Por João Aníbal Henriques
A geografia medieval de Cascais, associada à implantação do antigo castelo e, mais tarde, à readaptação do espaço às circunstâncias que derivam dos vários episódios rocambolescos pelos quais passou a Vila, é hoje bastante fácil de decifrar. Descobertas modernas, efectuados um pouco por todos os arquivos históricos em Portugal e Espanha, permitem definir com alguma clareza a forma como se organizou o espaço e a vivência das suas gentes.
Se, por um lado, a monumentalidade da concepção arquitectónica do seu castelo não deixa indiferente aquele que o visita, por outro, e no que ao Castelo Medieval de Cascais diz respeito, foram muitos aqueles que se sentiram de tal forma marcados pela visão de tão vetusto monumento que optaram como eternizá-la em mapas, figuras e gravuras que se estendem ao longo dos tempos e das épocas históricas. Estas, que vão desde o esboço a carvão de um mero retrato até ao complexo mundo da cartografia, conseguem trazer até nós um pouco daquilo que foi este recinto amuralhado, quase desde a época áurea da nossa Nação até aos inícios do Século XX.
Para este conhecimento contribuiu o esforço de uma série de pessoas que, estudando com empenho os arquivos Nacionais e estrangeiros, conseguiram trazer para a actualidade toda a documentação que tornou possível este trabalho. De entre elas, salientamos a da Drª. Margarida Magalhães Ramalho, que procurando no Arquivo de Simancas, em Espanha, fontes para complementar as escavações arqueológicas que dirigiu na antiga Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, na Cidadela de Cascais, conseguiu trazer à luz do dia e ao público em geral, duas imagens inéditas deste castelo, que aliadas àquelas que nos mostram Ferreira de Andrade, Carlos Ribeiro e Guilherme Cardoso, permitiram a reconstituição quase completa da forma do mesmo.
Assim, na mais antiga descrição que se conhece da Vila, a figura datada de 1572 da autoria de George Braunius, impressa na sua obra “Civitias Orbius Terrarum”, pode ver-se a vila envolvida pelas muralhas, que possuíam sete torres, sendo as do lado Nascente de forma circular. Junto à praia, uma barbacã defendia o areal dos desembarques do inimigo e é a única porta que vislumbramos aberta na muralha. A torre Sul do castelo é a única que possui telhado e tem geminadas duas construções que seriam, provavelmente, as casas do Conde de Cascais.
O Professor A.H. de Oliveira Marques diz-nos, acerca da topografia da Vila Medieval de Cascais, que muito pouco se pode saber. No entanto, e também em comparação com a já referida Gravura de Braunius, ele sublinha o seguinte: “O confronto com planta actual e com as mais antigas plantas de Cascais, que datam do Século XVII, permite aventar uns 0,6 Há para a área compreendida dentro da cinta amuralhada”. Este autor aponta-nos ainda o facto de originariamente este castelo se situar no ângulo Sueste do perímetro amuralhado.
Segundo Manuel Acácio Pereira Lourenço, as muralhas deviam ocupar uma pequena área, e teriam sofrido uma série de transformações e melhoramentos, que nas suas estruturas externas, que nas suas dependências senhoriais, pelos vários senhores que decerto aí residiram: “Desde os meados do Século XIV que há notícias de que parte da Vila já era cerca de muralhas que deviam ocupar uma pequena área, a qual se pode circunscrever hoje ao espaço existente entre a Estrada Marginal, a Sul, a Rua Marques Leal Pancada, a Norte, a Rua Luís Xavier Palmeirim, a Oeste, e a escarpa sobre a Baía, a Leste. Dentro destas muralhas, e na sua face Norte existia o castelete, que era, presumivelmente, o palácio dos donatários. É possível que o primeiro donatário, Gomes Lourenço de Avelar, já ali possuísse a sua habitação, como é certo que o arrogante Henrique Manuel de Vilhena ali residiu. Porém, se qualquer destes dois donatários ali fez obras importantes, é mais provável que João das Regras, pela alta importância da sua personalidade, longa vida e frequente permanência em Cascais, tivesse feito maiores instalações, depois melhoradas e ampliadas pelo genro”. E é ainda este autor que nos propõe uma lista de moradores que em épocas que se seguiram, devido à perda de importância do castelo, ali passaram a residir permanentemente.
