Mais do que o seu estilo, características arquitectónicas ou disposições urbanísticas, os edifícios que compõem o património histórico oeirense assumem-se como repositórios de memória, deixando transparecer os resquícios de todas as vidas que por eles passaram.
Situado no cerne da actual Vila de Oeiras, e funcionando como o grande catalisador do desenvolvimento moderno da localidade, o Palácio do Marquês de Pombal é um dos mais significativos monumentos arquitectónicos da Área Metropolitana de Lisboa.
A sua memória mesclada com a aura fulgurante do primeiro proprietário, Sebastião José de Carvalho e Melo, polémico Primeiro-Ministro do Rei Dom José, dilui-se na biografia mítica do velho governante.
Apesar da elegância do projecto da autoria do Húngaro Carlos Mardel, que consagrou através deste edifício os mais modernos princípios arquitectónicos da Europa das Luzes, o Palácio do Marquês de Pombal é definitivamente marcado pela sua fantástica capacidade de se integrar no espaço envolvente, abarcando os valores urbanísticos da velha Oeiras, e projectando-os através da promoção da paisagem natural envolvente.
A responsabilidade da ideia, apesar de concepção de Mardel, fica a dever-se sobretudo à Condessa Leonor Daun, segunda mulher de Pombal, e principal impulsionadora da construção do grande conjunto edificado.
São as memórias desta mulher, um pouco encobertas pela extraordinária competência política do seu marido, que ainda hoje subsistem no palácio. De facto, quer no edifício principal, quer mesmo nos conjuntos adjacentes, hoje profusamente utilizados pela Câmara Municipal de Oeiras, é possível encontrar os vestígios sublimes do ambiente vienense do Século XVIII que a Condessa procurou recriar neste espaço.
A conjugação da sensibilidade da sua ideóloga, com o saber técnico e artístico do arquitecto, e sobretudo com a grande capacidade concretizadora do seu proprietário, transformam o Palácio do Marquês de Pombal num dos mais ilustrativos exemplos de urbanismo iluminado em Portugal.
A Vila de Oeiras, habituada a viver à sombra do ilustre governante, foi também ela directamente afectada pela sua construção. De facto, não só nos espaços envolventes ao palácio, como principalmente no núcleo histórico da localidade, são inúmeros os exemplos dos benefícios herdados de Pombal que, principalmente após o grande terramoto de 1755, passou a habitar definitivamente na sua casa de Oeiras.
O fulgor desse período, bem visível na atribuição do Foral Novíssimo de 1760 e, depois, na realização da grande exposição agrícola de 1775, consagra-se com a sua utilização pelo próprio monarca. Por sofrer de grandes males que o obrigavam a frequentar diariamente as milagrosas águas termais do Estoril, e sobretudo por não existirem em Cascais habitações com qualidade suficiente para receberem a Corte, foi no Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras, que esteve o Rei Dom José durante um ano, transformando a recém-criada Vila na capital política do País.
A memória do espaço oeirense, sujeita às vicissitudes que acompanharam o percurso final da vida do seu ilustre Senhor, absorve também ela o desânimo, o abandono e a degradação que acompanhou Pombal no seu exílio forçado.
Esquecida por quase todos, e uma vez mais sujeita aos laivos da lembrança do antigo braço direito de Dom José, Oeiras vai perdendo o seu estatuto, e deixando degradar a herança histórica que este lhe havia legado. Até há uns anos, quando a Câmara Municipal decidiu retomar a promoção da ilustre povoação, Oeiras permitiu que grande parte dos seus valores desaparecessem nas mãos ignóbeis de saqueadores desconhecidos. O Palácio do Marquês de Pombal, altaneiro na sua elegância, assistiu impavidamente à destruição progressiva dos seus pertences.
Só recentemente, fazendo jus àquilo que Oeiras conseguiu ser no tempo de Pombal, a edilidade local reiniciou o processo de requalificação do local, centrando no espólio arquitectónico do Século XVIII a marca de um passado que nem mesmo a passagem dos anos consegue apagar.
A memória do Palácio do Marquês de Pombal, atravessando transversalmente as malhas inexoráveis do tempo, impôs a Oeiras o seu caminho. Independentemente de tudo o que de bom ou de mal possa suceder àquela Vila, este conjunto edificado assumir-se-á sempre como o sustento de uma memória que Oeiras nunca irá perder.