por João Aníbal Henriques
Conhecido oficialmente como Forte
de São Teodósio ou da Cadaveira, o Forte d’Assubida, como popularmente é
designado, situa-se a Nascente da Praia da Poça, em São João do Estoril, numa
as margens da Ribeira da Cadaveira.
A estrutura, de cunho simples e
desenhada com o objectivo de ser eficaz, foi erguida durante o período das
Guerras da Restauração, logo depois de 1640. Integrando-se numa linha defensiva
de larga escala contra as tentativas de reconquista do poder luso por parte dos
exércitos espanhóis, o Forte de São Teodósio defendia a enseada da Praia da
Poça, em fogo cruzado com o Forte Velho, situado na outra margem da ribeira.
Deste plano de defesa da Costa de Lisboa, que se prolongava desde São Julião da
Barra até ao Cabo da Roca, faziam parte mais de uma dezena de fortificações de
várias dimensões, adaptando-se a orografia dos terrenos onde foram construídas.
O Forte da Cadaveira, com planta quadrangular
semelhante às restantes, apresenta um pátio central a partir do qual se distribuíam
os espaços interiores. Os quartéis e o paiol, sustentando um terraço de onde se
obtém uma das mais extraordinárias vistas dos Estoris, viram a sua segurança
reforçada, já em pleno Século XVIII, com a construção de três guaritas que
passaram a permitir o patrulhamento nos principais ângulos de acesso à praia.
Classificado como Imóvel de Interesse
Público desde Setembro de 1977, o Forte da Cadaveira conheceu uma história
atribulada e nada linear. Depois de ter sido desactivado das suas funções
militares, em 1843, o edifício foi entregue à Santa Casa da Misericórdia de
Cascais que, por sua vez, o cedeu a um particular. Este, por seu turno,
devolveu-o à Misericórdia que em 1942, depois do início das obras de construção
da Avenida Marginal, o entregou à Guarda Fiscal, que aí se instalou até época
recente. Já neste século, o edifício veio parar às mãos da Câmara Municipal de
Cascais que prontamente anunciou um projecto para o local. Mas, por qualquer
motivo que possivelmente alguém conhecerá, foi agora completamente abandonado,
com a porta aberta e o interior acessível a todo o tipo de destruição.
O cenário que hoje apresenta o
Forte da Cadaveira é dantesco. A porta destruída abre o espaço para o pátio
coberto de lixo e de restos de fogueiras. E os alojamentos, ainda há pouco
tempo em excelente estado de conservação, estão agora completamente destruídos,
alguns com sinais de incêndio e os restantes cobertos de lixo nauseabundo e de
seringas usadas. A bateria, de onde é possível observar a passagem magnífica do
local, está praticamente coberta de entulho e o cheiro a fezes, combinado com
os restos de refeições já apodrecidos e com centenas de garrafas partidas,
torna praticamente impossível visitá-la.
Não existem palavras para
descrever o estado em que se encontra este edifício classificado e que faz
parte do património Cascalense. Responsáveis pela situação actual haverão
certamente. E é deles a responsabilidade pela destruição da memória e da
identidade dos Cascalenses.