por João Aníbal Henriques
Existem poucas terras assim! Monção, vila minhota situada no
extremo Norte de Portugal, junto na margem do Rio Minho e a um passo da Galega
Salvaterra del Miño, teve sempre uma história conturbada e marcada por
constante ataques e contra-ataques oriundos do país vizinho.
Mas, no furor bélica dos muitos episódios que dão corpo à sua
existência, são vários os momentos em que a defesa da localidade e, por
consequência, a defesa de Portugal, foram empreendidas com muito êxito por
mulheres.
Aconteceu no Século XVII, com as intervenções da Condessa de
Castelo Melhor e de D. Helena Peres que, em ocasiões diferentes e separadas por
um hiato temporal de quinze anos, tomaram em mãos o encargo de defender a sua
terra.
Mas a mais célebres das Monçanenses, sepultada actualmente na
sua Igreja Matriz e oferecendo o seu nome para topónimo da praça principal
daquela vila verdejante, foi Deu-la-Deu Martins, casada com D. Vasco Rodrigues
de Abreu, o Alcaide-Mor de Monção.
Reza a lenda que em 1368, durante a guerra entre o monarca
Português Dom Fernando I e o rei castelhano Dom Henrique de Trastâmara, foi
montado cerco à vila minhota. A capacidade das forças atacantes era brutal e a
duração do cerco foi fazendo mossa nas já muito depauperadas reservas
nacionais, a tal ponto que se perspectivava uma rápida capitulação por falta de
víveres, água e mantimentos.
Num laivo de genialidade a que certamente não é alheio a
capacidade estratégica da heroína, a mulher do alcaide decide juntar todos os
poucos víveres que restavam e, perante o espanto e certamente a incompreensão
dos seus conterrâneos, manda lança-los por terra das muralhas altaneiras que
protegem a vila.
Os castelhanos, convencidos da prosperidade que se vivia lá
dentro, reforçada pelo facto de verem atirar fora mantimentos que eles
consideravam essenciais à sobrevivência da população, resolverem então desistir
do cerco e abandonar a cidade que desta forma sobreviveu.
Praça Deu Lá Deu - Monção
Igreja dos Capuchos - Monção