Carlos Ribeiro, numa das publicações dos Serviços Geológicos Portugueses, dá-nos uma panorâmica da Costa de Cascais, onde se podem ver o castelo, o Convento de Nossa Senhora da Piedade, o porto do Marégrafo e ainda a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz. Esta panorâmica, datada na publicação do Século XIX, não poderá, no entanto, ser considerada válida como elemento descritivo da Costa de Cascais, uma vez que apresenta graves faltas no que concerne ao posicionamento de certos componentes no desenho.
Assim, aponta-nos uma ligação entre o antigo Castelo Medieval de Cascais e a actual Cidadela. Por outro lado, o Convento de Nossa Senhora da Piedade que, como hoje se sabe, ficou muito danificado como consequência do grande terramoto de 1755, aparece-nos aqui completamente erguido de acordo com as descrições dos Frades Carmelitas que aí habitaram. Um varandim trabalhado e decorado que hoje se encontra na fachada Sul do edifício, e que o Visconde da Gandarinha aí mandou colocar após ter adquirido as ruínas do antigo edifício em meados do Século XIX, aparece-nos nesta gravura no seu local original de antes do terramoto, ou seja, na fachada Este. A descrição que aí se encontra do arco de entrada para o sítio do castelo, situando-se a cerca de sete centímetros, no desenho, a Sul do porto marégrafo, colocá-lo-ia no mesmo sítio onde no Século XIX se encontraria a Cidadela e a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz.
Tomando esta gravura como verdadeira, ela representaria uma realidade que se situaria cronologicamente entre os Séculos XVI e XVII, pois torna-se completamente obsoleta a representação da Cidadela, sem espaço de divisão até ao Castelo, e ainda para mais encontrando-se a Norte do Convento, que actualmente se sabe, e este facto pode ainda ser verificado ‘in locco’, situar-se exactamente e em perfil, no espaço que se situa entre as duas construções.
Para além da figura de Braunius, existem ainda algumas figuras mais recentes, mas que no entanto dão contributos bastante importantes para o conhecimento da localização do antigo Castelo Medieval de Cascais. A planta desenhada por Filipe Terzio, recolhida também pela Drª. Margarida Magalhães Ramalho no Arquivo de Simancas, apresenta a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, a Casa do Visconde Monsanto e a Vila Velha em perspectiva, seguida da seguinte legenda: “Plano de Cascaes en donde figuran en prespectiva las fortalezas nueva e vieja asi como las casas de Don António, señor de Cascaes. Lisboa 22 Jenero 1594”.
Nesta planta, a Vila Velha aparece-nos englobada dentro das antigas muralhas medievais do castelo, sendo composta de cerca de onze habitações e de umas cavalariças. O acesso a esta área era feito através de uma porta lateral que daria para a actual Rua Marques Leal Pancada. Junto a esta porta está desenhada em perspectiva uma das torres circulares do castelo, que possivelmente será aquela que ainda em finais da década de quarenta do Século passado, o Visconde Coruche terá fotografado. Segundo a opinião de Guilherme Cardoso e João Pedro Cabral, seria esta a Torre do Relógio: “A torre onde estava o relógio é a torre do lado Nascente da torre porta, conforme a Planta de Terccio e era de configuração circular (…)”.
Segundo a Drª. Margarida Magalhães Ramalho, e de acordo com o que se pode ver nesta figura, a torre possuiria três andares: “De três andares, com um pequeno “varandim” entre o segundo e o terceiro piso é encimada por uma pequena cúpula”.
Outra das plantas que nos pode esclarecer acerca de delimitação geográfica do Castelo de Cascais é da autoria de Leonardo Turriano, datada de 28 de Abril de 1597. Tem esta figura a seguinte legenda: “Plano de Cascaes que represente en la parte superior el monasterio de Santo António y en la parte inferior el fuerte, jardines y casa del conde de Monsanto junto a la muralla del castillo viejo com el diseño de una trinchera que ha de efectuarse para su defensa por Leonardo Turriano 28 de Abril de 1697”.
