por: João Aníbal Henriques
Tal como vimos anteriormente, parece ter sido pacífica a intervenção dos Cascalenses na mudança do sistema governativo e na implantação da república. Se nos detivermos nas notícias publicadas pelos jornais “Diário de Notícias” e “O Século”, a massa popular ter-se-á mantido pacatamente armada, esperando notícias da revolta Lisboeta. No entanto, para além de não nos referirem a origem sócio-cultural da gente que mencionam, tão pouco nos informam sobre a sua origem geográfica. Seriam Cascalenses ou habitantes que vieram para a Vila oriundos de outros locais?
O facto de “O Século”, na sua edição de dia 07 de Outubro, ter relatado a forma fácil como o Infante Dom Afonso terá percorrido as ruas da Vila, quem sabe tentando suster a vaga revolucionária que o Rei Dom Manuel II, seu sobrinho, não tinha a capacidade de deter, demonstra-nos a fraca iniciativa e apoio do povo de Cascais que, para além de não deter o Infante nas suas manobras, continua a acompanhá-lo sempre ao longo das suas deambulações e está com ele até ao embarque final.
Nessa altura, quando ele entra no Yate Real Amélia, e em contradição com as notícias sobre as expectativas que pairariam sobre o povo de Cascais, o mesmo jornal refere a mágoa com a qual o Infante entra no barco e se despede dos seus amigos de Cascais que leva consigo no coração. Já no “Diário de Notícias”, o relato da demissão de Dom Fernando Castelo-branco do seu cargo de Administrador Concelhio é seguida da descrição do longo passeio deste pela Vila antes de a abandonar, na companhia do Infante, não tendo nesse percurso sido admoestado por quaisquer acções populares.
Nas “Memórias” do Marquês do Lavradio, veraneante de Cascais e amigo íntimo do Rei Dom Carlos I, o mesmo nos fornece informações contraditórias relativamente aos relatos publicados nos jornais. Dever-se-á isto à natural dificuldade de comunicações, próprias de qualquer processo revolucionário, ou à natureza manobrante dos órgãos de comunicação social afectos ao novo regime?
Provado parece, agora que se passaram já cem anos desde a revolução de Outubro de 1910, que as guarnições armadas sitiadas na Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, acompanharam as mudanças políticas revolucionárias. A guarnição de infantaria da Cidadela, segundo informações do Jornal “O Século”, estaria ausente quando lá chegou o Infante Dom Afonso, na madrugada do dia 5 de Outubro, acompanhado por vários populares que o pretendiam defender. Acerca deste regimento, no entanto, não existem mais notícias, pressupondo-se que estaria em Lisboa apoiando o esforço revolucionário.
Em relação às populações dos arredores da Vila, para além daquelas marcadamente rurais, situadas na zona Norte e Poente, parece também provado o apoio e o conluio que deram à revolução as populações da Parede, Carcavelos e São Domingos de Rana. Para esse facto terá contribuído o isolamento destes locais em relação ao pólo central da Vila, não usufruindo directamente dos benefícios que resultaram da instalação da Corte nem das regalias comerciais que enriqueceram os muitos pequenos produtores agrícolas e hortícolas que exportavam para Cascais o produto do seu trabalho.
A inauguração da linha-férrea, bem como o enorme afluxo populacional que ela trouxe a essas zonas do Concelho, no princípio do Século XX como hoje, contribuiu para a sua descaracterização e para o acentuar das assimetrias sócio-económicas relativamente às zonas desenvolvidas e cosmopolitas do espaço onde estava a Corte. Para juntar a tudo isto, essas zonas tinham vindo a ser alvo de diversos problemas de índole político-administrativo tendo, sucessivamente, feito parte de diversas reformas municipais (24) que as afastaram do interesse dos responsáveis pelo poder local.
Ainda não devidamente estudada, mas decerto repleta de interesse político, está a proliferação de associações civis de carácter local em todas estas povoações do interior. O afastamento a que tinham sido votadas, terão sido os factores essenciais no aparecimento de diversas associações, clubes e grupos locais, que terão servido de base à propaganda revolucionária republicana e que aí terá encontrado a abertura cultural essencial ao desenvolvimento dos novos ideais. É este o caso de instituições como a Associação de Educação Popular do Zambujal, Grupo de Alentejanos Residentes em Tires, Grupo de Instrução Popular da Amoreira, Grupo Sportivo de Carcavelos, Sociedade de Educação Social de São João do Estoril, que terão sido fundados como forma de fazer frente às necessidades culturais, recreativas e educativas das populações do interior.
