por João Aníbal Henriques
Da
Igreja de Santo António e do Convento Franciscano do Estoril ao glamour do
Casino, vão poucos passos mas uma História longa e verdadeiramente ímpar. A
estância turística do Estoril, outrora estação terminal do charmoso
Sud-Express, enche-se com as fragrâncias próprias de uma localidade que sempre
quis ser uma grande referência de relevo internacional. Pelas ruas do Estoril,
onde reis, rainhas, príncipes e princesas se cruzavam naturalmente com
escritores, pintores, cantores, actores e espiões de gabarito mundial, ecoam
ainda hoje os sons e as cores do mítico James Bond ou das maiores divas do
cinema americano.
Trajecto:
Este
passeio começa na Estrada Marginal em frente à Igreja de Santo António onde
poderá ver o Casal de São Roque, a Igreja e a antiga Casa Paroquial. Mais à
frente, ainda na marginal, encontrará o Edifício da Estação Telefónica do
Estoril em frente à bomba de gasolina. Segue através da Rua Melo e Sousa onde
verá a casa Camilo Farinas e a Casa Bustorff da Silva à sua esquerda e da Rua
do Algarve, onde vai encontrar a Vivenda Volubilis. Daí segue para a Avenida
Dom Nuno Álvares Pereira, virando à esquerda para a Rua da Beira baixa até
encontrar a Casa do Rei Karol da Roménia. Virar para a Rua de Inglaterra que
deverá subir até encontrar a Villa Giralda, virando novamente à direita através
da Rua da Índia até regressar à Avenida Dom Nuno Álvares Pereira. A Casa Teixeira
Beltrão fica à sua esquerda. Descer a Avenida General Carmona, passando pelas
Casas Vale Florido e Boavista, até à Praça Almeida Garrett, onde encontrará o
edifício do antigo Casino Estoril. Descer a Avenida Clotilde e admirar à
esquerda o Hotel Palácio do Estoril seguido do edifício das Arcadas do Parque.
Do outro lado da Avenida Marginal, por detrás da bomba de gasolina, estão as
magníficas Cocheiras santos Jorge. Subindo a Avenida Marginal no sentido
Nascente encontrará à esquerda a Estação dos Correios e a Casa de São
Francisco. Mesmo ao lado está a Casa de Nossa Senhora de Fátima. Siga pela
Avenida Biarritz e pela Rua do Porto até ao Hotel de Inglaterra.
Construído
sobre o antigo Forte de São Roque, que defendia o areal do Juncal de eventuais
desembarques inimigos, o Palacete Schröter foi construído no início do Século
XX pelo Conselheiro Driesel Schröter. A escolha de espécies exóticas para o seu
jardim, nomeadamente o tamarindo, acabou por influenciar de forma decisiva a
toponímica local, tendo a praia passado a designar-se como Tamariz. Depois de
vendido, o palacete foi adaptado a casa-de-chá que assumiu o mesmo nome e impôs
o Tamariz nos hábitos requintados da sociedade Estorilense.
02) Igreja de Santo António
Construída
no mesmo lugar onde em 1527 se encontrava uma pequena ermida de madeira
dedicada a São Roque, a Igreja de Santo António do Estoril é um edifício datado
do início do Século XVIII e esteve associada ao antigo Convento Franciscano de
Santo António. Depois de ter sido arrasada durante o terramoto de 1755 foi
rapidamente reconstruída com a traça que hoje apresenta, tendo sido novamente
destruída por um incêndio em 1927 que obrigou a nova remodelação. Teve grande
importância na vida política Portuguesa do início do Século XX devido à acção
do seu primeiro Prior Monsenhor António José Moita.
03) Casa Paroquial
A
Casa Paroquial que está associada à Igreja de Santo António do Estoril foi
edificada em meados do Século XIX por José Viana da Silva Carvalho, o
proprietário original do Estabelecimento de banhos do Estoril. Depois, por
intervenção do Prior do Estoril, Monsenhor António José Moita, foi readaptada
para Casa Paroquial e foi sede de diversas instituições de apoio e intervenção
social do Estoril.
04) Edifício da Estação Telefónica do Estoril
Apesar
de ser uma das primeiras obras de traço assumidamente modernista que o
Arquitecto Adelino Nunes assinou no Estoril, o Edifício da Estação Telefónica
do Estoril, edificado em 1933, é um extraordinário exemplo da forma como a nova
concepção dos espaços se adapta com rigor às condições dos terrenos e à
paisagem envolvente. Construído de forma linear e com um só andar térreo, o
edifício evidencia-se pelo apelo ao movimento conseguido através da utilização
cruzada de diversos corpos arquitectónicos, imaginado por dar continuidade à
linha imposta pela Avenida Marginal e pela linha férrea envolvente.