Neste desenho podemos reconhecer a forma como o Palácio dos Senhores de Cascais terá sido implantado sobre um dos pedaços de muralhas hoje desaparecidos, na fachada Nascente do mesmo castelo, destruindo, para a sua construção, algumas das torres que ladeavam as muralhas.
As restantes plantas da Vila de Cascais, todas elas da autoria de desenhadores Italianos ao serviço do Rei de Espanha, pouco ou nada adiantam à descrição do Castelo de Cascais, uma vez que são decalques umas das outras, efectuadas com o propósito de informar este Monarca do estado em que se encontravam as fortalezas Portuguesas, neste caso específico da de Nossa Senhora da Luz, pouco mais dizendo relativamente ao Castelo Medieval ou a outros aspecto do devir urbano da maravilhosa Vila de Cascais.
Somente a título de curiosidade, o autor de uma delas, o Italiano Frei Vicenzio Casale, faz a seguinte legenda da sua planta: "Hazer modello de Casquaiz ansi del castillo com de la villa metiendo dentro la Iglesia q se haze aora y la casa del señor e unos redutos q aj."
Segundo Guilherme Cardoso e João Pedro Cabral, nos seus "Apontamentos Sobre os Vestígios do Antigo Castelo de Cascais", existiam várias portas que davam acesso ao Castelo de Cascais: "Eram duas as portas do castelo, se bem que anteriormente tenha existido uma outra na barbacã, sensivelmente onde hoje são as escadas ao fim da Rua Manuel de Araújo Viana. O "títolo 140º, lixo na porta pequena do livro de posturas da câmara - 1587-1837" refere-nos a existência de uma porta pequena no lado do mar. O "títolo 63º" do mesmo livro sobre o "lixo e a sugidade na villa", refere também a porta pequena que ficava abaixo do castelo redondo do senhor. A referência a uma porta pequena deixa implícita a existência de uma outra porta, que considerada em oposição, deveria ser maior. Essa porta pequena consta na Planta de Terccio e localizava-se senvolvelmente onde hoje são as escadas do arruamento que parte do Sítio do Castelo".
O facto é que ainda hoje, ao subirmos a íngreme ladeira que faz a Rua Marques Leal Pancada, podemos encontrar restos do antigo Castelo Medieval de Cascais. Aqui, nota-se uma grande porta há muito emparedada que, pelo facto de ter figurado o Escudo dos Castros, encimado pela Esfera Armilar, poderá ser considerada como a principal porta do castelo. Esta parte, apesar das modernas intervenções que sofreu, apresenta ainda as seteiras autênticas e o já mencionado escudo.
Ainda na mesma Rua Marques Leal Pancada existe uma outra porta em forma de arco. Segundo a maior parte das opiniões, essa porta, onde se pode ler uma breve alusão Às reuniões dos homens bons de Cascais que aí ocorreriam, teria sido aberta em época muito posterior, não fazendo parte da configuração original da fortificação.
Por tudo o que aqui foi apresentado, pode concluir-se que o Castelo de Cascais, embora de raízes perdidas na bruma dos tempos, conserva ainda hoje vários vestígios que nos permitem perceber que foi na Época Medieval que ocorreram as maiores e mais marcantes intervenções no casco urbano de Cascais.
Em termos grográficos, a área do antigo Castelo Medieval é delimitado na actualidade pela Avenida Dom Carlos I, pela Rua Luís Xavier Palmeirim e pela Rua Marques Leal Pancada. Lá dentro, o perímetro amuralhado compreenderia a actual Rua Major Augusto Escrivanis, a Rua Manuel de Araújo Viana, a Travessa Tenente Valadim e a Rua Tenente Valadim.
As suas muralhas, servindo altaneiramente a Causa Nacional, erguiam-se sobranceiras ao mar, e continham no seu interior, para além do Palácio dos Senhores de Cascais, um núcleo de casas de habitação que posteriormente serviram para albergar grande parte da população de Cascais.
