Cascais
surge ao público associada quase sempre a uma ideia de conservadorismo que não
corresponde à realidade. Em vários sectores de actividade, desde a ciência, à
tecnologia, à pintura, escultura e literatura, passando pelo empreendedorismo e
até pela política, Cascais foi sempre terra de vanguarda e contribuiu de forma
decisiva para o nascimento e consolidação de ideias inovadoras que ajudaram a
transformar e a fazer evoluir Portugal e o próprio Mundo. Um destes exemplos
prende-se com o surpreendente rol de “Casas Clandestinas” existente neste
concelho. De facto, desde a sua fundação em 1921, que o Partido Comunista
Português utiliza o respeito pela liberdade que aqui encontra para dar corpo às
suas iniciativas e projectos. Em
Novembro de 1943, contra quase tudo o que é expectável, realiza-se no Monte
Estoril o primeiro congresso do partido depois de ter sido remetido à
clandestinidade, no qual o líder Álvaro Cunhal, em plena II Guerra Mundial, vem
defender a unidade da Nação Portuguesa na luta pelo pão, pela liberdade e pela
independência. E alguns anos depois, já em 1957, é em Cascais que são aprovados
os primeiros estatutos do partido, alicerçando um programa de princípios que
norteará a actividade comunista durante as épocas conturbadas que depressa
chegarão. Decorrido na Casa dos Cedros, em São João do Estoril, este V
Congresso do PCP é marcado pela grande discussão sobre o problema colonial,
tendo sido a primeira vez que os congressistas Portugueses recebem as saudações
oficiais por parte dos restantes partidos comunistas do Mundo de então. Depois,
já em 3 de Janeiro de 1960, foi na Vivenda Montalvinho, em São João do Estoril,
que o histórico líder comunista se refugiou depois do grande sucesso da sua fuga
da prisão em Peniche, mostrando de forma cabal ser este o destino de excepção
que melhor lhe garantiria a segurança neste momento tão importante, inquietante
e marcante da sua vida pessoal e da vida do próprio partido nascente. Em suma,
num registo historicamente longo de respeito pelo outro e pelo pensamento de
vanguarda, Cascais foi sempre um verdadeiro bastião de liberdade, tendo a
capacidade de acolher e promover formas alternativas e vanguardistas de
pensamento. Porque este é o ADN Cascalense.