Mostrar mensagens com a etiqueta Igrejas de Cascais. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Igrejas de Cascais. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira

Religiosidade e Sacralidade em Cascais




A vida religiosa de Cascais, profundamente marcada pela dicotomia existente entre um litoral vincado pela actividade piscatória e um interior onde a agricultura se afigura como a principal actividade dos munícipes, caracteriza-se por uma incomparável riqueza em termos patrimoniais e, sobretudo, em termos dos usos e costumes centenários que se mantêm vivos nos arquétipos culturais da população.

A ligação sempre perene que Cascais estabelece com o passado, determinante em algumas das suas mais importantes áreas de intervenção, permite às diferentes gerações que ocuparam este espaço a partilha de rituais e de cultos, os quais se vão misturando, num processo serôdio e complicado, até renasceram numa forma nova, que obriga à criação de estruturas próprias para os abrigar.

Da pré-história até à actualidade, muitos são os vestígios desta ritualidade cascalense, visível não só através dos monumentos e edifícios Cristãos, como também na expressão artística e cultural daqueles que aqui habitam. Em grande parte dos casos, mesmo nas expressões mais recentes dessa religiosidade, é fácil sentir no que hoje se constrói, a marca omnipresente do que já ali havia existido, facto que garante a Cascais uma posição única no vasto emaranhado de cultos e crenças saloias e piscatórias que caracterizam desde sempre a ecuménica e recentemente cosmopolita Península de Lisboa.

Iniciando-se na Vila de Cascais, onde podemos encontrar alguns dos mais representativos exemplares da arquitectura religiosa do Concelho, o presente roteiro sugere uma passagem demorada pelas formulações mais humildes da construção religiosa de bases rurais. A Capela de São Brás, na Areia, construído num espaço muito próximo da Capela de São José, na Quinta da Bicuda, define a sua orientação em função do passado, recriando uma ponte de ligação cultualística que o presente se encarregou de fomentar.

A viagem continua, mantendo em permanência o rumo rural do Concelho, através das antigas aldeias de Murches, Malveira-da-Serra, Manique e Alcoitão, onde o visitante encontra alguns dos exemplares mais interessantes nos quais a arquitectura de base chã se vai misturando com expressões mais eruditas e conservadoras.

A religiosidade de cariz particular, com o culto privado a marcar presença nas vetustas quintas dos grandes produtores de outrora, é caracterizada pela sua permanente abertura à sociedade. De facto, e ao contrário do que é normal acontecer noutras regiões do País, as capelas privadas de Cascais foram sempre espaços de partilha, nos quais a condição social ou a profissão se esbatia em prol de uma mistura na qual a Igreja desempenhava papel fundamental e preponderante.

Antes de terminar, o visitante deverá observar com atenção os importantíssimos exemplares de artes sacra contidos em alguns destes espaços, os quais se combinam com interessantes e milenares lendas populares, nas quais o imaginário cultual de outrora se mistura com a expressão tradicionalista do catolicismo actual.

quarta-feira

Culto e Ritualidade: A Arquitectura Religiosa de Cascais




por João Aníbal Henriques

A vivência religiosa de Cascais, sempre profundamente ligada à vida no mar e a todas as adversidades que dela resultam, é marcada de forma profusa pela construção de locais de culto e de momentos que salvaguardam a interdependência entre a componente humana e divina das populações. De grandes igrejas com muitos séculos, até às ermidas de diminutas dimensões que se escondem despretensiosamente por detrás das penedias, a arquitectura religiosa Cascalense carrega consigo segredos ancestrais que ajudam a perceber melhor a própria História de Portugal.




 Trajecto:

Comece o passeio na Estação de comboios de Cascais e desça a Travessa da Conceição em direcção ao mar. Vire à esquerda e passe o Hotel Albatroz encontrando a Capela de Nossa Senhora da Conceição à sua direita. Logo depois, sobranceiro à praia, está o crucifixo de Nossa Senhora da Conceição. Volte para trás e desça a Rua Frederico Arouca (antiga Rua Direita) virando na terceira travessa à esquerda até chegar ao Largo da Misericórdia. Contorne à igreja e desça a Rua da Saudade, virando à esquerda para a Rua Fernandes Thomaz e desfrutando da vista dos miradouros que vai passando. Desça a escadaria em direcção à Baía e atravesse a esplanada marítima junto à Praia dos Pescadores. Suba a Rua Marques Leal Pancada, situada à esquerda do edifício da Câmara Municipal, até ao Largo da Assunção. Contorne a igreja e siga para a Cidadela de Cascais através da porta situada no início da Avenida D. Carlos I. Saia da Cidadela em direcção à Avenida Rei Humberto II de Itália. Cerca de 30 metros depois encontrará à sua direita a Estátua do Papa João Paulo II e do outro lado da Rua o Centro Cultural de Cascais onde se situa a Capela de Nossa Senhora da Piedade. Siga essa mesma avenida em direcção a Sul e entre no portão do Parque Marechal Carmona situado à direita. A ermida fica à sua direita, logo depois da entrada e quase em frente ao museu. Atravesse o Parque Marechal Carmona e saia para o Largo Domingos d’Avillez, atravesse a Avenida da República e siga pela Avenida Vasco da Gama. Vire à direita na Avenida Emídio Navarro e siga até à Rua dos Navegantes. A Igreja encontra-se à sua direita. Contorne a igreja e siga pela Rua Latino Coelho em direcção a Sul até encontrar a Residencial Solar Dom Carlos. A Capela de Nossa Senhora da Nazaré está junto à residencial do seu lado esquerdo. 



