por João Aníbal Henriques
Integrada na paisagem urbana de
Grândola, a Igreja Matriz, com invocação recente a Nossa Senhora da Assunção, é
um excelente exemplo da forma como evoluiu a própria localidade. A simplicidade
da sua traça, numa apologia assumida ao estilo chão que dá forma à extraordinária
expressão arquitectónica do Alentejo, aponta para um sentido neoclássico,
porventura resultante das vicissitudes imensas que conheceu ao longo da sua
longa História.
Não se conhecendo a sua origem,
uma vez que documentalmente a primeira menção a esta igreja data de 1482,
quando se efectuou uma campanha de obras que visava contrariar a degradação em
que o templo se encontrava, sabe-se que nessa altura o seu orago era Nossa
Senhora da Abendada, facto que se alterou já no Século XVI quando lhe foi
atribuída a actual designação.
A volumetria que actualmente
apresenta, fruto de sucessivas campanhas de obras ali efectuadas pela Ordem de Santiago
da Espada, foi determinada pelo visitador-mor da ordem, D. Jorge de Lencastre,
Duque de Coimbra, após visita ao espaço em 1513. Nessa altura, em virtude da
pobreza original do edifício, a Ordem de Santiago considerou que era pouco
digno o carácter campesino da igreja original, com a sua Pia Baptismal feita a
partir de uma tina de barro e o chão de terra batida, foi decidida a ampliação
do espaço original e a criação de um conjunto de serviços que incluíam basicamente
todas as necessidades referentes ao apoio à população.
A afirmação de Grândola ao longo
de todo o Século XVI, quando a pujança fértil das suas terras acabou por ser
determinante na criação de excessos de produção que consolidaram a componente
mercantil da localidade, traduz-se em sucessivas intervenções na Igreja de
Nossa Senhora da Assunção, assim se explicando a riqueza das suas talhas e dos
painéis de azulejos que contrastam de forma evidente com a simplicidade do seu
traçado.
Nossa Senhora da Assunção, a
invocação maior deste período mais recente, aponta simultaneamente para a
evolução cultual naquela zona do Alentejo, numa apologia permanente aos
mistérios maiores da criação, assertivamente dependentes de um pragmatismo
simples expropriado das abordagens mais elaboradas que populações oriundas de
outros lugares para ali procuravam trazer. Por isso, para a Senhora da Assunção
convergem os interesses, relegando para segundo plano outros tipos de
motivações que contradissessem as mais puras formas de expressão da piedade popular.
E a nova invocação, sendo ela própria uma assumida ponte entre o carácter mundano
da vida comum e o prolixo contexto da religiosidade mais elaborada e exigente
das camadas populacionais mais privilegiadas, transforma-se assim no cadinho
onde se fermenta uma nova forma de ser e de estar que é determinante para a
consolidação do tecido social da própria Vila de Grândola até à actualidade.
Eixo consistente para a estruturação
urbana local, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Grândola é assim o ponto
mais significante da localidade, nele reservando toda a informação relevante
para compreendermos o que foi a História daquele local.