Decorreu ontem, perante a atenção
dos media e dos muitos Portugueses que a ele assistiram, o segundo debate entre
os dois candidatos a líderes do Partido Socialista em Portugal.
Chamam-lhe primárias, num esforço
de aproximação ao modelo eleitoral americano, e teimam em transformá-las numa
espécie de circo mediático no qual importam pouco as ideias e as propostas
efectivas e na qual ganham força as tendências eleitorais dos votantes
nacionais, entendidos como potenciais eleitores no universo das eleições que se
vão alinhando no horizonte.
Cá fora, nos jornais, nas
televisões e até nos transportes públicos, cruzam-se as opiniões sobre quem “ganhou
o debate”, definindo-se um cenário à-priori
em que um dos pretensos candidatos surge nitidamente destacado e quase “condenado”
à vitória. Transversal às opiniões publicadas e aos comentários aguisados nos
jornais da noite é a unanimidade em torno da não existência de conteúdos nestes
debates. Quer um quer outro, ambos políticos calejados na lide da qual depende
a sua sobrevivência, teimam em responder de forma insatisfatória às questão que
os jornalistas lhes colocam e, quando instados a explicarem o que querem fazer,
o que planeiam fazer, ou até qual é o seu projecto, fogem habilmente às
questões e contornam os problemas de forma a não se comprometerem perante os
Portugueses. A eles só lhes interesse ganhar as eleições no PS!...
Mas o que vale o PS? O que vale
que o António Costa encoste ou que o António José Seguro se desequilibre na sua
insegurança? O que interessa saber o que é que eles pretendem fazer se chegarem
a ser governo (ou mesmo se pretendem fazer alguma coisa caso isso assim
aconteça…) ou qual é a sua opinião acerca do estado em que se encontra
Portugal? A resposta só pode ser peremptória: nada!
E nada, basicamente em linha com
o facto de nada interessar também saber se Pedro Passos Coelho se mantém
teimosamente na liderança do PSD, ou se o Portas consegue gerir a sua ambição sem
com isso tomar decisões irrevogáveis que comprometem o futuro de Portugal e dos
Portugueses. Ou sequer se a ficção se pode tornar realidade e termos um dia um
governo onde existam comunistas verdadeiros que gritem a partir de São Bento as
parangonas que lhes são ditadas pelo camarada Jerónimo, ou mesmo radicais de
esquerda que levem alguém do Bloco de Esquerda (se ainda existir nessa altura)
a um cargo com alguma espécie de poder.
Nada disso interessa nada porque
importa pouco quem vai governar Portugal. Sem capacidade de decisão
relativamente às suas fronteiras e ao seu território desde a assinatura do
Tratado de Schengen, ao seu orçamento, ao seu corpo legislativo, à sua moeda ou
sequer acerca da definição das suas políticas de saúde e/ou educação, Portugal
já não é (mesmo que os políticos dos partidos teimem em dizer o contrário) um
País soberano.
E, de forma efectiva, seja o
Costa, o Seguro, o Coelho, o Portas, o Jerónimo ou o Louçã, o certo é que a
margem de manobra de qualquer governo que venhamos a ter é muito curta e as
diferenças entre qualquer destes actores serão, efectivamente, insignificantes.
O adjectivo é mesmo esse…
insignificante. Tal como insignificante tem sido esta espécie de campanha
eleitoral dentro do PS, tal como foi a campanha eleitoral autárquica e europeia
do ano passado, e como certamente será a campanha legislativa que se aproxima.
Não interessa nada a ninguém. Nem sequer aos Portugueses.