Mensagem de Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança, Chefe da Casa Real de Portugal, por ocasião das Comemorações da Restauração da Independência, no dia 1 de Dezembro de 2014
Portugueses:
O 1º de Dezembro
é a mais nacional de todas as nossas datas.
Sem ela, todos os
outros feriados civis deixam de fazer sentido.
E por isso,
começo por saudar a Iniciativa Popular para a reposição do feriado comemorativo
do dia 1º de Dezembro!
Nós, monárquicos,
nunca a deixaremos de celebrar como aquele dia em que renasceu Portugal!
Hoje, Portugal e
os Portugueses vivem dias amargurados.
Vive a nossa
Pátria dias difíceis porque não se comporta como País livre e independente,
grande pelos seus avós, e grande pelos nossos filhos.
Não podemos hoje,
a soldo de interesses económicos duvidosos, vender essa independência que tanto
custou a tantas gerações de portugueses.
Vivem os
Portugueses dias difíceis porque o desemprego assola as famílias e destrói
capacidades e laços de vida, obrigando as mesmas famílias a terem o papel
supletivo que o Estado social já não alcança.
Vivem os Portugueses
dias difíceis porque são forçados a emigrar, sobretudo os mais jovens e
sobretudo os mais qualificados; e por muita experiência que possam trazer de
volta, fazem-nos agora falta.
Vivem os
Portugueses dias difíceis, porque manifestam pouca confiança naquelas
instituições que deveriam garantir a nossa democracia, como sejam a Justiça e a
Assembleia da República.
É nestes momentos
mais difíceis, que o povo português deve revelar as suas extraordinárias
capacidades.
Assistimos a
sinais muito recentes de que a Justiça finalmente está a funcionar, com plena
independência entre os poderes.
A nossa justiça
tem dado extraordinárias provas de independência apesar das péssimas condições
com que os juízes contam para realizarem o seu trabalho.
Sem uma justiça
rápida e eficiente não pode haver democracia.
Assistimos a que,
nas eleições autárquicas, os portugueses manifestaram o desejo de ver
independentes nos cargos municipais a serem escolhidos pessoalmente pelos
eleitores.
Assistimos a
sinais de que os cidadãos se movimentam para procurar alternativas políticas
para as eleições legislativas, mais consonantes com tudo aquilo que a sociedade
civil sabe fazer, e fazer bem.
Para todo este
desejo de renovação que perpassa pelo nosso país, estou convicto que a
Instituição Real seria muito importante, ao aproximar a população das suas
instituições políticas.
Todas as
democracias cujo Chefe de Estado é um Rei ou uma Rainha têm essa ligação muito
mais forte do que os Países onde a chefia de Estado é assumida por um político,
independentemente das notáveis qualidades pessoais que ele possa ter.
Num momento em
que os portugueses sofrem as consequências gravíssimas de muitos anos de
políticas economicamente irresponsáveis e moralmente desajustadas, precisamos
de uma “revolução cultural”.
A ignorância e o
relativismo moral estão na base da nossa crise actual.
Queremos que os
produtos nacionais, na indústria, na agricultura e nos serviços, sejam cada vez
mais conhecidos.
Queremos que os
jovens encontrem alternativas adequadas às suas vocações.
Queremos que as
famílias continuem a promover a educação dos filhos, apesar de entraves que o
próprio Estado por vezes coloca.
Temos provas
dadas na ciência, na tecnologia, na qualidade dos produtos nacionais, na
ousadia dos nossos empresários, na dedicação dos nossos trabalhadores, nas
competências dos nossos pescadores e agricultores, na eficácia das nossas
Forças Armadas, nos feitos conseguidos pelos nossos desportistas.
Acreditamos que
saberemos estar presentes num Mundo em evolução.
Aproveito para
apelar aos nossos governantes, para que tenhamos uma intervenção em defesa das
vítimas do fanatismo no Próximo Oriente.
Algumas
organizações têm tido um papel muito importante na denúncia dos crimes
cometidos contra as comunidades cristãs que há mais de mil anos vivem nessa
região.
A Fundação de
Ajuda à Igreja que Sofre é uma das mais eficazes no apoio efectivo às vítimas
dessas perseguições.
A minha Família e
eu temo-nos esforçado por contribuir para o progresso da nossa Pátria.
Neste ano que
termina, visitámos em Família a Nação irmã de Timor-Leste, cujo Parlamento
generosamente me concedeu a sua nacionalidade.
Visitámos S.E. o
Presidente da República, General Taur Matan Ruak, e o anterior Presidente da República, Prémio Nobel Dr. José Ramos Horta e contactámos
várias personalidades civis e religiosas.
O nosso filho
Afonso foi nomeado pela Associação do Senado dos Liurais, presidido pelo
Deputado Dr. Manuel Tilman, com o grau de Liurai Timorense.
Visitámos em
caminho, a Tailândia, onde fomos recebidos pela Família Real e pela comunidade
de origem portuguesa, descendentes dos militares que foram enviados para ajudar
o Reino do Sião.
Visitámos também
o Rei e a Família Real do Reino do Cambodja.
Visitei Angola,
por ocasião do Congresso das Fundações da CPLP, iniciativa do maior interesse,
tendo-me ainda reunido com Bispos da Conferência Episcopal Angolana.
Em Portugal
visitámos oficialmente vários Concelhos a convite das suas Câmaras Municipais.
Em alguns casos,
o motivo foi a celebração dos 500 anos do foral manuelino, noutros o apoio a
boas iniciativas culturais, económicas e cívicas.
Estive presente
em Braga, Sintra, Aveiro, Ovar, Porto, Guimarães, Massarelos, Estremoz, Viana
do Castelo, Caminha, Aljustrel, Funchal, Torres Vedras, Lamego,
Felgueiras, e Vieira do Minho. E daqui saúdo as suas populações, autarcas e
outras pessoas que sempre tão generosamente me receberam.
O futuro de
Portugal depende de mantermos vivas estas nossas raízes e de alcançarmos uma
inteligente renovação das nossas instituições.
Só todos juntos,
num esforço bem organizado, o poderemos conseguir.
Tenho afirmado
que o pensamento republicano é de curto prazo; interessa-lhe resolver os
assuntos a quatro anos, até às próximas eleições; é um pensamento muito
provisório.
Hoje estamos aqui
neste 1º de Dezembro porque respiramos o ar da História e esse ar mede-se por
séculos e gerações e não por ciclos eleitorais.
E por isso, hoje
e aqui, solenemente repito - na presença de minha Mulher Isabel, que tanto tem
promovido as causas da família e da educação, e de meu Filho Afonso que este
ano celebrou a sua maioridade - que a minha Família está preparada para assumir
os compromissos que o nobre povo português nos quiser confiar.
Assim sucedeu
noutras épocas da nossa gloriosa História como povo.
Assim possa vir a
suceder, após estes tempos conturbados em que vivemos.
Viva Portugal!