Na continuidade daquilo que se tem tornado num hábito cada vez mais consolidado desde há cerca de 25 anos, Portugal passou uma vez mais por uma campanha eleitoral e, consequentemente, por um dia de votos ao qual fugiram mais de 60% dos Portugueses.
Com a Europa como mote, e sobretudo com matérias no âmbito da política Europeia das quais depende directamente o País nesta época de crise internacional muito grave em discussão, foi imensamente triste o cenário pelo qual passámos.
Da esquerda à direita, todos os partidos que participaram neste acto foram unânimes na completa omissão em termos de ideias, propostas e programas de intervenção na Europa. Vistas de fora, mal se notou que de eleições europeias se tratavam…
No rescaldo dos resultados, e também de forma unânime, todos os partidos reiteraram aquilo que foi a prática comum ao longo dos últimos 6 meses… a política interna… as vicissitudes no número de deputados… a extrapolação em relação àquilo que seria se estivéssemos em legislativas… etc. etc. etc. Sobre a Europa; sobre tudo aquilo de que Portugal depende relativamente a essas longínquas instâncias de Estrasburgo; sobre quais serão as posições que tomarão, as políticas que defenderão e as propostas que ali vão apresentar; nem uma só palavra… nem uma discordância… nem uma discussão.
Durante a campanha, nas acções de campanha e nas arruaças que todos os candidatos promoveram, foi também de tristeza o clima que todos vimos. O povo, ou seja, os Portugueses que os partidos agora criticam por não terem ido votar, não sabia quem eram os candidatos (nem sequer os cabeças de lista), quantos iriam eleger, o que eles pretendem fazer, o que defendem, etc. Mas mais grave ainda, este mesmo povo, obviamente por culpa dos partidos que controlam esta nossa espécie de democracia, ainda se refere à Comunidade Europeia como CEE, sigla que, diga-se de passagem, também não sabe o que significa…
Ou seja, foi uma vez mais um acto completamente inócuo e profundamente descontextualizado que, contrariamente ao que todos disseram, pouca ou nada espelha aquilo que sentem, aquilo pelo qual anseiam, e sobretudo aquilo que defendem os Portugueses.
A única informação importante e fidedigna, que deveria deixar apreensivas as instituições ditas competentes e em pânico estes partidos que temos, é a dos 62,5 % dos Portugueses que não se dignaram dirigir-se às urnas. Porque não valia a pena…
Lembro-me bem, até há sensivelmente 10 anos atrás, quando ainda estavam vivas as pessoas que nasceram na viragem do Século, que quase todas, de forma unânime, se referiam ao assassinato do Rei Dom Carlos como o momento político mais marcante das suas vidas. Um Rei que nunca ouviram falar; um Rei que defendia coisas que nada lhes diziam; um Rei que viveu envolto nas tramas e nas discórdias de um regime político que os partidos políticos de então se encarregaram de estragar; um Rei que foi morto quando elas tinham 5, 6 ou 7 anos de idade; um Rei cujo assassinato já tinha acontecido há mais de 80 anos.
Mas essa figura, distante, desconhecida e polémica representava-os. Personificava Portugal, e era o garante e a salvaguarda (mesmo que simbolicamente) dos seus valores, princípios, sonhos e anseios. Marcava-os, por isso, tudo aquilo pelo qual passava.
Hoje, quando a generalidade dos Portugueses nem sequer sabe quantos deputados europeus elegemos, e não faz a mais pequena ideia de que a comunidade já não é meramente económica mas também política, teoricamente representando-os perante o Mundo globalizado; quando a comunicação social nos invade as casas com os rostos, as palavras vãs, e as pretensões dos partidos Portugueses; quando a informação está ao alcance de uma pesquisa no Google e nos é bombardeada para dentro da sala; resta meditar…
Quem é que, verdadeiramente, nos representa? O que vai ser de Portugal?