A geografia medieval de Cascais, associada à implantação do antigo castelo e, mais tarde, à readaptação do espaço às circunstâncias que derivam dos vários episódios rocambolescos pelos quais passou a Vila, é hoje bastante fácil de decifrar. Descobertas modernas, efectuados um pouco por todos os arquivos históricos em Portugal e Espanha, permitem definir com alguma clareza a forma como se organizou o espaço e a vivência das suas gentes.
Se, por um lado, a monumentalidade da concepção arquitectónica do seu castelo não deixa indiferente aquele que o visita, por outro, e no que ao Castelo Medieval de Cascais diz respeito, foram muitos aqueles que se sentiram de tal forma marcados pela visão de tão vetusto monumento que optaram como eternizá-la em mapas, figuras e gravuras que se estendem ao longo dos tempos e das épocas históricas. Estas, que vão desde o esboço a carvão de um mero retrato até ao complexo mundo da cartografia, conseguem trazer até nós um pouco daquilo que foi este recinto amuralhado, quase desde a época áurea da nossa Nação até aos inícios do Século XX.
Para este conhecimento contribuiu o esforço de uma série de pessoas que, estudando com empenho os arquivos Nacionais e estrangeiros, conseguiram trazer para a actualidade toda a documentação que tornou possível este trabalho. De entre elas, salientamos a da Drª. Margarida Magalhães Ramalho, que procurando no Arquivo de Simancas, em Espanha, fontes para complementar as escavações arqueológicas que dirigiu na antiga Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, na Cidadela de Cascais, conseguiu trazer à luz do dia e ao público em geral, duas imagens inéditas deste castelo, que aliadas àquelas que nos mostram Ferreira de Andrade, Carlos Ribeiro e Guilherme Cardoso, permitiram a reconstituição quase completa da forma do mesmo.
Assim, na mais antiga descrição que se conhece da Vila, a figura datada de 1572 da autoria de George Braunius, impressa na sua obra “Civitias Orbius Terrarum”, pode ver-se a vila envolvida pelas muralhas, que possuíam sete torres, sendo as do lado Nascente de forma circular. Junto à praia, uma barbacã defendia o areal dos desembarques do inimigo e é a única porta que vislumbramos aberta na muralha. A torre Sul do castelo é a única que possui telhado e tem geminadas duas construções que seriam, provavelmente, as casas do Conde de Cascais.
O Professor A.H. de Oliveira Marques diz-nos, acerca da topografia da Vila Medieval de Cascais, que muito pouco se pode saber. No entanto, e também em comparação com a já referida Gravura de Braunius, ele sublinha o seguinte: “O confronto com planta actual e com as mais antigas plantas de Cascais, que datam do Século XVII, permite aventar uns 0,6 Há para a área compreendida dentro da cinta amuralhada”. Este autor aponta-nos ainda o facto de originariamente este castelo se situar no ângulo Sueste do perímetro amuralhado.
Segundo Manuel Acácio Pereira Lourenço, as muralhas deviam ocupar uma pequena área, e teriam sofrido uma série de transformações e melhoramentos, que nas suas estruturas externas, que nas suas dependências senhoriais, pelos vários senhores que decerto aí residiram: “Desde os meados do Século XIV que há notícias de que parte da Vila já era cerca de muralhas que deviam ocupar uma pequena área, a qual se pode circunscrever hoje ao espaço existente entre a Estrada Marginal, a Sul, a Rua Marques Leal Pancada, a Norte, a Rua Luís Xavier Palmeirim, a Oeste, e a escarpa sobre a Baía, a Leste. Dentro destas muralhas, e na sua face Norte existia o castelete, que era, presumivelmente, o palácio dos donatários. É possível que o primeiro donatário, Gomes Lourenço de Avelar, já ali possuísse a sua habitação, como é certo que o arrogante Henrique Manuel de Vilhena ali residiu. Porém, se qualquer destes dois donatários ali fez obras importantes, é mais provável que João das Regras, pela alta importância da sua personalidade, longa vida e frequente permanência em Cascais, tivesse feito maiores instalações, depois melhoradas e ampliadas pelo genro”. E é ainda este autor que nos propõe uma lista de moradores que em épocas que se seguiram, devido à perda de importância do castelo, ali passaram a residir permanentemente.
