por João Aníbal Henriques
Conforme já todos esperavam, o
exercício eleitoral que ontem decorreu em Portugal ficou envolvido por um
conjunto alteroso de pretensiosas ironias. Para uns, uma diminuição dramática
de votantes e a redução do número de eleitos, foi uma vitória incontornável que
se associa à derrota do governo. Para outros, a derrota inquestionável que
sofreram quase parece ma semi-vitória dado o desplante inqualificável dos
restantes concorrentes, o contexto em que as eleições decorreram e mais uma
extensa verborreia que enche horas de emissão televisiva e muitas páginas de
jornais.
Na prática, fica para a História
a impressionante taxa de abstencionistas de 66,09 %, ou seja, de um conjunto de
eleitores que fazendo uso do seu direito constitucional, decidiram nem sequer
ir votar.
Mas o grande problema, mais do
que os resultados destas eleições que pouco ou nada influem na vida de Portugal
e dos Portugueses, são as consequências políticas que estes resultados trarão
para o nosso País. Porque se PSD e PS deixam transparecer que se acentua o
fosso de incomunicabilidade que parece caracterizar as suas relações, levando à
costas um CDS ávido daquela golfada de ar que lhe permite ir sobrevivendo, o certo é que a soma de votos de cada um
destes três partidos resulta numa percentagem inglória relativamente ao universo
eleitoral.
E nas próximas legislativas, se
se mantiver esta linha desinteressante de participação, e parece que assim será
se tivermos a sorte de Portugal não se debater com um qualquer cataclismo,
assistiremos a uma natural e automática reaproximação entre estes três
partidos, no âmbito de uma espécie de renovado bloco central, que será o único
cenário que permitirá viabilizar um governo minimamente consistente.
Ou seja, num cenário eleitoral
incipiente como este, teremos um novo governo com o PSD, o PS e eventualmente o
CDS que, reunindo as forças suficiente para tomar as rédeas do País, vai pura e
simplesmente matar a oposição.
Em cenários deste tipo, e a
Europa eleitoral de ontem provou isso mesmo, ganham palco os extremismos, os fenómenos
de franja e o inusitado dos discursos que tudo podem dizer por saberem que
estão indefectivelmente afastados de qualquer possibilidade de chegar ao poder.
Fenómenos deste tipo são populares e rapidamente podem transformar-se em
movimentos de massas que acabam por modificar a História e os destinos das
gentes.
Alguém se lembra do que aconteceu
na Alemanha na década de 30 do Século XX?
Resultados das Eleições Europeias de 2014 tendo em conta o número real de votantes:
PS = 10,8%;
PSD/CDS = 9,7%;
PCP = 4%;
MPT = 2,4%;
Bloco de Esquerda = 1,5%
PSD/CDS = 9,7%;
PCP = 4%;
MPT = 2,4%;
Bloco de Esquerda = 1,5%