por João Aníbal Henriques
Conhecidas das entidades competentes desde o início do século, e classificada desde 1984, pelo Decreto-Lei nº 29/84, de 25 de Julho, a estação arqueológica dos Casais Velhos situa-se no Concelho e Freguesia de Cascais, povoação da Areia, no seguimento da Rua de São Rafael.
Muito embora já fossem conhecidos desde há muito tempo, e por isso denominados de Casais Velhos, os restos arqueológicos daquele povoado só muito recentemente despertaram o interesse dos especialistas. Parcialmente escavados em 1995 por Afonso do Paço e Fausto de Figueiredo, ilustres defensores do desenvolvimento programado do Concelho de Cascais, as ruínas em questão foram alvo de trabalhos arqueológicos em 1968, 1970 e 1971, desta vez sob a tutela de dois dos maiores vultos da historiografia nacional: D. António de Castelo Branco e Octávio da Veiga Ferreira. Nas intervenções mais recentes, e que visavam o aproveitamento cultural dos vestígios, fizeram-se essencialmente campanhas de limpeza e de consolidação dos materiais postos a descoberto em 1945.
A importância do sítio, integrada numa perspectiva global de exploração económica da Península de Lisboa na época de ocupação romana, deve-se sobretudo à existência de alguns tanques ou cubas na zona setentrional do povoado. Segundo os especialistas, e de acordo com os dados e informações recolhidos no campo e, actualmente, em exposição na sala de arqueologia do Museu dos Condes de Castro Guimarães, serviriam para o armazenamento dos restos pisados do MVREX, crustáceo existente em grande quantidade na costa nacional, e de se fabricava a púrpura. Após o tratamento das conchas, e após um período bastante longo de repouso nos referidos tanques, que possuem tampas herméticas que os fechavam, a púrpura era transportada para Olissipo, de onde era retransportada para Roma. Em conjunto com os tanques de salga de peixe encontrados recentemente junto do centro histórico da vila, e com as grandes quantidades de cereais produzidos nas terras férteis de TITVS CVRIATIVS RVFINVS, em Freiria, serviriam de base à subsistência económica das populações romanas do actual Concelho de Cascais.
Para além destas cubas, possui o povoado dos Casais Velhos um aqueduto que trazia água de uma nascente próxima para um tanque situado sensivelmente a meio das ruínas, de onde, por sua vez, se alimentava o complexo termal situado alguns metros abaixo, com pequenas banheiras semicirculares e a zona de banhos quentes.
Além destes vestígios de construção e de outros restos ainda indeterminados que afloram dentro do circuito amuralhado, são ainda de salientar, segundo Guilherme Cardoso, os restos das muralhas e as necrópoles de inumação. Nestes locais foram encontradas moedas datáveis de entre os anos 205 e 405 da nora era (do tempos dos imperadores Teodósio, Constâncio II, Constante, Constantino e Arcádio), o que sugere uma ocupação mais intensa do local exactamente nos finais do Império Romano do Ocidente. Digna de nota, é ainda uma moeda encontrada numa sepultura, que mantém ainda o seu invólucro de tecido de linho, peça raríssima e do maior interesse histórico.
Os inúmeros exemplares cerâmicos recolhidos, bem como os restos de canalizações, estradas e sepulturas espalhadas nos terrenos anexos, demonstram a exiguidade dos trabalhos efectuados neste local, e que não passaram de meras intervenções pontuais de recolha de informação. A classificação do povoado como imóvel de interesse público, bem como a recente especulação imobiliária que se vem acentuando em Cascais, obriga as entidades competentes ao desenvolvimento urgente de esforços de estudo sistemático do local, de modo a que se torne possível conhecer, observar e compreender a verdadeira importância deste sítio.
Classificado há onze anos, e devidamente comprovada a sua importância desde 1945, os Casais Velhos não passam hoje de uma amálgama de velhos muros derrubados pelas intempéries e pela marcha incessante do progresso. O facto de nunca ter sido estudado na íntegra, aliado às características intrínsecas dos próprios terrenos em que se situa, não permitiu ainda que se conheçam as verdadeiras fronteiras do sítio. A inactividade das entidades, no entanto, permitiu que se urbanizasse toda aquela zona, inviabilizando já uma futura descoberta das verdadeiras fronteiras do povoado. Exemplo típico deste situação, é a de algumas moradias construídas nas imediações, e que utilizam os materiais romanos para a sua própria construção, ou mesmo como elementos decorativos das suas paredes, defraudando o património nacional e as potencialidades de aproveitamento turístico e cultural do local.
