por João Aníbal Henriques
Num Alentejo muito singular, no
qual as planícies quase eternas se adornam com as arribas frenéticas de mar e
de sal, encontramos o sítio de Porto Côvo, marcado pela brancura quase
inebriante das suas casas e pelos tons fortes do azul-cobalto que dá corpo às
barras que decoram as suas fachadas singelas.
E é de singularidade que tratamos
quando entramos no Largo Marquês de Pombal, coração deste recanto único de
Portugal, desenhado no Século XVIII à imagem e à semelhança da Baixa Pombalina
na tão longínqua capital. Situado no coração do lugar de Porto Côvo, o largo
mistura a arquitectura típica do Alentejo com os laivos de opulência de uma
Lisboa de cujos ecos aqui chegam somente as inconsistências próprios da
distância… Grandeza simples e uma pequenez grandiosa, recriam um cenário quase
mágico a que não fica indiferente, pela sua forma, pela localização e pelas
características do seu culto, a Igreja de Nossa Senhora da Soledade (ou de
Porto Côvo), pontuando com a monumentalidade das grandes cidades o lugarejo de
praia em que o povoado se transformou.
Na frontaria estão os sinais
indiscutíveis da sua nascença alentejana. Os traços simples que aqui se
misturam com laivos tradicionalistas do estilo neoclássico, surgem em
contraponto com a grandiosidade do retábulo de talha dourada que lhe confere um
toque barroco que não deixa indiferente quem a visita.
A imagem de Nossa Senhora da Soledade, também ela singela na voluptuosidade das suas vestes roxas, é assim o corolário de um templo projectado no Século XVIII por Joaquim Guilherme d'Oliveira, que justifica a visita e que compõe as magníficas paisagens marítimas do lugar.