segunda-feira

Sporting, Benfica e Porto: O Futebol e o Estado Português





por: João Aníbal Henriques

Por ser considerado um jogo “de risco elevado” a Polícia de Segurança Pública destacou cerda de 590 agentes para acompanharem o jogo de futebol entre o Benfica e o Futebol Clube do Porto.

A festa, como lhe chamam os apreciadores, poderia ser estragada pela intempestivos ataques de fúria dos adeptos que, para além de colocarem em risco a sua própria segurança, ainda ameaçavam a segurança dos transeuntes, dos restantes espectadores e de todos os locais que faziam parte do percurso que as claques utilizariam até chegar ao estádio.

Esta situação, comum nos dias que correm, coloca-nos dois problemas graves que põem em causa o próprio equilíbrio social Português: em primeiro lugar, e dado tratar-se de uma competição desportiva, anulam de imediato tudo aquilo que de positivo o desporto e a competição deveriam promover. A convivência, o fair-play, a animação e a descontracção, dão lugar a autênticas batalhas campais e a sinais de selvajaria que são intoleráveis num Estado de Direito. São, por isso, intoleráveis. Em segundo lugar, e num momento em que (infelizmente) Portugal tem vindo a atravessar um período negro devido à onda de criminalidade que tem vindo a grassar, obviamente relacionada com a inexistência de meios policiais suficientes para darem conta do recado, parece absurdo que 590 agentes tenham sido destacados para darem conta da falta de civismo num jogo de futebol. E isso é, obviamente, intolerável.

Sem nada contra o futebol, que poderá ser, de forma óbvia e evidente, um entretenimento saudável para quem o apreciar, parece-nos totalmente inconcebível que o Estado permita a existência de claques organizadas em torno de valores não desportivos, e que, pela sua prática, obrigam à utilização de contigentes polícias desta envergadura para as controlar. Intolerável e inaceitável é ainda o facto de, para além de se auto-mutilarem e de, dessa maneira, destruírem a substância positiva que o futebol deveria promover, procederem da mesma forma perante o espaço público que atravessam para chegar aos estádios, o mobiliário urbano que pertence a todos os Portugueses, e os incautos concidadãos que tenham a infelicidade de com eles se cruzarem ao longo do trajecto.

Quem procede dessa forma, seja de que clube for; seja qual for a sua região de origem; Nacionalidade; tom de pele ou língua utilizada; deve ser preso. Pura e simplesmente. É para isso que, todos os meses e com aumentos exponenciais ao longo dos últimos anos, todos nós, cidadãos cumpridores, pagamos ao Estado. Para zelar pela ordem pública e pela segurança dos cidadãos.

Mas isso não se faz através da utilização de 590 agentes para acompanharem um jogo. Sobretudo se esses agentes são necessários para garantir o cumprimento das suas missões noutros espaços, áreas, regiões e actividades.

E para compreender esta lógicas e as prioridades policiais do passado fim-de-semana, só existem duas possibilidades: ou temos 590 agentes a mais nas forças de segurança Portuguesas (que não nos parece) e então vale mais despedi-los e com o dinheiro que se poupa investir noutras formas de garantir segurança; ou foram retirados a áreas onde fazem falta, e isso, mais do que qualquer outra coisa, é profundamente injusto para todos os cidadãos pagantes que ficaram impedidos de usufruir desse serviço.

Para concluir, o futebol é (tem de ser) uma festa. O futebol tem de ser fruído em segurança total e absoluta, e deverá acontecer dentro dos parâmetros da Lei.

Se assim não for, a única solução é proibi-lo. Interditar as claques que o não saibam ser; interditar os estádios que não possuam meios que permitam garantir esse princípio; extinguir os clubes que não sejam capazes de controlar as claques que conspurcam o seu nome e destroem a imagem de Portugal.

É que, conforme se vê nas notícias que permanentemente preenchem a comunicação social Nacional, o futebol é o único sector de actividade onde não falta dinheiro. E não faltando dinheiro, falta com toda a certeza vontade e coragem para pôr na ordem aquilo que em seu torno se passa.