por João Aníbal Henriques
No Século XVI a região de
Grândola conheceu um período de crescimento sem par. Os bons anos agrícolas,
transfigurados em colheitas de grande potencial, significaram fartura nos índices
de produção locais. E o excesso, suprindo de forma cabal as necessidades
alimentícias da população, foram escoadas para o mercado, rentabilizando assim
a energia despendida no trabalho e reforçando o valor estratégico de toda a
região.
Em 1544, a povoação recebeu a sua
Carta de Foral, criando assim as bases da sua autonomia administrativa e, por consequência,
todas as obrigações e responsabilidades que normalmente correspondiam aos
municípios.
Este esforço, necessário para
enfrentar os vários desafios políticos e económicos que acompanharam o crescimento
e consolidação da estrutura municipal, exigiam infraestruturas de que a terra
não estava dotada. E, para fazer face a essas necessidades, recebeu o município
as devidas autorizações para iniciar a construção de raiz de um complexo que
fosse capaz de albergar as instalações da Câmara Municipal, as dependências do
tribunal e, no seu piso térreo, prisões masculinas e femininas, acompanhadas
por habitação para albergar o carcereiro.
Assim, depois de muitos esforços
para conseguir recolher os valores necessários para esse avultado investimento,
iniciaram-se em 1725 as obras de construção das novas Casas da Câmara que, sem
a monumentalidade de outros edifícios congéneres situados noutros concelhos,
são bem demonstrativos da periclitante situação em que sempre viveu este município
alentejano. A pouca qualidade dos materiais utilizados, e o carácter precário
da obra de construção, obrigou à realização de várias obras de manutenção e requalificação
ao longo do tempo.
E em 1755, quando o Grande Terramoto abalou de sobremaneira a estrutura construída da localidade, o edifício ficou profundamente danificado, gerando nova necessidade de recolha de dinheiro para fazer face às imensas despesas de recuperação. É nessa altura que a Coroa assume uma quota-parte das mesmas e, para viabilizar a intervenção urgente que era necessário fazer na construção, oferece ao município a quantia de 664.397 Réis, quantia com a qual se realizou a intervenção e que recuperou o edifício.
Depois de a câmara ter crescido e
consolidado a sua importância no contexto municipal alentejano, já em pleno
Século XX, o município arrendou outro espaço para instalar os serviços
municipais. E as velhas Casas da Câmara, mercê do restauro da Comarca de
Grândola, em 1919, foram cedidas para a instalação do tão almejado tribunal.
Pelas suas características
urbanas e pelo desenho extraordinário das suas ruas, a Vila de Grândola é hoje
um ex-libris da História do Alentejo. E se o final do Século XX lhe consolidou
as memórias, sobretudo acentuadas pela ligação perene do município às alterações
impostas pela revolução, trouxe também a Grândola um cunho de serenidade que se
impôs na paisagem envolvente, transformando-a numa das mais atractivas de
Portugal.