quinta-feira

Pelas Casas de Cascais...



Os contornos sinuosos das ruas, marcados aqui e ali pelas formas esbeltas do casario, contrastam com a indescritível recorte das falésias e as sempre deslumbrantes cores do areal. As casas, espelhando a alma dos seus construtores e proprietários, contam sempre uma história, tornando mais marcante uma visita a Cascais. Nesta Vila de Reis e de Pescadores, a arquitectura deixa subentendidas várias formas de estar, de viver e de sentir, motivando uma variedade que não deixa indiferente quem a opta por visitar. 



Trajecto:


Comece na Estação de comboios de Cascais e siga através da Avenida Valbom até encontrar à sua direita a Villa Pérgola. Continue a descer a avenida até encontrar o Jardim Visconde da Luz. Contorne o jardim e suba a Avenida Visconde da Luz deixando à sua esquerda a Casa Pinto Basto até encontrar o edifício da EDP. Siga pelo arruamento que fica à sua esquerda e que continua a chamar-se Avenida Visconde da Luz e encontre o antigo hospital dos mareantes e a Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Porto Seguro no cimo da rua à esquerda. Siga pela Rua Padre José Maria Loureiro até à Avenida do Ultramar e vire à direita até encontrar o edifício dos SMAS. Continue pela Avenida 25 de Abril, passando o Hotel Cidadela e virando à esquerda na Rua Freitas Reis. Contorne o muro da escola primária e encontrará à sua direita, no entroncamento com a Travessa dos Bem Lembrados, a antiga fábrica de conservas. Siga pela Travessa dos Bem Lembrados e vire à direita para a Rua João Luís de Moura, que terá de subir até chegar à Rua dos Bem Lembrados. Quando aí chegar vire à esquerda e siga em direcção à Avenida Emídio Navarro. A Casa do Sol está na esquina entre os dois arruamentos. Imediatamente a seguir, na Avenida Emídio Navarro, está à sua esquerda a Casa de Sant’Anna. Continue a descer a mesma avenida e, fazendo esquina com a Rua Guilherme Gomes Fernandes, vai encontrar o Chalet Ficalho. Siga pela Rua Guilherme Gomes Fernandes e encontrará à sua esquerda a Casa de Nossa Senhora da Conceição. Em frente, no entroncamento com a Rua José Inácio Roquete, está o monumento que marca a antiga Parada de Cascais e o jardim onde o antigo clube existia. Siga pela Rua Freitas Reis no sentido ascendente e vire à direita para a Rua Gago Coutinho continuando sempre em frente até chegar à Avenida Vasco da Gama. Aí vire à direita e vai encontrar a Escola Dom Luís alguns metros abaixo no seu lado direito. Continuando pela Avenida Vasco da Gama até ao fim, encontrará a Casa Sommer que é o último edifício desse arruamento à esquerda de frente para o jardim. Vira à esquerda através do Largo da Assunção em direcção à Rua Marques Leal Pancada que deverá descer e encontrará a antiga porta do Castelo de Cascais à sua direita. Um pouco mais abaixo, já no Largo 5 de Outubro, situa-se o Palácio dos Condes da Guarda, onde actualmente funciona a Câmara Municipal de Cascais. Do lado oposto da praça, construído num promontório rochoso virado ao mar, está o Palacete Seixas e à sua frente a Casa Maria Amália Vaz de Carvalho (onde funciona a Villa Albatroz). Suba a escadaria em pedra que divide estas duas casas e dá início à Rua Fernandes Thomaz e vire à Direita para a Rua da Saudade. Encontrará à sua direita a Casa de Mircea Eliade e em frente, encostado às traseiras da Igreja da Misericórdia, o edifício do antigo Hospital.




01) Estação de Cascais

Quando foi inaugurada a linha-férrea que ligou Cascais a Pedrouços, no dia 30 de Setembro de 1889, alterou-se radicalmente a face da velha vila piscatória. A proximidade à capital e a facilidade de acesso acabou por trazer um novo equilíbrio social que marcou o período de ouro da existência de Cascais. A estação, construída no mesmo local onde existiu a antiga Igreja da Ressurreição de Cristo, destruída pelo terramoto de 1755, é um dos exemplares mais notáveis da arquitectura pública da década de 50 do Século XX.



02) Avenida Valbom

A artéria que liga a Estação de Comboios de Cascais ao Jardim Visconde da Luz foi um dos projectos mais extraordinários incluídos no plano de modernização de Cascais que o Visconde da Luz criou em finais do Século XIX para preparar a Vila para receber a Família Real e a Corte. Pensada de forma a criar uma entrada digna em Cascais, foi inaugurada com a pompa e circunstância que a Vila da Corte exigia.




03) Villa Pérgola

Depois da chegada da Família Real e da Corte a Cascais, muitos foram os aristocratas lisboetas que se sentiram obrigados ter uma casa de veraneio neste aprazível recanto. A Villa Pérgola, edificada no final do Século XIX, é um dos exemplares emblemáticos desse período, aproveitando o fluxo de visitantes que a condição Real conferia à Vila de Cascais.