01) Capela de Nossa Senhora da Conceição dos Inocentes

Construída por um voto formulado depois de um naufrágio ocorrido na Baía de Cascais em 1609, a ermida original foi alterada já no Século XIX quando lhe foram acrescentados os corpos laterais. Da sua história é de salientar o facto de ter escapado incólume ao terramoto de 1755 e de, por isso, se terem salvado todos os fiéis que lá estavam nesse momento a assistir à Missa. Depois desse episódio tornou-se num dos mais venerandos espaços religiosos de Cascais.




02) Crucifixo de Nossa Senhora da Conceição

Construído nas arribas junto à Praia da Conceição e ao lado da Capela de Nossa Senhora da Conceição dos Inocentes, este crucifixo marca o naufrágio acontecido nas águas da Baía de Cascais no ano de 1609. 



03) Igreja da Misericórdia

O edifício actual, do Século XVII, terá provavelmente substituído uma antiquíssima ermida consagrada pelos pescadores de Cascais. Tendo sido muito afectada pelo terramoto de 1755, foi reinaugurada em 1777 com a formulação especial que ainda apresenta. São de salientar as peças de arte sacra que apresenta. 



04) Igreja de Nossa Senhora da Assunção

É a Igreja Matriz de Cascais. Sendo muito antiga, e não se conhecendo com exactidão a sua origem, sabe-se que já existia no Século XVI. Com o terramoto de 1755 conheceu profunda ruína e as obras de recuperação deram-lhe a traça que hoje apresenta. É de salientar o importante espólio azulejar setecentista e as pinturas de Josefa d’Óbidos.




05) Capela de Nossa Senhora da Piedade

Estando actualmente desprovida de culto, a Capela de Nossa Senhora da Piedade fazia parte do antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade, inaugurado em 1594 pelos Senhores de Cascais. Recuperada no Século XIX quando o Visconde da Gandarinha a integrou na sua casa de veraneio a Capela apresenta ainda hoje a formulação espacial original.




06) Estátua do Papa João Paulo II

Estátua evocativa da memória peregrina do Papa João Paulo II da autoria do escultor Alves André, inaugurada em 2010 pela Paróquia de Cascais. É hoje motivo de grande veneração, conhecendo um aumento exponencial do número de fiéis que a procuram. 




07) Ermida de São Sebastião

Datada provavelmente de 1628, conforme indicação do cruzeiro colocado à sua entrada, a Ermida de São Sebastião apresenta traça rústica em linha com a sua estrutura maneirista. Importantes, pelo impacto visual que produzem, são os painéis azulejares datáveis do Século XVIII com episódios da vida de São Sebastião.

 08) Capela de Nossa Senhora da Vitória

Construída dentro da Cidadela de Cascais, a capela de Nossa Senhora da Vitória data provavelmente da segunda metade do Século XVIII, de acordo com a data inscrita nos seus painéis de azulejos. A traça que apresenta, resultante das obras de recuperação promovidas depois do terramoto de 1755, é marcada pela sobriedade de estilo e pelo apelo estético do revestimento azulejar. Está ligada ao culto a Santo António depois de ali ter estado sedeado o Regimento XIX de Infantaria que lutou sob a égide do santo taumaturgo. 




09) Igreja dos Navegantes

Inaugurada em 1720 a actual Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes conheceu grande destruição durante o grande terramoto de 1755, tendo sido recuperada somente em meados do Século XX. Tendo substituído no mesmo lugar a antiga ermida dos pescadores, teve durante muitos anos a invocação de São Pedro Gonçalves. 



10) Capela de Nossa Senhora da Nazaré

Integrada no antigo Solar dos Falcões, a Capela de Nossa Senhora da Nazaré data da primeira metade do Século XVIII. Tendo escapado quase incólume à destruição imposta pelo grande terramoto de 1755, albergou durante muitos anos o culto da paróquia, enquanto decorriam as obras de recuperação da Igreja Paroquial. De traça simples, são de realçar os painéis de azulejos em tons de azul e branco típicos da época e a evocação à Senhora da Nazaré. 

(c) HENRIQUES, João Aníbal, Levantamento Exaustivo do Património Cascalense, Cascais, Fundação Cascais, 2000.