Muito embora já fossem conhecidos desde há muito tempo, e por isso denominados de Casais Velhos, os restos arqueológicos daquele povoado só muito recentemente despertaram o interesse dos especialistas. Parcialmente escavados em 1995 por Afonso do Paço e Fausto de Figueiredo, ilustres defensores do desenvolvimento programado do Concelho de Cascais, as ruínas em questão foram alvo de trabalhos arqueológicos em 1968, 1970 e 1971, desta vez sob a tutela de dois dos maiores vultos da historiografia nacional: D. António de Castelo Branco e Octávio da Veiga Ferreira. Nas intervenções mais recentes, e que visavam o aproveitamento cultural dos vestígios, fizeram-se essencialmente campanhas de limpeza e de consolidação dos materiais postos a descoberto em 1945.
A importância do sítio, integrada numa perspectiva global de exploração económica da Península de Lisboa na época de ocupação romana, deve-se sobretudo à existência de alguns tanques ou cubas na zona setentrional do povoado. Segundo os especialistas, e de acordo com os dados e informações recolhidos no campo e, actualmente, em exposição na sala de arqueologia do Museu dos Condes de Castro Guimarães, serviriam para o armazenamento dos restos pisados do MVREX, crustáceo existente em grande quantidade na costa nacional, e de se fabricava a púrpura. Após o tratamento das conchas, e após um período bastante longo de repouso nos referidos tanques, que possuem tampas herméticas que os fechavam, a púrpura era transportada para Olissipo, de onde era retransportada para Roma. Em conjunto com os tanques de salga de peixe encontrados recentemente junto do centro histórico da vila, e com as grandes quantidades de cereais produzidos nas terras férteis de TITVS CVRIATIVS RVFINVS, em Freiria, serviriam de base à subsistência económica das populações romanas do actual Concelho de Cascais.
Para além destas cubas, possui o povoado dos Casais Velhos um aqueduto que trazia água de uma nascente próxima para um tanque situado sensivelmente a meio das ruínas, de onde, por sua vez, se alimentava o complexo termal situado alguns metros abaixo, com pequenas banheiras semicirculares e a zona de banhos quentes.
Além destes vestígios de construção e de outros restos ainda indeterminados que afloram dentro do circuito amuralhado, são ainda de salientar, segundo Guilherme Cardoso, os restos das muralhas e as necrópoles de inumação. Nestes locais foram encontradas moedas datáveis de entre os anos 205 e 405 da nora era (do tempos dos imperadores Teodósio, Constâncio II, Constante, Constantino e Arcádio), o que sugere uma ocupação mais intensa do local exactamente nos finais do Império Romano do Ocidente. Digna de nota, é ainda uma moeda encontrada numa sepultura, que mantém ainda o seu invólucro de tecido de linho, peça raríssima e do maior interesse histórico.
Os inúmeros exemplares cerâmicos recolhidos, bem como os restos de canalizações, estradas e sepulturas espalhadas nos terrenos anexos, demonstram a exiguidade dos trabalhos efectuados neste local, e que não passaram de meras intervenções pontuais de recolha de informação. A classificação do povoado como imóvel de interesse público, bem como a recente especulação imobiliária que se vem acentuando em Cascais, obriga as entidades competentes ao desenvolvimento urgente de esforços de estudo sistemático do local, de modo a que se torne possível conhecer, observar e compreender a verdadeira importância deste sítio.
Classificado há onze anos, e devidamente comprovada a sua importância desde 1945, os Casais Velhos não passam hoje de uma amálgama de velhos muros derrubados pelas intempéries e pela marcha incessante do progresso. O facto de nunca ter sido estudado na íntegra, aliado às características intrínsecas dos próprios terrenos em que se situa, não permitiu ainda que se conheçam as verdadeiras fronteiras do sítio. A inactividade das entidades, no entanto, permitiu que se urbanizasse toda aquela zona, inviabilizando já uma futura descoberta das verdadeiras fronteiras do povoado. Exemplo típico deste situação, é a de algumas moradias construídas nas imediações, e que utilizam os materiais romanos para a sua própria construção, ou mesmo como elementos decorativos das suas paredes, defraudando o património nacional e as potencialidades de aproveitamento turístico e cultural do local.