As associações similares do litoral, pelo contrário, possuem características bastante diferentes, servindo essencialmente para fazer frente às necessidades práticas do dia-a-dia. É este o caso das associações e grupos cénicos dos bombeiros, do Clube Naval de Cascais, do Grupo de Salvamento Marítimo, do Sporting Clube de Cascais, etc.
O facto de “O Século”, na sua edição de dia 07 de Outubro, ter relatado a forma fácil como o Infante Dom Afonso terá percorrido as ruas da Vila, quem sabe tentando suster a vaga revolucionária que o Rei Dom Manuel II, seu sobrinho, não tinha a capacidade de deter, demonstra-nos a fraca iniciativa e apoio do povo de Cascais que, para além de não deter o Infante nas suas manobras, continua a acompanhá-lo sempre ao longo das suas deambulações e está com ele até ao embarque final.
Nessa altura, quando ele entra no Yate Real Amélia, e em contradição com as notícias sobre as expectativas que pairariam sobre o povo de Cascais, o mesmo jornal refere a mágoa com a qual o Infante entra no barco e se despede dos seus amigos de Cascais que leva consigo no coração. Já no “Diário de Notícias”, o relato da demissão de Dom Fernando Castelo-branco do seu cargo de Administrador Concelhio é seguida da descrição do longo passeio deste pela Vila antes de a abandonar, na companhia do Infante, não tendo nesse percurso sido admoestado por quaisquer acções populares.
Nas “Memórias” do Marquês do Lavradio, veraneante de Cascais e amigo íntimo do Rei Dom Carlos I, o mesmo nos fornece informações contraditórias relativamente aos relatos publicados nos jornais. Dever-se-á isto à natural dificuldade de comunicações, próprias de qualquer processo revolucionário, ou à natureza manobrante dos órgãos de comunicação social afectos ao novo regime?
Provado parece, agora que se passaram já cem anos desde a revolução de Outubro de 1910, que as guarnições armadas sitiadas na Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, acompanharam as mudanças políticas revolucionárias. A guarnição de infantaria da Cidadela, segundo informações do Jornal “O Século”, estaria ausente quando lá chegou o Infante Dom Afonso, na madrugada do dia 5 de Outubro, acompanhado por vários populares que o pretendiam defender. Acerca deste regimento, no entanto, não existem mais notícias, pressupondo-se que estaria em Lisboa apoiando o esforço revolucionário.
Em relação às populações dos arredores da Vila, para além daquelas marcadamente rurais, situadas na zona Norte e Poente, parece também provado o apoio e o conluio que deram à revolução as populações da Parede, Carcavelos e São Domingos de Rana. Para esse facto terá contribuído o isolamento destes locais em relação ao pólo central da Vila, não usufruindo directamente dos benefícios que resultaram da instalação da Corte nem das regalias comerciais que enriqueceram os muitos pequenos produtores agrícolas e hortícolas que exportavam para Cascais o produto do seu trabalho.
A inauguração da linha-férrea, bem como o enorme afluxo populacional que ela trouxe a essas zonas do Concelho, no princípio do Século XX como hoje, contribuiu para a sua descaracterização e para o acentuar das assimetrias sócio-económicas relativamente às zonas desenvolvidas e cosmopolitas do espaço onde estava a Corte. Para juntar a tudo isto, essas zonas tinham vindo a ser alvo de diversos problemas de índole político-administrativo tendo, sucessivamente, feito parte de diversas reformas municipais (24) que as afastaram do interesse dos responsáveis pelo poder local.
Ainda não devidamente estudada, mas decerto repleta de interesse político, está a proliferação de associações civis de carácter local em todas estas povoações do interior. O afastamento a que tinham sido votadas, terão sido os factores essenciais no aparecimento de diversas associações, clubes e grupos locais, que terão servido de base à propaganda revolucionária republicana e que aí terá encontrado a abertura cultural essencial ao desenvolvimento dos novos ideais. É este o caso de instituições como a Associação de Educação Popular do Zambujal, Grupo de Alentejanos Residentes em Tires, Grupo de Instrução Popular da Amoreira, Grupo Sportivo de Carcavelos, Sociedade de Educação Social de São João do Estoril, que terão sido fundados como forma de fazer frente às necessidades culturais, recreativas e educativas das populações do interior.
As associações similares do litoral, pelo contrário, possuem características bastante diferentes, servindo essencialmente para fazer frente às necessidades práticas do dia-a-dia. É este o caso das associações e grupos cénicos dos bombeiros, do Clube Naval de Cascais, do Grupo de Salvamento Marítimo, do Sporting Clube de Cascais, etc.