Carlos Ribeiro, numa das publicações dos Serviços Geológicos Portugueses, dá-nos uma panorâmica da Costa de Cascais, onde se podem ver o castelo, o Convento de Nossa Senhora da Piedade, o porto do Marégrafo e ainda a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz. Esta panorâmica, datada na publicação do Século XIX, não poderá, no entanto, ser considerada válida como elemento descritivo da Costa de Cascais, uma vez que apresenta graves faltas no que concerne ao posicionamento de certos componentes no desenho.
Assim, aponta-nos uma ligação entre o antigo Castelo Medieval de Cascais e a actual Cidadela. Por outro lado, o Convento de Nossa Senhora da Piedade que, como hoje se sabe, ficou muito danificado como consequência do grande terramoto de 1755, aparece-nos aqui completamente erguido de acordo com as descrições dos Frades Carmelitas que aí habitaram. Um varandim trabalhado e decorado que hoje se encontra na fachada Sul do edifício, e que o Visconde da Gandarinha aí mandou colocar após ter adquirido as ruínas do antigo edifício em meados do Século XIX, aparece-nos nesta gravura no seu local original de antes do terramoto, ou seja, na fachada Este. A descrição que aí se encontra do arco de entrada para o sítio do castelo, situando-se a cerca de sete centímetros, no desenho, a Sul do porto marégrafo, colocá-lo-ia no mesmo sítio onde no Século XIX se encontraria a Cidadela e a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz.
Tomando esta gravura como verdadeira, ela representaria uma realidade que se situaria cronologicamente entre os Séculos XVI e XVII, pois torna-se completamente obsoleta a representação da Cidadela, sem espaço de divisão até ao Castelo, e ainda para mais encontrando-se a Norte do Convento, que actualmente se sabe, e este facto pode ainda ser verificado ‘in locco’, situar-se exactamente e em perfil, no espaço que se situa entre as duas construções.
Para além da figura de Braunius, existem ainda algumas figuras mais recentes, mas que no entanto dão contributos bastante importantes para o conhecimento da localização do antigo Castelo Medieval de Cascais. A planta desenhada por Filipe Terzio, recolhida também pela Drª. Margarida Magalhães Ramalho no Arquivo de Simancas, apresenta a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, a Casa do Visconde Monsanto e a Vila Velha em perspectiva, seguida da seguinte legenda: “Plano de Cascaes en donde figuran en prespectiva las fortalezas nueva e vieja asi como las casas de Don António, señor de Cascaes. Lisboa 22 Jenero 1594”.
Nesta planta, a Vila Velha aparece-nos englobada dentro das antigas muralhas medievais do castelo, sendo composta de cerca de onze habitações e de umas cavalariças. O acesso a esta área era feito através de uma porta lateral que daria para a actual Rua Marques Leal Pancada. Junto a esta porta está desenhada em perspectiva uma das torres circulares do castelo, que possivelmente será aquela que ainda em finais da década de quarenta do Século passado, o Visconde Coruche terá fotografado. Segundo a opinião de Guilherme Cardoso e João Pedro Cabral, seria esta a Torre do Relógio: “A torre onde estava o relógio é a torre do lado Nascente da torre porta, conforme a Planta de Terccio e era de configuração circular (…)”.
Segundo a Drª. Margarida Magalhães Ramalho, e de acordo com o que se pode ver nesta figura, a torre possuiria três andares: “De três andares, com um pequeno “varandim” entre o segundo e o terceiro piso é encimada por uma pequena cúpula”.
Outra das plantas que nos pode esclarecer acerca de delimitação geográfica do Castelo de Cascais é da autoria de Leonardo Turriano, datada de 28 de Abril de 1597. Tem esta figura a seguinte legenda: “Plano de Cascaes que represente en la parte superior el monasterio de Santo António y en la parte inferior el fuerte, jardines y casa del conde de Monsanto junto a la muralla del castillo viejo com el diseño de una trinchera que ha de efectuarse para su defensa por Leonardo Turriano 28 de Abril de 1697”.
