segunda-feira

O Drama da Igualdade na Democracia em Portugal: Proposta de Revisão do IRS




Complexado e comprometido com a história recente do País e com os avanços e recuos que Portugal vem conhecendo desde o 25 de Abril, o poder político que temos já nos habituou às ideias-feitas e às grandes parangonas que surgem normalmente com o propósito de serem populares e de ajudarem a ganhar eleições.

Desta vez, propõe-se uma reforma do IRS que assenta numa pretensa igualdade entre os cidadãos…

Procurando alcançar uma linearidade na cobrança deste imposto que permita fomentar a ideia de justiça e aumentar de forma significativa o universo fiscal, propõem-nos a criação de um conjunto de plafonds fixos para as deduções do IRS, nomeadamente nas áreas da saúde e da educação, garantindo assim que, independentemente da existência ou não de despesa, o Estado considera um valor determinado para efeitos de abatimento à colecta.

Teoricamente bem-intencionado, este projecto configura, no entanto, o que de pior existe na democracia que temos em Portugal. Ao assumir que todos somos iguais, até na doença e na escola, o Estado determina à cabeça os gastos que cada cidadão pode fazer homogeneizando procedimentos e a vida dos Portugueses.

Ou seja, entrando em vigor esta proposta, o Estado passa a assumir um valor fixo para a saúde de cada cidadão. Sem ter em conta se ele está ou esteve doente, ou se utilizou ou não os serviços de saúde que o Estado coloca ao seu dispor. E quem ganha com esta pseudo-igualdade: obviamente os que têm saúde de ferro, prejudicando aqueles que, por qualquer infelicidade, estiveram doentes. Com este modelo, tendo todos direito ao mesmo desconto, podemos considerar que o abatimento à colecta é um bónus para quem teve saúde, que vai deduzir uma determinada verba que nunca chegou a pagar! Da mesma maneira que se transforma numa penalização para quem teve a pouca sorte de ter estado doente, e que vai usufruir de uma dedução semelhante à do saudável independentemente do que teve de gastar para se tratar durante o ano!

Quem utilizou os serviços de saúde verá reembolsada uma parte dos seus gastos. Quem não utilizou, é reembolsado na mesma e poderá ir de férias com os contribuintes a pagarem as mesmas!

Mas na educação a situação é ainda mais grave.

Estabelecendo um plafond de deduções em função do número de dependentes que cada contribuinte tem a seu cargo, o Estado atribui a todos por igual uma verba que será reembolsada a partir dos cofres públicos independentemente dos custos associados à efectiva frequência da escola.

E se quem opta por uma escola estatal vê assegurado, dessa maneira, um valor determinado que já sabe que lhe será entregue, quem opta por um projecto educativo num estabelecimento de ensino privado, acaba por receber do Estado um valor exactamente igual ao primeiro. Ou seja, será duplamente tributado, porque pagará a escola do Estado com os impostos que paga regularmente e pagará também as mensalidades referentes à escola que escolheu, sem que isso seja tido em conta nos cálculos que o fisco lhe vai fazer.  

Na prática, com a definição destes escalões, beneficia-se uns independentemente do que gastaram e prejudicam-se outros por terem ousado escolher para os seus filhos uma escola diferente daquela que o Estado lhe escolheu.
E acima de tudo, consagra-se a ilusão de que somos todos iguais e que queremos todos o mesmo, assumindo-se o Estado como a entidade que se arroga ao direito de escolher o que fazem e o que gastam os Portugueses.

Representa um atestado de menoridade que assenta na inexistência do direito de escolha e que, dando forma à mole humana que alguns querem que sejamos, impede a determinação e coarcta a liberdade dos Portugueses.