05) Casa Camilo Farinhas
Construída
em 1930 por Camilo Farinhas, utiliza um projecto do Engenheiro Jacinto Reis
Bettencourt em que a inovação assenta na utilização de uma ampla varanda para
promover os valores estéticos tradicionais da denominada Arquitectura Portuguesa.
A Casa Camilo Farinhas, que marca a charneira entre o tradicionalismo do
projecto original de Martinet e as novas tendências modernistas no Estoril, é
um dos últimos exemplos daquilo que haviam sido as propostas urbanísticas da
Sociedade Estoril Plage.
06) Casa Bustorff da Silva / Casal Branco
A
casa de António Júdice Bustorff da Silva foi edificada em 1923 utilizando os
valores urbanísticos e arquitectónicas da denominada Casa Portuguesa. A
volumetria simples, que contrasta de forma evidente com a generalidade das
casas construídas nessa época no Estoril, promove uma marca revivalista através
da utilização de um modelos construtivo de génese ruralizante ainda com laivos
do movimento romântico que o precedeu.
07) Vivenda Volubilis
Marcando
a paisagem envolvente através do impacto que consegue impor devido ao seu
posicionamento no topo da colina que marca o início do Alto Estoril, a Vivenda
Volubilis é um exemplo expressivo da arquitectura de cenário que dá forma à
fácies urbana dos Estoris. Pensada para traduzir os ideias de beleza e força,
traduzidos nos seus traços firmes de inspiração clássica, é uma casa de finais
da década de 30 do Século XX que traça a forma desse período de afirmação da
região.
08) Casa Rei Karol da Roménia
Construída
originalmente para Octávio Pinto da Rocha, que em 1928 requisitou ao Arquitecto
Jorge Segurado uma habitação em estilo neo-clássico, foi mais tarde residência
do Rei Karol da Roménia e adaptada por diversas vezes para se aproximar do
ideal apalaçado que hoje apresenta. Apesar de bastante desfigurada com a
alteração que lhe foi imposta para criação de um moderno condomínio, guarda
ainda as memórias da sua antiga função real.
09) Villa Giralda
Marcada
ainda hoje pelas memórias muito vivas do exílio da Família Real Espanhola em
Portugal, a Villa Giralda foi a sua residência oficial durante quase três
décadas. Com uma vista privilegiada sobre o Estoril, foi no seu jardim que por
acidente o actual Rei Juan Carlos disparou e matou o seu irmão o Infante Dom Alfonso.
Com os seus muros baixos e a fachada aberta para a Rua de Inglaterra, a Villa
Giralda é hoje a melhor imagem do cosmopolitismo real que deu forma à
organização social do Estoril sobretudo no período que se seguiu às duas
guerras mundiais.
10) Casa Teixeira Beltrão
Projectada
pelo Arquitecto Carlos Ramos e edificado em 1923 para Luís Teixeira Beltrão, o
edifício, hoje abandonado, apresenta reminiscências dos laivos neo-árabes do
período romântico que a antecedeu. A escadaria da entrada, monumentalizando uma
fachada volumetricamente pouco interessante, recria um ambiente apalaçado que
se afirma perante o portuguesismo das casas envolventes.
11) Casa Vale Florido
Com
projecto do Arquitecto Cristino da Silva e construída em 1939, a Casa Vale Florido
é um dos melhores exemplos da arquitectura modernista no Estoril. Inserida num
lote perpendicular ao estacionamento em forma de meia-lua que serve de cenário
à fachada principal do Casino Estoril, foi alvo de grande controvérsia no
momento da sua construção por ter sido apresentada como um contra-ponto ao
modelo da dita “Casa Portuguesa” que nessa altura imperava na região.
12) Casa Boavida
Tal
como a anterior, a Casa Boavida segue os cânones construtivos da arquitectura
modernista tendo sido edificada na década de 40 com projecto do Arquitecto
Cristino da Silva. Tendo feito evoluir os conceitos originais desse movimento
de vanguarda, o arquitecto utiliza nesta casa alguns dos principais traços que
o aproximam da estética nacionalista como são os arcos e as pérgolas.