Neste desenho podemos reconhecer a forma como o Palácio dos Senhores de Cascais terá sido implantado sobre um dos pedaços de muralhas hoje desaparecidos, na fachada Nascente do mesmo castelo, destruindo, para a sua construção, algumas das torres que ladeavam as muralhas.
As restantes plantas da Vila de Cascais, todas elas da autoria de desenhadores Italianos ao serviço do Rei de Espanha, pouco ou nada adiantam à descrição do Castelo de Cascais, uma vez que são decalques umas das outras, efectuadas com o propósito de informar este Monarca do estado em que se encontravam as fortalezas Portuguesas, neste caso específico da de Nossa Senhora da Luz, pouco mais dizendo relativamente ao Castelo Medieval ou a outros aspecto do devir urbano da maravilhosa Vila de Cascais.
Somente a título de curiosidade, o autor de uma delas, o Italiano Frei Vicenzio Casale, faz a seguinte legenda da sua planta: "Hazer modello de Casquaiz ansi del castillo com de la villa metiendo dentro la Iglesia q se haze aora y la casa del señor e unos redutos q aj."
Segundo Guilherme Cardoso e João Pedro Cabral, nos seus "Apontamentos Sobre os Vestígios do Antigo Castelo de Cascais", existiam várias portas que davam acesso ao Castelo de Cascais: "Eram duas as portas do castelo, se bem que anteriormente tenha existido uma outra na barbacã, sensivelmente onde hoje são as escadas ao fim da Rua Manuel de Araújo Viana. O "títolo 140º, lixo na porta pequena do livro de posturas da câmara - 1587-1837" refere-nos a existência de uma porta pequena no lado do mar. O "títolo 63º" do mesmo livro sobre o "lixo e a sugidade na villa", refere também a porta pequena que ficava abaixo do castelo redondo do senhor. A referência a uma porta pequena deixa implícita a existência de uma outra porta, que considerada em oposição, deveria ser maior. Essa porta pequena consta na Planta de Terccio e localizava-se senvolvelmente onde hoje são as escadas do arruamento que parte do Sítio do Castelo".
O facto é que ainda hoje, ao subirmos a íngreme ladeira que faz a Rua Marques Leal Pancada, podemos encontrar restos do antigo Castelo Medieval de Cascais. Aqui, nota-se uma grande porta há muito emparedada que, pelo facto de ter figurado o Escudo dos Castros, encimado pela Esfera Armilar, poderá ser considerada como a principal porta do castelo. Esta parte, apesar das modernas intervenções que sofreu, apresenta ainda as seteiras autênticas e o já mencionado escudo.
Ainda na mesma Rua Marques Leal Pancada existe uma outra porta em forma de arco. Segundo a maior parte das opiniões, essa porta, onde se pode ler uma breve alusão Às reuniões dos homens bons de Cascais que aí ocorreriam, teria sido aberta em época muito posterior, não fazendo parte da configuração original da fortificação.
Por tudo o que aqui foi apresentado, pode concluir-se que o Castelo de Cascais, embora de raízes perdidas na bruma dos tempos, conserva ainda hoje vários vestígios que nos permitem perceber que foi na Época Medieval que ocorreram as maiores e mais marcantes intervenções no casco urbano de Cascais.
Em termos grográficos, a área do antigo Castelo Medieval é delimitado na actualidade pela Avenida Dom Carlos I, pela Rua Luís Xavier Palmeirim e pela Rua Marques Leal Pancada. Lá dentro, o perímetro amuralhado compreenderia a actual Rua Major Augusto Escrivanis, a Rua Manuel de Araújo Viana, a Travessa Tenente Valadim e a Rua Tenente Valadim.
As suas muralhas, servindo altaneiramente a Causa Nacional, erguiam-se sobranceiras ao mar, e continham no seu interior, para além do Palácio dos Senhores de Cascais, um núcleo de casas de habitação que posteriormente serviram para albergar grande parte da população de Cascais.