A Ribeira das Vinhas, com uma extensão de cerca de 9 kms entre a foz e a nascente, é uma das vias históricas mais importantes de Cascais. Durante muitos séculos, era por ali que chegavam à vila os produtos hortícolas produzidos no sopé da Serra de Sintra, bem como o leite que abastecia a população local. Com a recuperação do antigo trilho saloio, a Câmara Municipal de Cascais cumpre o desígnio ancestral de fazer chegar o Parque Natural de Sintra-Cascais à vila, devolvendo aos Cascalenses a possibilidade de viverem de forma plena e integral a excelência deste seu território…
por João Aníbal Henriques
A edilidade Cascalense chama-lhe a “revolução verde”, dando mote a um vasto conjunto de intervenções de requalificação ambiental que alteram radicalmente a paisagem municipal. Os parques urbanos, cruzados com a renaturalização de muitos cantos e recantos que acumulavam lixo e entulho há muitas décadas, juntam-se a um conjunto de projectos estruturantes desenvolvidos ao longo das principais ribeiras do concelho que, atravessando longitudinalmente o espaço municipal, minimizam os efeitos da diferenciação que existe entre o troço situado a Norte da A5 e aquele que acompanha a linha de costa.
No último fim-de-semana,
cumprindo o programa de iniciativas previstas para o actual mandato autárquico,
foi inaugurada a segunda fase do trilho saloio da Ribeiras das Vinhas. Com
início simbolicamente colocado no pontão situado na Praia dos Pescadores, no
coração da Vila de Cascais, o trilho prolonga-se ao longo de cerca de 8 kms até
à Quinta do Pisão, já em plano parque natural, num circuito deslumbrante em
termos paisagísticos mas pensado e delineado de forma a assegurar conforto e
segurança a todos os que por ali desejem passar.
Com esta iniciativa, que permite
calcorrear a pé, de bicicleta ou a cavalo uma das mais bonitas paisagens de
Cascais, a Câmara Municipal recupera um dos caminhos mais antigos de Cascais.
De facto, desde tempos imemoriais
que o trilho da Ribeira das Vinhas servia de via principal de acesso à vila.
Era por ali, acompanhando o curso da água, que chegavam a Cascais os principais
mantimentos hortícolas produzidos na zona saloia ao concelho. E era também pelo
mesmo caminho que as lavadeiras carregavam a roupa suja dos cascalenses que era
lavada e devolvida aos seus legítimos proprietários utilizando burros que
faziam o trajecto sempre carregados.
Ao longo desta via, marcando a paisagem com o picotado branco da pedra calcária, moinhos e azenhas multiplicavam-se, utilizando sobretudo a força da água para a sua actividade alquímica de transmutar os cereais no pão que igualmente alimentava Cascais.
No que à coesão territorial diz
respeito, o novo trilho agora inaugurado prova que é possível ultrapassar os
muitos obstáculos artificiais que a urbanidade desregrada impôs a Cascais,
gerando um desequilíbrio acentuado entre as várias comunidades que habitam
neste espaço. O canal da A5, bem como a via-rápida designada como Terceira
Circular, que até agora dividiam o território municipal em duas partes, são
literalmente apagadas deste trajecto, oferecendo aos Cascalenses uma ponte
natural que lhes abre as portas directamente para o melhor da excelência
ambiental existente no espaço municipal.
A recuperação deste caminho, que altera
o paradigma urbanístico em vigora há muitos anos e que coloca o parque natural
dentro do casco urbano da vila, religa Cascais às suas origens, fomentando a
criação de laços perenes entre a sua população e o território e consolidando a
Identidade Local. Com uma força quase religiosa, porque recria laços de união
que recuperam a génese do sentir municipal, este projecto é assumidamente o
mais importante contributo para a qualidade de vida dos Cascalenses desenvolvido
nos últimos anos.
Há um antes e um depois desta
inauguração e Cascais revolucionou a sua paisagem com este excelente projecto.
E os parabéns, na pessoa do Presidente da Câmara Municipal de Cascais,
concentram-se igualmente na Vereadora Joana Pinto Balsemão que efectivamente lidera
uma obra grandiosa que vai transformar radicalmente o futuro de muitas das
próximas gerações de Cascalenses.