Os
contornos sinuosos das ruas, marcados aqui e ali pelas formas esbeltas do
casario, contrastam com a indescritível recorte das falésias e as sempre
deslumbrantes cores do areal. As casas, espelhando a alma dos seus construtores
e proprietários, contam sempre uma história, tornando mais marcante uma visita
a Cascais. Nesta Vila de Reis e de Pescadores, a arquitectura deixa
subentendidas várias formas de estar, de viver e de sentir, motivando uma
variedade que não deixa indiferente quem a opta por visitar.
Trajecto:
Trajecto:
01) Estação de Cascais
Quando
foi inaugurada a linha-férrea que ligou Cascais a Pedrouços, no dia 30 de
Setembro de 1889, alterou-se radicalmente a face da velha vila piscatória. A
proximidade à capital e a facilidade de acesso acabou por trazer um novo equilíbrio
social que marcou o período de ouro da existência de Cascais. A estação,
construída no mesmo local onde existiu a antiga Igreja da Ressurreição de
Cristo, destruída pelo terramoto de 1755, é um dos exemplares mais notáveis da
arquitectura pública da década de 50 do Século XX.
02) Avenida Valbom
A
artéria que liga a Estação de Comboios de Cascais ao Jardim Visconde da Luz foi
um dos projectos mais extraordinários incluídos no plano de modernização de
Cascais que o Visconde da Luz criou em finais do Século XIX para preparar a
Vila para receber a Família Real e a Corte. Pensada de forma a criar uma
entrada digna em Cascais, foi inaugurada com a pompa e circunstância que a Vila
da Corte exigia.
03) Villa Pérgola
Depois
da chegada da Família Real e da Corte a Cascais, muitos foram os aristocratas
lisboetas que se sentiram obrigados ter uma casa de veraneio neste aprazível
recanto. A Villa Pérgola, edificada no final do Século XIX, é um dos exemplares
emblemáticos desse período, aproveitando o fluxo de visitantes que a condição
Real conferia à Vila de Cascais.
04) Jardim Visconde da Luz
O
Jardim Visconde da Luz, na sua apresentação actual, foi inaugurado em 1984
depois da grandes destruição imposta pelas cheias do ano anterior. O local,
onde originalmente se situava a Fábrica de Conservas de Cascais, foi projectado
pelo Visconde da Luz de forma a dotar a vila das condições necessárias para
receber o Rei Dom Luís I e a Corte durante o período estival. É de salientar,
por ter feito parte do projecto original, a fonte romântica situada na parede
virada para a Rua Visconde da Luz, a Fonte Filipina situada no centro da praça
e a estátua em honra dos Combatentes da Grande Guerra.
05) Casa Pinto Basto
Situada
sensivelmente a meio da Rua Visconde da Luz, por detrás do jardim com o mesmo
nome, a Casa Pinto Basto é um dos melhores exemplares da arquitectura
tradicional Cascalense. Embora não se conheça a sua origem, é provavelmente uma
das mais antigas edificações da vila, antecedendo a chegada da corte no Século
XIX e o fulgor construtivo que se lhe seguiu. Mantendo a sua características
rurais, deverá ter feito parte da estrutura agrícola de Cascais dos Séculos
XVIII e e do início do XIX.
07) Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Porto Seguro
Originalmente integrada na antiga Gafaria de Cascais,
espécie de centro hospitalar de acolhimento de doentes leprosos, a Ermida de
Nossa Senhora da Conceição de Porto Seguro é um edifício do início do Século
XVII. Situada nos arrabaldes da vila, num lugar chamado Vista Alegre, oferecia
apoio espiritual aos doentes que eram afastados do resto da sociedade.
08) Antigo Hospital dos Condes de Castro Guimarães de
Cascais
O
edifício original foi inaugurado em 1940, depois de ter sido construído de raiz
com o apoio de uma verba legada pelos Condes de Castro Guimarães, num terreno
oferecido à Santa Casa da Misericórdia de Cascais por Henrique Marques Leal
Pancada. Em 1973-1974 foi totalmente reformulado e reequipado pelo Provedor
Joaquim Baraona, adquirindo a forma que hoje apresenta. Deixou de funcionar em
Março de 2010.
