Numa semana pródiga em casos e
estórias, o Portugal popular, dos partidos políticos, das televisões e das
revistas sociais, embrenha-se em mais duas intervenções que mostram bem o
estado de total desrespeito a que chegámos.
O primeiro aconteceu na SIC, no
espaço de comentário semanal de Luís Marques Mendes, antigo Presidente do PSD,
no qual anunciou que o governo se prepara para fechar metade das repartições de
finanças do País.
Não contente por assumir que tem
acesso privilegiado às decisões do governo, ou seja, que está acima dos
restantes Portugueses e não se coíbe de pôr a boca no trombone trazendo cá para
fora assuntos que teoricamente nem sequer deveria conhecer, o pródigo
comentador explica que a medida só não foi anunciada antes porque estávamos em
período eleitoral e que, com as eleições autárquicas à porta, o governo não
queria “espantar a caça”!
Caça? Mas será que ele não
perceber que a caça a que ele se refere somos nós? Será que ele não percebe que
este tipo de tratamento mostra bem o desrespeito profundo que esta gente devota
ao País e aos Portugueses?
Depois, na TVI, foi Marcelo
Rebelo de Sousa, também ele antigo presidente do PSD, a afirmar que o ministro
Rui Machete “é um chuchu para a oposição”, aconselhando-o a demitir-se e a sair
pelo seu próprio pé devido aos muitos casos e polémicos que o têm envolvido ao
longo dos últimos tempos.
O nível de desrespeito que estes
comentadores denotam, em linha com um governo repleto de gente que diz e desdiz
consoante as notícias dos jornais, que toma decisões irrevogáveis que revoga
mais adiante, que nega categoricamente aquilo que pouco tempo depois vem
admitir, é ilustrativo do estado de profunda anomia a que chegou Portugal.
Nas eleições, o nível de
abstenção é inaceitável, composto por gente que não está disposta a jogar o
jogo sujo que os partidos políticos nos impõem. E os partidos estranham… No
País real, o desemprego estrutural, a falência económica, o descrédito dos
bancos, dos tribunais e das instituições, não se compadece com as brincadeiras
que estes senhores nos impõem.
Faz falta um novo fôlego, uma
nova alma e novas gentes em Portugal.
Estes que agora temos não
prestam!