04) Jardim Visconde da Luz

O Jardim Visconde da Luz, na sua apresentação actual, foi inaugurado em 1984 depois da grandes destruição imposta pelas cheias do ano anterior. O local, onde originalmente se situava a Fábrica de Conservas de Cascais, foi projectado pelo Visconde da Luz de forma a dotar a vila das condições necessárias para receber o Rei Dom Luís I e a Corte durante o período estival. É de salientar, por ter feito parte do projecto original, a fonte romântica situada na parede virada para a Rua Visconde da Luz, a Fonte Filipina situada no centro da praça e a estátua em honra dos Combatentes da Grande Guerra.




05) Casa Pinto Basto

Situada sensivelmente a meio da Rua Visconde da Luz, por detrás do jardim com o mesmo nome, a Casa Pinto Basto é um dos melhores exemplares da arquitectura tradicional Cascalense. Embora não se conheça a sua origem, é provavelmente uma das mais antigas edificações da vila, antecedendo a chegada da corte no Século XIX e o fulgor construtivo que se lhe seguiu. Mantendo a sua características rurais, deverá ter feito parte da estrutura agrícola de Cascais dos Séculos XVIII e e do início do XIX.




07) Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Porto Seguro

Originalmente integrada na antiga Gafaria de Cascais, espécie de centro hospitalar de acolhimento de doentes leprosos, a Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Porto Seguro é um edifício do início do Século XVII. Situada nos arrabaldes da vila, num lugar chamado Vista Alegre, oferecia apoio espiritual aos doentes que eram afastados do resto da sociedade.




08) Antigo Hospital dos Condes de Castro Guimarães de Cascais

O edifício original foi inaugurado em 1940, depois de ter sido construído de raiz com o apoio de uma verba legada pelos Condes de Castro Guimarães, num terreno oferecido à Santa Casa da Misericórdia de Cascais por Henrique Marques Leal Pancada. Em 1973-1974 foi totalmente reformulado e reequipado pelo Provedor Joaquim Baraona, adquirindo a forma que hoje apresenta. Deixou de funcionar em Março de 2010. 

09) Fábrica das Conservas de Cascais

Sendo um dos poucos exemplares de arquitectura industrial que subsistem na Vila de Cascais, a antiga Fábrica de Conservas foi construída pelo Engº. Abreu Nunes no início do Século XX e perpetua a memória da ligação ancestral que esta terra possuía com a indústria conserveira. O seu proprietário, empreendedor de destaque no Cascais de então, foi também um dos primeiros promotores turísticos da região e o grande responsável pela criação da então Junta de Turismo da Costa do Estoril.



10) Casa do Sol / Bem Lembrados

Tendo sido originalmente um anexo da Casa de Sant’Anna, a Casa do Sol contou com a traça do Arquitecto Raul Lino e foi construída na década de 40 do Século XX. Foi também, até à sua morte no ano 2000, a residência do grande escritor Cascalense Pedro Falcão (D. Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cotta Falcão de Menezes), que ali produziu algumas das suas mais importantes obras literárias e artísticas.



11) Casa de Sant’Anna

Construída em 1931 por D. Ana Maria Burnay Soares Cardoso Aranha, a Casa de Sant’Anna é um dos melhores e mais representativos projectos do Mestre Raul Lino na Vila de Cascais. Inserindo-se na tipologia da denominada “Casa Portuguesa”, foi edificada por José Vilar (Mestre Tapisso) e integra grande parte dos valores estéticos que dão forma à corrente construtiva daquela época. São de salientar os beirados tradicionais, os cortes dos telhados, os terraços, as janelas e os alpendres.



12) Chalet Ficalho

Construída em 1897, com projecto do Arquitecto Manuel Ferreira dos Santos, Chalet Ficalho é uma interessante construção de matiz romântica que utiliza os valores estéticos do movimento romântico Português. Integrando um aspecto acastelado, com os seus muros e paredes forrados a pedra solta, o Chalet Ficalho foi construído por António Máximo da Costa e Silva para a sua filha D. Helena Mello da Costa que, sofrendo de problemas respiratórios, foi aconselhada pelos médicos a vir a banhos para Cascais.


 

13) Casal de Nossa Senhora da Conceição

Inserida no denominado ‘Estilo Português’, o Casal de Nossa Senhora da Conceição foi construído entre 1917 e 1920 por D. Francisco Lobo de Almeida Mello e Castro de Avillez. Situada defronte da antiga parada, foi projectada pelo conceituado Arquitecto Guilherme Gomes e construída pelo Mestre Alfredo de Figueiredo.




