Possivelmente decidir-se-á hoje o
impasse relacionado com a resolução do problema estrutural da Grécia e da sua
dívida europeia. O desenlace, depois do imbróglio demasiado longo que se foi
arrastando ao longo dos últimos cinco anos, terá pouco de apoteótico… aconteça
o que acontecer, mesmo que a Grécia decida aceitar as novas condições impostas
pela Europa para preservar a sua continuidade na zona Euro ou que a Europa se
mantenha firma nas suas exigências e expulse a Grécia do seu seio, o mal está
feito e a única certeza que existe é que mais do que uma tragédia grega, o
resultado vai ser uma terrível tragédia Europeia.
Em primeiro lugar porque ficou
bem patente que não existe nenhuma unidade europeia. A Europa não foi, não é e
nunca será uma nação, nem tão pouco terá sequer o sustento mínimo para dar corpo
a uma federação homogénea de estados independentes. Porque as diferenças são
mais do que muitas (em vários registos e a vários níveis) e porque os fortes não
aceitam a igualdade dos mais fracos, nem tão poucos estes últimos aceitam a
supremacia dos primeiros.
Depois porque, conforme anunciou
hoje o primeiro-ministro grego, aconteça o que acontecer a Grécia e a Rússia
vão encontrar-se numa cimeira bilateral formal na próxima Sexta-feira,
demonstrando ao mundo e aos restantes parceiros europeus, que existem caminhos
e soluções alternativas que poderão ser mais facilmente aceites pelos próprios
Gregos.
Por fim, porque se não for a
Rússia será a China ou qualquer potência emergente, disponível para apoiar e,
dessa maneira, condicionar, os equilíbrios estruturais sempre periclitantes no
velho continente.
Em suma, a utopia fantástica de
uma Europa una e coesa em clima de fraterna solidariedade e em sã convivência,
unida numa estrutura federal em que todos os estados detêm direitos iguais,
caiu definitivamente por terra. Tal como tinha acontecido em 1918 e em 1945,
existem fortes e fracos, dependentes e independentes, generais e soldados-rasos
nesta Europa sem rumo.
Hoje, numa Europa dividida pela
realidade que se impôs, com um parlamento Europeu onde cerca de 11% dos
deputados são contrários à existência da união e advogam a sua dissolução
imediata, a tragédia grega é muito mais do que a decisão do que vai acontecer
com o País onde a democracia nasceu.
Hoje, a Europa trágica da
demagogia partidarizante de índole partidocrático e de sustento federalista
morreu. E isso, sendo uma tragédia, está longe de ser o acontecimento trágico, final e determinante que nos querem vender os europeístas convictos que nos conduziram para este pântano.