por João Aníbal Henriques
Ligado, de forma perene, às
memórias de Vasco da Gama e à preparação da viagem marítima para a Índia, o
Castelo de Montemor-o-Novo é um dos mais emblemáticos e maiores castelos de
Portugal.
Situado no alto e um morro
sobranceiro à planície alentejana, o castelo tem uma História antiga que
provavelmente se perde nas brumas antigas da pré-História. Ali terá existido um
castro que foi mais tarde romanizado, transformando-se então no centro de uma
das mais importantes malhas viárias do império. Nele convergiam as Estradas de
Évora e Mérida e, por outro lado, as que levavam a Olissippo e ao estuário do
Rio Tejo, chamando-se nessa época Castrum Malianum.
É esse facto, aliás, que explica o reforço do amuralhamento primitivo da
cidade, reforçando a importância estratégica da sua localização.
O carácter de Montemor-o-Novo
reforçou-se ainda nos inícios da Idade Média quando o território foi conquistado
pelos Muçulmanos. É neste período que a
cidade conhece a presença de Almansor que, mais tarde, acabaria por ficar
definitivamente marcado na toponímia do local, dando nome ao ribeiro que ainda
hoje corre no local.
Em termos de desenvolvimento urbano,
a importância de Montemor-o-Novo é bem patente no rápido e fulgurante aumento
da população que, extravasando as muralhas do seu castelo, rapidamente de
estende pelas colinas que o envolvem. Desde meados do Século XIX, com a
pacificação do território e a progressiva degradação das condições de
salubridade dentro das muralhas, foi a povoação medieval quase completamente
abandonada em prol da afirmação da nova cidade extra-muros.
No seu regresso à Portugalidade,
Montemor-o-Novo foi reconquistado definitivamente
pelo Rei Dom Sancho , em 1201, depois de Dom Afonso Henriques a ter
reconquistado uma primeira vez em 1160. Trinta anos depois, em 1190, a cidade
foi novamente tomada pelos Árabes que aí se mantiveram até à sua expulsão definitiva.
Para assegurar o seu repovoamento
e defesa, o rei conquistador concedeu-lhe o primeiro Foral em 1203, documento
esse que foi reconfirmado pelo Rei Dom Manuel I já no Século XVI (1503).
Palco de cortes por diversas
vezes, foi em Montemor-o-Novo que o Rei Dom Manuel I tomou a decisão de enviar
Vasco da Gama na sua viagem marítima até à Índia, sendo, por isso, aí que
reside aquela que será porventura uma das decisões mais importantes para o
devir histórico da própria humanidade. Como se diria mais tarde “de
Montemor-o-Novo se mudou o Mundo e as suas gentes”…
Foi também em Montemor-o-Novo que
nasceu São João de Deus (1495-1550), fundador
da Ordem dos Hospitalários que ainda hoje se encontra espalhada por todo o
Mundo.
Em termos de património, foi a
cidade alvo de diversas campanhas de recuperação e actualização que, para além
de alterarem de forma profunda a sua paisagem, acabaram por determinar o
galopante estado de degradação que o terramoto de 1755 acabaria por acentuar.
Apesar disso, a Praça de
Montemor-o-Novo resistiu ao ataque de Junot, durante as Invasões Francesas,
tendo sido quartel-general das hostes liberais durante a Guerra Civil que opôs
Portugueses contra Portugueses em pleno Século XIX.
Classificado como Monumento
Nacional desde 1951, e apesar da sua extraordinária importância na percepção de
Portugal e da sua História, o Castelo de Montemor-o-Novo continua num estado de
degradação que é, de todo, incompatível com as potencialidades que apresenta.
Continuamente apresentado como
palco de grandes campanhas de estudo e de intervenções arqueológicas, quase
sempre acompanhadas de projectos para recuperação e musealização do espaço, o
certo é que as muralhas continuam a apresentar um estado de ruína e de abandono
que representam uma autêntica vergonha Nacional.
Dentro do recinto, e para além da
recuperada Igreja de Santiago, faz dó visitar as ruínas do Paço Real, da Igreja
de São João Baptista ou da Igreja de Santa Maria do Bispo… Uma verdadeira
tristeza…