No final do Século XIX, depois de
Dom Luís ter escolhido Cascais para o seu período de veraneio, a Vila
transformou-se num imenso cadinho de novidades que alteraram de forma profunda
o seu dia-a-dia e a dinâmica da povoação.
Para além da luz eléctrica e do
telefone, bem como de várias benfeitorias introduzidas na Vila pelo Visconde da
Luz, em 1882 Cascais assistiu à inauguração do seu Marégrafo. O instrumento,
que servia para recolher dados sobre as correntes e sobe as marés, foi
determinante na definição do sistema de altimetrias Nacional, tendo contribuído
de forma decisiva para a criação de uma estrutura de análise e estudo do mar.
Mudado para o local onde
actualmente se encontra em 1895, depois de se ter verificado que a localização
inicial não permitia uma leitura correcta dos dados, o Marégrafo passou a fazer
parte da linha de paisagem de Cascais e da sua baía, assumindo-se como fulcro
de ligação dos Cascalenses ao mar.
Do seu varandim, ao qual se
acedia através de uma escadaria situada no final do Passeio Maria Pia, muitos
eram aqueles que aproveitavam as suas vistas abertas para descansar ao som
cadenciado da ondulação.
Depois da inauguração da Marina
de Cascais e, mais tarde, da remodelação do Clube Naval de Cascais, o Marégrafo
foi completamente engolido pelo betão, tendo-se perdido no seio de um espaço
fechado ao público e tendo deixado de usufruir da antiga ligação aberta aos
mares de Cascais.
Falta de senso, de consciência
patrimonial e de capacidade de entender a importância simbólica que este tipo
de equipamentos e monumento tem no imaginário colectivo e na identidade municipal,
determinaram que o Marégrafo seja hoje uma mera peça sem préstimo e sem
dignidade que, afastado do usufruto dos Cascalenses, perdeu a importância que
durante mais de um século teve na vida desta terra.
Mudam-se os tempos, mudam-se os
governantes e o regime… e vão-se esvaziando os vínculos antigos de Cascais.