por João Aníbal Henriques
A Igreja de Nossa Senhora da
Conceição, situada na zona da Ribeira de Viseu, é um dos mais interessantes
monumentos da Capital da Beira Alta.
O carácter singelo da sua
fachada, ostentando a traça típica do Século XVIII e o carácter chão que
enquadra a generalidade dos imóveis que se situam junto às margens do Rio
Paiva, em Viseu, foi profundamente alterado com a construção, já em pleno
Século XX, do seu adro de grandes dimensões e das escadarias monumentais que
lhe dão acesso.
O carácter sagrado do local onde
se situa está bem patente na sistemática reutilização sempre cultual que o
mesmo tem. No Século XVI, ali se situava uma antiga capela dedica a São Luís,
Rei de França, cuja imagem continua num dos altares laterais da nova igreja. Nos
materiais utilizados para a sua construção, encontram-se ainda muitos vestígios
reutilizados de outros templos existentes neste local e de antigas capelas
entretanto demolidas nas vizinhanças. É o caso das cantarias da antiga Capela de
São Jorge da Cava, simbólicas pela conotação eminentemente simbólica da sua
evocação, bem como de diversas peças escultóricas ali colocadas e que denotam a
importância deste edifício na definição das dinâmicas de culto da Cidade de
Viseu.
São ainda de salientar, pelo
enquadramento cénico que proporcionam, a imensa escadaria colocada junto à
fachada e que dá acesso ao adro, numa obra monumental que data do início do
Século XX, e o interessante gradeamento que a envolve e que foi oferecido por
um devoto Portuense de Nossa Senhora da Conceição. Em 1907 foi colocado no
nicho desta escadaria uma imagem antiga do Senhor da Boa Fortuna, cuja
proveniência se perdeu.
A sua situação geográfica, entre
a margem do Rio Paiva e o início de um dos oito troços da Cava do Viriato, faz
desta igreja um dos pontos fulcrais numa visita a Viseu, ajudando a perceber a
sua permanente ligação à vivência rural das beiras e à singeleza mística de um
povo que, apesar de materialmente pobre, foi sempre riquíssimo em termos
culturais.