13) Antigo Casino Estoril
Apesar
de ter sido inaugurado somente em Agosto de 1931 o edifício do antigo Casino
Estoril foi construído depois da adaptação do projecto original do Arquitecto
Silva Júnior. A reformulação das ideias originais constantes do projecto
urbanístico de Martinet e sobretudo o contributo dos Arquitectos Raoul Jorde e
Pardal Monteiro, foram essenciais para o assumir das suas linhas modernistas
que acabaram por ser percursoras de um vasto movimento arquitectónico que teve
grande influência na História da Arquitectura em Portugal.
14) Hotel Palácio Estoril
Inaugurado
no dia 31 de Agosto de 1930, com uma cerimónia plena de pompa em que até o
Presidente da República esteve presente, o edifício do Hotel Palácio do Estoril
integra-se no original Plano de Urbanização do Estoril que Fausto de Figueiredo
encomendou ao arquitecto Francês Henry Martinet. Utilizando valores estéticos
neo-clássicos, em que se misturam alguns laivos do antigo romantismo com as
novas orientações do modernismo, é o mais conceituado estabelecimento hoteleiro
por onde passaram as principais figuras dos mundos da política, da moda, do
espectáculo, das artes e das letras de todo o Mundo.
15) Arcadas do Parque
Datadas
de 1915 e inseridas no projecto assinado pelo Arquitecto Francês Henry Martinet
para a Sociedade Estoril Plage, o edifício das Arcadas do Parque cumpre o
propósito definido pelo promotor Fausto Cardoso de Figueiredo de criar um
ambiente de grande conforto urbano, sempre com um cunho de base familiar, na
sua nova estância balnear. Fechando o espaço, as arcadas definem os traços
principais da arquitectura de fachada que há-de transformar-se na imagem de
marca dos Estoris.
16) Cocheiras Santos Jorge
Propriedade
da Família Santos Jorge, que teve enorme influência na criação dos Estoris, as
Cocheiras Santos Jorge foram projectadas pelo Arquitecto Norte Júnior em 1916,
tendo feito parte da antiga casa de família que entretanto foi demolida.
Utilizando um estilo eclético mas marcado de forma vincada por um revivalismo
de orientação neo-romântica, é um expressivo exemplo da arquitectura de cenário
que constrange a imagem promocional dos Estoris.
17) Edifício dos Correios do Estoril
Sendo
assumidamente a grande referência da arquitectura modernista do Estoril, o
edifício dos Correios do Estoril foi edificado em 1936 sobre um projecto
assinado pelo Arquitecto Adelino Nunes. Utilizando uma planta em V que lhe
permite rentabilizar a forma do lote onde se insere, e apostando no destaque
conferido à estrutura cilíndrica da fachada, o edifício marca o ponto de
viragem no desenvolvimento urbano do Estoril representando o assumir do
modernismo como principal traço da construção da cosmopolita estância balnear.
18) Casa de São Francisco
Seguindo
a linha orientadora do modernismo Estorilense, basicamente assente nos
projectos do Arquitecto Adelino Nunes, António Varela projecta em 1936 uma casa
de habitação destinada ao Engenheiro António Cortez de Lobão. A regularidade
das fachadas, contrariada neste caso por uma inusitada entrada lateral, é
contrariada pelos baixos-relevos que a decoram e lhe conferem algum movimento.
É, para todos os efeitos, um dos mais relevantes exemplos de arquitectura
modernista no Estoril.
19) Casa de Nossa Senhora de Fátima
Datada
de 1921, a Casa de Nossa Senhora de Fátima utiliza o modelo de implantação
definido pelo Arquitecto Norte Júnior, repescando os valores mais tradicionais
da Casa Portuguesa e apostando nos painéis de azulejos como elemento
diferenciador. Foi construída pela Companhia de Crédito Edificadora Portuguesa,
responsável pela promoção urbana do Estoril.
20) Hotel da Inglaterra
Seguindo as orientações estéticas constantes no original
projecto de Martinet, o edifício onde actualmente funciona o Hotel de
Inglaterra foi construído em 1916 para Alexandre Nunes de Sequeira. Apesar de
bastante alterado em 1917 para ser adaptado às funções hoteleiras, mantém
incólumes os valores arquitectónicos definidos no projecto assinado pelo
Arquitecto Silva Júnior.
(c) HENRIQUES, João Aníbal, Levantamento Exaustivo do Património Cascalense, Cascais, Fundação Cascais, 2000