Num Mundo marcado pelos acontecimentos e pela história poucos são os locais que possuem um impacto de tal maneira forte que nos afecta desde o primeiro momento que deles nos acercamos. É o que acontece com o antigo gueto judaico de Frankfurt, na Alemanha, musealizado depois da II Guerra Mundial e recriando o espaço de ódio e de segregação racial que determinou a vida dos Judeus durante muitos séculos.
Indissociada da história da
cidade de Frankfurt, os judeus alemães viveram apartados do resto da comunidade
e literalmente fechados num espaço próprio desde praticamente o Século XIII. No
final do Século XIX, durante um período de florescimento do poder dos judeus, o
gueto foi parcialmente demolido, num espectro de degradação que foi imensamente
agravado durante o período do III Reich.
Escavado arqueologicamente
durante o processo de reconstrução de Frankfurt, o gueto judaico preserva os
arruamentos estreitos e os becos e ruelas que davam forma aquele antro de
segregação. Para além de algumas habitações, onde quase podemos sentir a
forma como sobreviveram os judeus naquele diminuto espaço, podemos ainda ver
dois mikvá, o local dos banhos rituais
judaicos perdidos no acanhado espaço onde se processava a vida de toda aquela
imensa comunidade e se pressentem o horror da doença e da falta de higiene que
foi transversal a toda a história daquele espaço.
Durante o período de
terror nazi, quando o gueto já mais não era do que um mero antro de
criminalidade, muitos foram aqueles que morreram assassinados às mãos dos
algozes do Reich simplesmente por caminharem pelo emaranhado de ruelas que dava
forma aquele lugar tão especial.
Hoje, numa Alemanha
ainda fustigada pelos fantasmas de duas guerras cruéis e substanciais onde
abundam os sinais, as memórias e as ruínas das inconcebíveis atrocidades que
terminaram há precisamente 70 anos, o gueto de Frankfurt é uma memória que
subsiste por si própria e se sobrepõe à própria História da Alemanha. As suas
paredes parecem gemer de uma dor que se foi perpetuando de geração em geração,
dando forma a uma sobrevivência na qual o humanismo nunca esteve presente.
Quando se comemora o fim da guerra, vale a pena visitar em silêncio o gueto de Frankfurt, Vale a pena ouvir os gemidos longínquos daqueles que ali nasceram, viveram e morreram ao longo dos séculos. Vale a pena ponderar sobre as razões que levaram a uma situação deste género. Vale a pena pensar como foi possível que tal tenha acontecido ainda há tão pouco tempo.