por João Aníbal Henriques
Situado algures entre o adjectivo
e o verbo, o termo ‘inconseguido’ entrou definitivamente no léxico dos
Portugueses. O fenómeno, em linha com outros que amiúde têm vindo a ocorrer no
País, flutuando de forma pachorrenta na ‘incultura’ que resulta dos muitos
problemas que Portugal vem sentindo na área da educação, foi rápido a
alastrar-se pelos jornais, revistas e redes sociais e, se no início se fazia
acompanhar por algum ironia maldosa, rapidamente se foi consolidando junto dos
seus utilizadores e ocupando um lugar efectivo na práxis comunicacional
corrente.
Mas existe uma grande diferença
entre o ‘inconseguido’ e os outros fenómenos de abastardamento da língua
portuguesa. Basicamente porque este novo termo tem uma surpreendente utilidade
prática que se alastra a várias áreas, a vários fóruns de discussão e a várias
situações.
Na educação, por exemplo, a
palavra ‘inconseguido’ vem trazer uma nova luz a um velho fenómeno que todos
infelizmente conhecemos bem, ajudando a perceber a ambiguidade dos discursos e
da prática política de muitos daqueles que têm sido responsáveis pelo sector ao
longo das últimas décadas.
De facto, a poucos meses de se
cumprirem 30 anos desde a revolução de 25 de Abril, quando a palavra Liberdade
de banalizou a um ponto que praticamente deixou de ter significado para os
Portugueses, ela ainda não chegou às escolas nem às famílias. Contrariando a
letra da Lei, a lógica e a coerência social e as necessidades efectivas que
sentem os Portugueses, os pais continuam impedidos de escolher a educação que
desejam para os seus filhos.
A liberdade de educação, transversalmente
aceite em quase todo o Mundo como pilar essencial da maioria dos sistemas
educativos e associada de forma directa ao exercício da cidadania consciente e
activa e até da própria democracia, anda não chegou a Portugal. E isto acontece
quando em fóruns, seminários, congressos e reuniões dedicadas à educação,
aqueles que defendem a liberdade se esforçam por explicar de forma fundamentada
do que se trata, como funciona noutros Países e que vantagens tem para os
Portugueses e para Portugal.
E o mais estranho é que, quando
são capazes de se libertar dos preconceitos ideológicos e políticos que ainda
sobrevivem a 3 décadas de democracia, mesmos aqueles que são contra a liberdade
de educação e que preferem o reforço do papel do Estado em detrimento da
responsabilidade das famílias, acabam por aceitar que faz todo o sentido e que
a liberdade é, de facto, um direito essencial dos Portugueses.
Mas como os constrangimentos que
dão forma ao seu discurso não lhes permitem defender este princípio basilar da
democracia, esforçam-se por encontrar pretextos para se oporem à liberdade… e,
empurrando com a barriga a sua luta inglória, lá vão tentando explicar que são
contra porque consideram que, sendo um valor inquestionável, é muito difícil de
concretizar…
São, por isso, ‘inconseguidos’ os
inimigos da liberdade! Não sabem como devolver a liberdade aos Portugueses e,
por isso, vão ‘inconseguindo’ sucessivamente atabalhoar os seus discursos,
concretizando ‘inconseguidas’ lutas contra os interesses legítimos das famílias
Portuguesas e de Portugal.
Se para mais nada servir, eis que o fenómeno 'inconseguido' serve para explicar o absurdo em que vegetamos!
Se para mais nada servir, eis que o fenómeno 'inconseguido' serve para explicar o absurdo em que vegetamos!