por João Aníbal Henriques
Existem sempre ‘ses’ quando
analisamos a História. Se tudo se tivesse passado de outra forma; se as
decisões tivessem sido diferentes; se os acontecimentos se tivessem
concretizado de outra maneira… tudo teria sido diferente.
Mas em Cascais, desde sempre
palco privilegiado para a criação dos cenários que dão forma à História e ao
Mundo, concentram-se grandes episódios que marcaram de forma decisiva os
destinos da Europa e da própria humanidade.
Um dos mais desconhecidos, até pela
susceptibilidade que lhe estava associada na época estranha em que aconteceu,
aconteceu na Casa da família Espírito Santo, onde o cenário idílico em plena
Enseada de Santa Marta enquadrou vários episódios rocambolescos que se tivessem
ocorrido de outra forma teriam condicionado de sobremaneira a História do
Mundo.
Durante a II Guerra Mundial,
contrastando de forma aparente com a neutralidade assumida pelo Estado
Português, Cascais e os Estoris foram palco de grandes movimentações nas áreas
da espionagem e da contra-espionagem que alteraram de forma radical o rumo da
guerra e, por consequência, o Mundo em que actualmente vivemos.
Em 1939, logo no início da guerra, chega ao Estoril o chefe SS Walter Schellenberg a quem a Gestapo havia incumbido com a muito difícil missão de dirigir os serviços secretos alemães no estrangeiro. No Estoril, para evitar percalços de maior com a presença do antigo Rei Inglês Eduardo VIII, que esteve alojado com a sua mulher na casa do banqueiro Ricardo Espírito Santo (que o MI16 registou como sendo agente alemão) junto à Boca do Inferno, em Cascais, o plano era de raptar os Duques de Windsor e de os remeter para um outro país onde a presença dos serviços ingleses fosse menos relevante e no qual as forças germanófilas pudessem ter um controle efectivo sobre as suas actividades, na perspectiva de uma eventual invasão alemã ao Reino Unido e a colocação no trono do antigo monarca cuja simpatia pela causa nazi era pública e reconhecida.
Para cumprir esta missão que os
serviços secretos alemãoes designaram como “Operação Willi”, Schellenberg recebeu ordens directas e precisas do próprio Joachim von Ribbentrop, Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, para acompanhar o monarca deposto num dia de caçada em território português e para
garantir que durante a actividade os Duques seriam raptados pelos espiões alemães e levados em segredo para outro lugar.
No entanto, devido ao
conhecimento que havia acumulado nas muitas missões de espionagem perpectradas
no Estoril, Walter Schellenberg opta por alterar os planos, permitindo que
Eduardo VIII e Wallis Simpson tivessem partido sob orientação de Winston
Churchill para as Bahamas alterando assim em definitivo o papel desempenhado
pelos ingleses no decurso da guerra e determinando muito provavelmente o
desfecho da mesma a favor dos aliados.
O palco onde tudo isto se passou,
montado sobre cenários inesperados, contraditórios e tantas vezes inebriantes,
foi o triângulo estorilense que compreendia o Hotel Miramar, o Hotel Palácio e
o Casino Estoril, provavelmente o único lugar no Mundo onde em pleno fulgor da
guerra seria possível manter-se tão profícua e apaixonante actividade por parte
de ambos os partidos envolvidos na guerra.
Se tudo tivesse acontecido de
outra maneira, Eduardo VIII teria regressado ao trono britânico sob a tutela do
III Reich e, muito provavelmente, o desfecho da II Guerra Mundial teria sido
muito diferente.
O segredo que este recanto
encantado teima em guardar, é assim motivo maior para percebermos a importância
que Cascais teve e tem na definição dos rumos que o Mundo vai tomando. Ali,
onde as velhas lendas locais se cruzam com os factos mais inusitados da
História de Portugal, se definiu o rumo que determinou a existência do Mundo em
que hoje vivemos.
Veja AQUI este segredo de Cascais: