por João Aníbal Henriques
Actualmente devoluto, depois de em 2012 os serviços das Águas de Cascais terem mudado a sua sede para a Aldeia de Juso, o edifício dos SMAS, situado na Avenida do Ultramar, mesmo no coração da Vila de Cascais, é um dos mais interessantes exemplos da forma como a arquitectura e o urbanismo acompanharam o pujante desenvolvimento do concelho ao longo de toda a primeira metade do Século XX.
A escolha do arquitecto que o
projectou denota igualmente a forma intencional como a expressão urbana de
Cascais foi adaptada para incorporar os valores que o Estado havia definido
como essenciais para a definição do novo Portugal. Joaquim Ferreira (1911-1966),
um dos mais eminentes membros das Belas Artes, defendia uma cisão programática
com as perspectivas arquitectónicas vigentes, criticando a visão paradigmática
da denominada “Casas Portuguesa” e assumindo-se frontalmente contrário àquilo
que ele pragmaticamente chama o “Português Suave”.
E se em termos formais tudo é
novo na obra de Joaquim Ferreira, em linha com o modernismo que
transversalmente alterou a praxis das cidades portuguesas em meados do século
passado, o edifício dos SMAS de Cascais apresenta inovações igualmente ao nível
das técnicas e dos materiais utilizados, recriando um palco de linearidade
futurista onde a experimentação acabou por se transformar numa espécie de
escola com resultados que se espraiam até à actualidade.
O projecto original deste
edifício, assente na eminente funcionalidade programática para o qual ele foi pensado,
repercute a linearidade da abordagem que Joaquim Ferreira já havia intentado no
projecto do carismático edifício do Cinema São José, junto à Ribeira das
Vinhas, que veio substituir as instalações novecentistas da antiga fábrica de
conservas de Cascais.
O anteprojecto do edifício, datado de 1961, havia sido previamente aprovado pelo Secretário de Estado das Obras Públicas e foi inaugurado, com pompa e muita circunstância, em 1965, de forma integrada no importante programa comemorativo do 600º aniversário da autonomia de Cascais. A partir dessa altura, com o alto patrocínio das mais altas entidades estatais, torna-se o símbolo funcional de um Cascais assente na visão progressista e moderna que há-de marcar o cunho do município durante mais de quarenta anos.
Depois deste edifício, quase
todas as obras públicas concretizadas em Cascais seguiram este exemplo de
maturação desta linha arquitectónica despojada de revivalismos, reformatando a
imagem da vila e dotando-a de renovadas condições para assumir o carácter cosmopolita
muito marcante que tornou possível uma onda de progresso ímpar afectando de
forma positiva e linear quase todas as áreas do território municipal.
Os homens de Cascais que
governaram a terra nesta época eram gente empreendedora, com uma capacidade de
visão estratégica extraordinária e uma abertura de espírito sagaz que lhes
permitiu alcançar um grau de sucesso nunca antes visto no concelho. E o Edifício
dos SMAS, respondendo arquitectonicamente a esse desafio, serviu como
comprovativo dessa situação perante a sociedade e a generalidade dos
portugueses.