por João Aníbal Henriques
Altivo no meio da desagregada
ruína que o caracteriza actualmente, o Palácio do Intendente, situado na
localidade de Manique do Intendente, é ainda hoje uma surpresa para todos
aqueles que por ali passam pontualmente. Com um estilo neoclássico muito
firmado, fazendo lembrar a altivez pétrea de Mafra e as linhas sóbrias do
Teatro São Carlos, em Lisboa, o Palácio do Intendente representa o sonho nunca concretizado do
antigo Intendente-Geral da Polícia Diogo Pina Manique.
Situado na Freguesia de Manique
do Intendente e assumindo uma posição central na praça principal da localidade,
o Palácio de Manique do Intendente começou a ser construído em finais do Século
XVIII depois de a rainha D. Maria I, como forma de agradecimento pelos
importantes serviços prestados pelo seu Intendente-Geral da Polícia, ter
concedido as terras da antiga povoação de Alcoentrinho a Diogo de Pina Manique
que lhes alterou a designação para a actual Manique do Intendente.
Não se conhecendo o nome do
arquitecto responsável pelo projecto, julga-se que, mercê da proximidade do
traço relativo ao projecto do Teatro São Carlos em Lisboa, também mandado
construir por Pina Manique com quem mantinha uma relação de bastante
proximidade, o mesmo poderá da autoria de José da Costa e Silva.
Portentoso, o edifício apresenta características
incomuns para a realidade arquitectónica portuguesa da sua época, não só pela
grandiosidade do mesmo, certamente devida ao facto de o Intendente-Geral
pretender construir uma nova cidade de raiz a partir da centralidade marcante
daquela construção, como também pela sua planta dividida pelo corpo central
assente numa grande igreja que se impõe ao conjunto. De facto, quase
contrariando a orientação pragmática associada à magnificência que Pina Manique
desejava impor através desta construção, o edifício não tem uma entrada mo
monumental, dividindo-se a mesma em quatro acessos laterais, e perde o seu peso
cénico a partir da presença muito forte do corpo da igreja.
Estando actualmente num estado avançado
de degradação, que contrasta de forma evidente com o valor simbólico e
patrimonial do edifício, o Palácio do Intendente nunca chegou a ser concluído,
uma vez que, em 1805, quando Diogo de Pinha Manique foi morto com dois tirões quando
regressava a cavalo de Alcoentre, foi completamente abandonado ainda por
acabar. Para juntar a este problema, o edifício foi ainda bastante abalado por
um ciclone que destruiu a cobertura do claustro já em 1941.
Classificado como Imóvel de Interesse Público através do
Decreto nº 45/93, o Palácio do Intendente é hoje uma referência incontornável no
panorama patrimonial Português e, apesar do seu estada avançado de ruína,
expressa de forma inolvidável um dos mais consequentes e pragmáticos momentos
da História de Portugal.