09) Fábrica das Conservas de Cascais
Sendo
um dos poucos exemplares de arquitectura industrial que subsistem na Vila de
Cascais, a antiga Fábrica de Conservas foi construída pelo Engº. Abreu Nunes no
início do Século XX e perpetua a memória da ligação ancestral que esta terra
possuía com a indústria conserveira. O seu proprietário, empreendedor de
destaque no Cascais de então, foi também um dos primeiros promotores turísticos
da região e o grande responsável pela criação da então Junta de Turismo da
Costa do Estoril.
10) Casa do Sol / Bem Lembrados
Tendo
sido originalmente um anexo da Casa de Sant’Anna, a Casa do Sol contou com a
traça do Arquitecto Raul Lino e foi construída na década de 40 do Século XX.
Foi também, até à sua morte no ano 2000, a residência do grande escritor
Cascalense Pedro Falcão (D. Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cotta Falcão
de Menezes), que ali produziu algumas das suas mais importantes obras
literárias e artísticas.
11) Casa de Sant’Anna
Construída
em 1931 por D. Ana Maria Burnay Soares Cardoso Aranha, a Casa de Sant’Anna é um
dos melhores e mais representativos projectos do Mestre Raul Lino na Vila de
Cascais. Inserindo-se na tipologia da denominada “Casa Portuguesa”, foi
edificada por José Vilar (Mestre Tapisso) e integra grande parte dos valores
estéticos que dão forma à corrente construtiva daquela época. São de salientar
os beirados tradicionais, os cortes dos telhados, os terraços, as janelas e os
alpendres.
12) Chalet Ficalho
Construída
em 1897, com projecto do Arquitecto Manuel Ferreira dos Santos, Chalet Ficalho
é uma interessante construção de matiz romântica que utiliza os valores
estéticos do movimento romântico Português. Integrando um aspecto acastelado,
com os seus muros e paredes forrados a pedra solta, o Chalet Ficalho foi
construído por António Máximo da Costa e Silva para a sua filha D. Helena Mello
da Costa que, sofrendo de problemas respiratórios, foi aconselhada pelos
médicos a vir a banhos para Cascais.
13) Casal de Nossa Senhora da Conceição
Inserida
no denominado ‘Estilo Português’, o Casal de Nossa Senhora da Conceição foi
construído entre 1917 e 1920 por D. Francisco Lobo de Almeida Mello e Castro de
Avillez. Situada defronte da antiga parada, foi projectada pelo conceituado
Arquitecto Guilherme Gomes e construída pelo Mestre Alfredo de Figueiredo.
14) Parada
Inaugurado
em 15 de Outubro de 1879 pelo próprio Rei Dom Carlos, o Sporting Clube da
Parada depressa se tornou no grande espaço de referência na sociedade
aristocrática do Portugal de então. Pelos seus pavilhões, onde os finais de
tarde eram passados em torno dos modernos jogos da moda, como o foot-ball,
tennis e soft-ball, circulavam as mais importantes figuras do reino. Até à
Implantação da República, o Clube da Parada viu crescer o seu prestígio, ao
ponto de Ramalho Ortigão referir que era preciso ser-se visto na Parada para se
poder ser alguém em Portugal. Em Outubro de 1888, foi também nos relvados
defronte da Parada que se realizou o primeiro jogo de futebol em Portugal,
organizado pelos irmãos Pinto Basto.
15) Escola Dom Luís I
Seguindo o projecto-tipo de Arnaldo Redondo Adães Bermudez,
a Escola Dom Luís I foi construída no princípio do Século XX utilizando uma
estrutura mista que assentava em duas salas de aulas complementadas com dois
espaços residenciais para professores. Foi inaugurada em Outubro de 1903 com a
presença da Família Real, tendo funcionado como escola até ao final do século.