14) Parada

Inaugurado em 15 de Outubro de 1879 pelo próprio Rei Dom Carlos, o Sporting Clube da Parada depressa se tornou no grande espaço de referência na sociedade aristocrática do Portugal de então. Pelos seus pavilhões, onde os finais de tarde eram passados em torno dos modernos jogos da moda, como o foot-ball, tennis e soft-ball, circulavam as mais importantes figuras do reino. Até à Implantação da República, o Clube da Parada viu crescer o seu prestígio, ao ponto de Ramalho Ortigão referir que era preciso ser-se visto na Parada para se poder ser alguém em Portugal. Em Outubro de 1888, foi também nos relvados defronte da Parada que se realizou o primeiro jogo de futebol em Portugal, organizado pelos irmãos Pinto Basto.



15) Escola Dom Luís I

Seguindo o projecto-tipo de Arnaldo Redondo Adães Bermudez, a Escola Dom Luís I foi construída no princípio do Século XX utilizando uma estrutura mista que assentava em duas salas de aulas complementadas com dois espaços residenciais para professores. Foi inaugurada em Outubro de 1903 com a presença da Família Real, tendo funcionado como escola até ao final do século.



16) Casa Sommer

Conjugando referências ecléticas que misturam o apogeu do estilo romântico com um neoclassicismo determinante na evolução da estrutura urbana de Cascais, o imóvel adquiriu o nome do seu primeiro proprietário – Henrique de Sommer – e foi construído em finais do Século XIX. Integrado no movimento de instalação da corte em Cascais, acompanhando o estio da Família real durante os reinados de Dom Luís I e de Dom Carlos I, a Casa Sommer é um excelente exemplo da denominada ‘Arquitectura de Cenário’ que acompanhava a construção de veraneio.




17) Castelo de Cascais

Quando em 1364 Cascais recebeu a sua Carta de Foral atribuída pelo Rei Dom Pedro, já a Vila possuía um castelo antiquíssimo que lendariamente remontava ao período da dominação árabe. Apesar de quase completamente destruído com o terramoto de 1755, subsistem ainda hoje alguns troços de muralha e a porta principal, junto à qual, durante muitas gerações, se reuniam os homens-bons do Concelho, para tomarem em conjunto as principais decisões de que a terra necessitava.



18) Palácio dos Condes da Guarda

Embora bastante modificado, sobretudo depois das obras que o readaptaram para nele funcionar a Câmara Municipal de Cascais, o Palácio dos Condes da Guarda é uma das mais antigas edificações da Vila de Cascais. Construído provavelmente no final do Século XVII, conforme o atestam os magníficos painéis de azulejos que o decoram, o palácio resistiu à destruição que resultou do terramoto de 1755 e mantém incólume a sua formulação tipológica ancestral. Por ocasião da assinatura da “Convenção de Sintra” que põe fim às Invasões Napoleónicas de Portugal do início do Século XIX, foi utilizado como quartel-general do Almirante Inglês Cotton.


19) Palacete Seixas

Construída na década de 20 do século passado, com projecto assinado pelo Arquitecto Norte Júnior, o Palacete Seixas é uma moradia de aspecto acastelado que determina, de forma evidente, a paisagem marítima de Cascais. Propriedade de Henrique Maufroy de Seixas, um aristocrata apaixonado pelo mar, foi deixada em testamento ao Ministério da Marinha que ali instalou a Capitania do Porto de Cascais. Ao longo dos anos foi sujeita a várias obras de remodelação e ampliação que lhe conferiram o aspecto que hoje apresenta.



20) Casa Maria Amália Vaz de Carvalho

Mandada construir pelos terceiros Duques de Palmela, a casa que originalmente se designava “Casa de D. Pedro”, foi oferecida à escritora Maria Amália Vaz de Carvalho como tributo de homenagem pela sua obra historiográfica e genealógica sobre o Duque de Palmela Dom Pedro de Sousa Holstein. Depois da sua morte a propriedade passou para as mãos do seu irmão, Dr. Luiz Vaz de Carvalho Crespo, que ali viveu até à sua morte.




21) Casa Mircea Eliade

Situada no cimo da Rua da Saudade, nas traseiras da Igreja da Misericórdia, a Casa de Mircea Eliade é tipologicamente um excelente exemplo da forma como evoluiu a habitação em Cascais. Sendo originalmente uma modesta casa de pescadores, foi-lhe posteriormente construído um primeiro andar que, aproveitando a sua situação privilegiado em relação ao mar, lhe confere um toque aristocrático adaptado às novas necessidades. Nesta casa viveu o escritor e investigador romeno Mircea Eliade entre 1940 e 1944.




22) Antigo Hospital da Misericórdia

Quando em 1587 foi criado o Hospital dos Mareantes, já a Misericórdia de Cascais existia há praticamente 30 anos, desenvolvendo um trabalho profícuo a favor dos pobres e desprotegidos da sociedade. A atribuição deste hospital, efectuada pelo Rei Filipe I, serviu para reforçar a capacidade de intervenção daquela instituição e é, na prática, o primeiro estabelecimento médico existente no actual Concelho de Cascais. 

HENRIQUES, João Aníbal, Levantamento Exaustivo do Património de Cascais, Cascais, Fundação Cascais, 2000.