidade.



O Grémio Alentejano de Lisboa, em conjunto com a Comissão de Propaganda de Cascais, tomaram como boa esta causa e avançaram sem grande sucesso com a pressão junto do Executivo Municipal.

Não tendo despertado interesse por parte de quem governava Cascais, o projecto acabou por cair no esquecimento, mas vale a pena lembrá-lo pela importância que para a compreensão daquilo que foi o território municipal cascalense durante este período conturbado da História de Portugal.