por João Aníbal Henriques
Com a manifestação pacífica de
ontem em Barcelona, onde estiveram cerca de 2.000.000 de Catalães; com o
surpreendente resultado do referendo na Escócia; com o mal-estar latente e
persistente no País Basco; ou mesmo, apesar das suas especificidades políticas,
com a guerra na Ucrânia; a Europa está a dar sinais claros do caminho que terá
de seguir para manter a sua unidade e para reforçar os laços estreitos de cooperação
que garantem crescimento e qualidade de vida aos seus cidadãos.
De facto, contrariando os
discursos ideologicamente desformatados que confundem nacionalismo com radicalismo,
extremismo e desrespeito pelos direitos democráticos fundamentais das populações,
a vontade expressa pelas populações nestes e noutros territórios Europeus no
sentido de aprofundarem as suas independências perante quadros políticos
condicionados por momentos historicamente já ultrapassados, representa essencialmente
um apelo ao reconhecimento das especificidades de cada povo e, dessa forma, o
assumir das diferenças existentes nesta Europa envelhecida.
É essa, de facto, a senda natural que
permitirá à Europa recondicionar a sua unidade perante o Mundo, na certeza,
porém, que a nova identidade comum aos povos deste continente assenta na soma
das diferenças de cada um e não, como tem acontecido ao longo dos últimos anos,
pelo esmagamento dessa diferença em prol de um igualitarismo conducente a uma
verdadeira federação que exige o fim das nações e da determinação dos povos que
as constituem.
A História ensinou-nos que a
Europa foi sempre mais forte durante os períodos em que assumiu essa
diferenças, sendo capaz de, num ambiente de respeito pelas mesmas, rentabilizar
o melhor de cada uma para dar forma a um corpo comum de bem-estar e de
desenvolvimento que beneficia cada parte de forma igual.
Os recentes movimentos nesse
sentido, contrariando uma cada vez mais preocupada Comissão Europeia, mostram
que a natureza se impõe à vontade política e que, por isso, o caminho terá de
ser inexoravelmente o do reforço dessas nacionalidades. Da mesma forma, mostra
também (e esse é um grande pormenor que exige atenção e cuidado por parte dos
governantes) que quando se tenta impor um caminho diferente deste, as
populações estão dispostas a fazer o que tiver de ser feito para recuperaram a
sua soberania.
E em Portugal, o que está a
acontecer?
Incapazes de observar de forma
consciente o que à nossa volta vai acontecendo, os nossos políticos persistem
no caminho de um pseudo “aprofundamento” da realidade Europeia, que se traduz
numa atitude de total subserviência perante as cada vez mais poderosas
entidades federativas, em detrimento da afirmação vigorosa das especificidades e
necessidades do nosso país e da nossa população.
Atento esteve o Professor Adriano
Moreira, coerente antigo presidente do CDS que, no arranque do ano político do
seu partido de sempre, teve a coragem de apelar aos militantes para que sejam
capazes de sensibilizar o Governo para a necessidade de olhar para os
Portugueses e para Portugal, contrariando a cega observância das regras que nos
são impostas a partir do estrangeiro…
Mas as coisas continuam sempre
iguais. Um populismo surdo e cego perante o deslumbramento Europeu, na senda da
herança pesada que recebemos da parelha Soares/Cavaco no processo de integração
europeia que nos deixou nesta posição terrível de subserviência e de
dependência perante aquilo que os outros nos dão.
Na semana em que assistimos
impávidos à apresentação da nova Comissão Europeia, na qual Portugal está
representado em último lugar nas apresentações gráficas da comissão por um
Carlos Moedas a quem atribuíram uma pasta de quarta importância, foram unânimes
as reacções dos nossos políticos em relação à honra que sentem por esta
nomeação…
Acreditarão eles realmente que a
pasta entregue a Moedas é relevante, determinante e importante conforme
reiteradamente vão dizendo? Ou percebem que, com a qualidade que se lhe
reconhece, num perfil de político ainda jovem mas sério e competente, Carlos
Moedas merecia uma pasta diferente? E sobretudo que o aplauso unânime a esta
solução representa exactamente o contrário daquilo que está a acontecer um
pouco por toda esta Europa em ebulição?
Sejam quais forem as respostas, o
certo é que parece irreversível o caminho agora encetado. A Europa
reconfigura-se dando um passo atrás e esforçando-se por aceitar e reconhecer o
direito à soberania dos Estados que nela estão. Só assim pode ser próspera. Só
assim pode crescer de forma sustentada. Só assim garante a qualidade de vida de
todos os seus habitantes. Só assim pode aspirar em viver num clima de paz e de segurança
que todos queremos.
Só em Portugal é que parece que tal
não acontece. Até ver.