No rescaldo das comemorações dos 70 anos que se cumprem desde a derrota da Alemanha na II Guerra Mundial, importa relembrar o mal-conhecido campo de concentração de Mauthasen-Gusen, na Áustria, libertado no dia 7 de Maio de 1945.
Criado ainda antes da eclosão oficial da guerra, quando em 1938 o Reich Alemão começou a enviar para ali alguns prisioneiros oriundos de Dachau, Mauthasen-Gusen era um campo de concentração vocacionado especialmente para o trabalho, tendo recebido prisioneiros de estatuto mais elevado oriundo dos países paulatinamente anexados pela Alemanha.
Os trabalhos forçados que ali se desenvolviam, maioritariamente em pedreiras e minas que serviam para construir armamento, munições e aviões de guerra, provocaram mais e 300.000 mortos oriundos das mais cultas e socialmente mais relevantes classes sociais dos países ocupados. Na chacina, para além dos métodos atrozes usuais nos muitos campos de extermínio nazi espalhados um pouco por todo o território controlado pelos alemães, desempenharam papel de relevo a fome e a exaustão extremas, que levaram à morte um número impossível de determinar com exactidão de homens.
Desse grupo de prisioneiros fez parte o fotógrafo espanhol Francisco Boix que, tendo conseguido sobreviver ao martírio, conseguiu recuperar um conjunto muito explícito de fotografias que ilustram (e comprovam) o que ali se passou.
Homens destituídos de toda a sua humanidade, com os ossos visíveis sob a pele diáfana e descoberta e carne, sempre nus e de olhar perdido perante o horror que viam consolidar-se ao seu lado.
As imagens de Boix, mais tarde utilizadas como prova nos julgamentos de guerra que se sucederam ao armistício, são o cerne incontornável de um dos mais negros e terríveis acontecimentos de sempre na Europa. Para além das atrocidades cometidas e do regime de terror imposto pelo III Reich, foi um período de profunda desumanização que põe em causa milhares de anos de evolução e de civilidade.
O ano de 1945 aconteceu há já setenta anos mas, na globalidade da nossa longa história, foi anteontem. Importa lembrar e relembrar, porque as imagens atrozes de Francisco Boix são a prova de que é fácil à humanidade resvalar para as trincheiras animalescas da barbárie. Demasiado rápido. Demasiado fácil.