16) Casa Sommer
Conjugando
referências ecléticas que misturam o apogeu do estilo romântico com um
neoclassicismo determinante na evolução da estrutura urbana de Cascais, o
imóvel adquiriu o nome do seu primeiro proprietário – Henrique de Sommer – e
foi construído em finais do Século XIX. Integrado no movimento de instalação da
corte em Cascais, acompanhando o estio da Família real durante os reinados de
Dom Luís I e de Dom Carlos I, a Casa Sommer é um excelente exemplo da
denominada ‘Arquitectura de Cenário’ que acompanhava a construção de veraneio.
17) Castelo de Cascais
Quando
em 1364 Cascais recebeu a sua Carta de Foral atribuída pelo Rei Dom Pedro, já a
Vila possuía um castelo antiquíssimo que lendariamente remontava ao período da
dominação árabe. Apesar de quase completamente destruído com o terramoto de
1755, subsistem ainda hoje alguns troços de muralha e a porta principal, junto
à qual, durante muitas gerações, se reuniam os homens-bons do Concelho, para
tomarem em conjunto as principais decisões de que a terra necessitava.
18) Palácio dos Condes da Guarda
Embora
bastante modificado, sobretudo depois das obras que o readaptaram para nele
funcionar a Câmara Municipal de Cascais, o Palácio dos Condes da Guarda é uma
das mais antigas edificações da Vila de Cascais. Construído provavelmente no
final do Século XVII, conforme o atestam os magníficos painéis de azulejos que
o decoram, o palácio resistiu à destruição que resultou do terramoto de 1755 e
mantém incólume a sua formulação tipológica ancestral. Por ocasião da
assinatura da “Convenção de Sintra” que põe fim às Invasões Napoleónicas de
Portugal do início do Século XIX, foi utilizado como quartel-general do
Almirante Inglês Cotton.
19) Palacete Seixas
Construída
na década de 20 do século passado, com projecto assinado pelo Arquitecto Norte
Júnior, o Palacete Seixas é uma moradia de aspecto acastelado que determina, de
forma evidente, a paisagem marítima de Cascais. Propriedade de Henrique Maufroy
de Seixas, um aristocrata apaixonado pelo mar, foi deixada em testamento ao
Ministério da Marinha que ali instalou a Capitania do Porto de Cascais. Ao
longo dos anos foi sujeita a várias obras de remodelação e ampliação que lhe
conferiram o aspecto que hoje apresenta.
20) Casa Maria Amália Vaz de Carvalho
Mandada
construir pelos terceiros Duques de Palmela, a casa que originalmente se
designava “Casa de D. Pedro”, foi oferecida à escritora Maria Amália Vaz de
Carvalho como tributo de homenagem pela sua obra historiográfica e genealógica
sobre o Duque de Palmela Dom Pedro de Sousa Holstein. Depois da sua morte a
propriedade passou para as mãos do seu irmão, Dr. Luiz Vaz de Carvalho Crespo,
que ali viveu até à sua morte.
21) Casa Mircea Eliade
Situada
no cimo da Rua da Saudade, nas traseiras da Igreja da Misericórdia, a Casa de
Mircea Eliade é tipologicamente um excelente exemplo da forma como evoluiu a
habitação em Cascais. Sendo originalmente uma modesta casa de pescadores,
foi-lhe posteriormente construído um primeiro andar que, aproveitando a sua
situação privilegiado em relação ao mar, lhe confere um toque aristocrático
adaptado às novas necessidades. Nesta casa viveu o escritor e investigador
romeno Mircea Eliade entre 1940 e 1944.
22) Antigo Hospital da Misericórdia
Quando
em 1587 foi criado o Hospital dos Mareantes, já a Misericórdia de Cascais
existia há praticamente 30 anos, desenvolvendo um trabalho profícuo a favor dos
pobres e desprotegidos da sociedade. A atribuição deste hospital, efectuada
pelo Rei Filipe I, serviu para reforçar a capacidade de intervenção daquela
instituição e é, na prática, o primeiro estabelecimento médico existente no
actual Concelho de Cascais.
HENRIQUES, João Aníbal, Levantamento Exaustivo do Património de Cascais, Cascais, Fundação Cascais, 2000.