por João Aníbal Henriques
O ano de 2015 inicia-se em
Portugal com uma tresloucada apetência pelas preocupações ambientais… num acto de
desvario que resulta do cruzamento sempre complexo entre as necessidades
eleitorais e as que resultam da crónica falta de dinheiro, o estado e as
autarquias de diversas sensibilidades políticas e partidárias convergem numa
pseudo-defesa intransigente dos interesses ambientais de Portugal, utilizando
essa máxima descabida para esconder as reais motivações que estão por detrás da
decisões que vão tomando para defender os seus interesses particulares.
A primeira destas medidas foi a
da chamada “política dos sacos”. Concretizada pela coligação governativa
formada pelo PSD e pelo CDS, pretende cobrar-se um imposto que adjectivam como “verde”
sobre cada saco de plástico utilizado em Portugal. Dizem eles (e têm razão) que
o plástico utilizado nos ditos sacos é imensamente poluente e que, com este
imposto, Portugal conseguirá reduzir drasticamente o impacto negativo que tem
nesta área.
Mas dizem também, sem nenhuma
vergonha, que a política dos sacos resulta em primeira instância da necessidade
de colmatar o défice orçamental imposto pelo chumbo das propostas orçamentais
pelo Tribunal Constitucional. Em suma, se não houvesse este conjunto de
constrangimentos orçamentais, o governo pouco se importaria com o impacto dos
sacos no ambiente e jamais lhe passaria pela cabeça a criação deste imposto
cinicamente “verde”!
Em linha com este exercício
hipócrita, e novamente ao sabor do eleitoralismo que dará forma a 2015, a
câmara socialista de Lisboa veio mostrar-se preocupada com o ambiente no centro
da cidade (no resto da cidade não importa nada a poluição…) e impôs restrições
à circulação automóvel em algumas zonas da cidade.
E tem razão para se mostrar
preocupada. A poluição provocada pelo trânsito automóvel é enorme e precisamos
urgentemente de criar medidas que libertem as nossas cidades deste flagelo.
Mas, no caso específico de
Lisboa, a hipocrisia dá forma a mais esta medida hipocritamente “verde”. Ao
estabelecer uma idades para definir os carros que podem, ou não, circular na
cidade, a edilidade assumiu que os critérios para essa circulação não são o
grau de poluição provocado pelos veículos, mas sim uma cínica balança entre os
votos dos quais necessitam os partidos que estão no poder, e o politicamente
correcto que desde sempre se associa ao ambiente.
Senão vejamos: um Opel Corsa B,
adquirido novo em 1997, com uma cilindrada de 1200 cm3, emite 156 g/km de CO2 e
está proibido de circular em grande parte da cidade de Lisboa. Mas, por
exemplo, um BMW 550D, adquirido novo em 2014 e com um índice de emissões na
ordem dos 166 g/km de CO2, mais elevado do que a do velhinho Opel Corsa, pode
circular livremente!